A conjectura de Syracuse
Se
eu lhe contasse
o
que ocorreu hoje
Você
acreditaria?
Meu pai esteve comigo hoje
e disse: “Muito bem filha”
Se
eu lhe contasse que acordei cedo
em pleno domingo
Morrendo de sono
Ainda
com os olhos
cheios de remela
do ontem mal vivido
Se eu lhe contasse que ainda nem eram oito horas
e meu pai chegou com uma serra
a melhor
de sua mala de ferragens e disse:
“Veja como se faz”
Eu ainda tentei
mas não sei
quando dei por mim
já estava aberto
e não houve barulho de serra alguma
Se
eu lhe contasse que não tive medo
e entrei no terreno que me foi dado
e tirei os entulhos
podei as plantas
enquanto compreendia as mãos
sujas de terra do meu pai
Se eu te contasse
que quando a escada
que coloquei no tronco da árvore
virou e eu em cima com uma enorme tesoura
senti quando a mão do meu pai me puxou
e me jogou para o outro lado
o lado seguro
Minha filha correu e eu
Ouvi a sua voz dizendo:
“Agora chega”
Não! Ainda não era hora
Se
eu te contasse
como compreendi
que tendo perdido meus entes queridos
agora despertos do sono
em uma recompensa tardia
De uma outra existência
em que Deus seria afinal justo
depois de ter sido feroz
Não lhe contei?
Contei sim
Você não ouviu
tentei falar
quando por fim você tirou o telefone do gancho
para nunca mais ouvir
E eu ainda insisti e te acordei
E te
acordei de manhãzinha
Para
te contar
E você não ouviu
Preferiu tentar provar a conjectura de Syracuse
Te
contei sobre a porta
sim, te contei
Você não ouviu
Sim,
Há uma porta nessa vida
Sempre poderemos abri-la
e passar para o outro lado
Te contei que agora caminho
De
alma livre
e coração tranquilo
E nada mais tenho a temer
Pois
atrás de mim
há sempre uma porta
que nem os demônios sonhados
podem fechar
MlailinLEÃO
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