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Mostrando postagens de janeiro, 2011

Escape ( Piano Theme ) - Philip Glass

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TERRA DESOLADA

Tive tempo apenas de correr para fora de onde vi toda a destruição. Nos dois quartos da casa ficaram meu pai, minha mãe e meus irmãos. Tão logo amanheceu os bombeiros empreenderam tentativas para liberta-los dos escombros em tentativas inúteis. Era impossível retirar tão rapidamente a lama, de modo que se pudesse libertar os soterrados ainda com vida. Ninguém iria conseguir desfazer o que estava feito. Uma chuva fina e constante caia do céu cinzento molhando o meu rosto. Tanto sacrifício destruído em segundos. Em dezembro ficamos todos envolvidos com a reforma da casa para ficar mais bonita para o ano novo. Agora quando olho para ela só vejo o telhado, muita lama e corpos soterrados. Soterrados. Soterrados. Dentro de uma casa destruída. Pedras enormes, vigas rachadas e a lama cobrem o local. Ouvi alguém dizendo: “A coisa tá séria. Se as pedras também foram deslocadas, vai ser difícil encontrar alguém com vida ali”. Amanhã de manhã meus pais deveriam estar viajando para Cur

Aquecimento Global: O que você vai fazer?

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A NOITE DO GENERAL

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Para: Yuri Costa            Aconteceu na noite do apagão. Havia embarcado no trem das 22 e 20m, na estação Barra Funda. Estava cansada e com muito sono. A fluoxetina estava perdendo seu efeito e tudo se tornava muito nítido, dolorido e cruel. Olhava para as fisionomias dos passageiros. Rostos cansados, pele suada, um calor insuportável. O pior de tudo são os esmolentos. Como se não bastasse aturar uma vida estressante temos que ouvir essa ladainha. Que força nos move a enfrentar isso todos os dias? Perseverança e paciência em esperar um mundo melhor. Então pensei: só vou fechar os olhos e minha mente irá continuar ouvindo as pessoas que conversam do meu lado; o vendedor de chocolate o barulho do trem e a voz do maquinista anunciando as paradas... Uma vez isso já tinha acontecido e meu pensamento não foi maior que meu cansaço. Mas iria tentar novamente e novamente apaguei. Acordei com a voz de um vendedor de cerveja e pela porta que se abria. Li o nome da estação: Miguel Costa. Dua

A BANCA

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“Hoje entendo por que alguém carrega junto a si, durante tantos anos, a descrição de uma morte”. Para Leão, meu pai:           A banca do meu pai não estava mais lá na sexta quando passei indo pegar o trem.           Observei que havia um buraco no lugar e ao lado concreto destruídos. Olhando de longe parecia a cratera de uma guerra.           A prefeitura havia dito que iria tirá-la dali então pensei: tiraram-na dali. Com um único agravante: fizeram isso como uns animais. Como bichos, fizeram isso a sangue frio, homens seriam cautelosos, porque saberiam que estariam agindo de igual para igual, com gente como a gente, porque teriam vergonha de fazerem um mal para um homem que há mais de quarenta anos ganhou a vida honestamente concertando panelas de pressão, vendendo martelo e empenadeiras e metros para os trabalhadores da madrugada, alguém que sempre pagou os seus impostos e procurou viver honestamente.           Foi na presença de todos que estavam po

PALAVRAS

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É um prazer puramente egoísta “Gostaria de saber”, disse para si mesmo, “o que se passa dentro de um livro quando ele está fechado. É claro que lá dentro só há letras impressas em papel, mas apesar disso, deve acontecer alguma coisa, porque quando abro, existe ali uma história completa. Lá dentro há pessoas que ainda não conheço e toda a espécie de aventuras, feitos e combates e muitas vezes há tempestades no mar, ou alguém vai a países e cidades exóticas. Tudo isso, de algum modo, está dentro do livro. É preciso lê-lo para se saber é claro. Mas antes disso, já esta lá dentro. Gostaria de saber como...” – (Extraído do livro A história sem fim de Michael Ende) A realidade não é apenas o que o olho vê E não somente o que o ouvido escuta E o que a mão pode tocar Mas também o que se esconde do olho E do toque dos dedos   E se revela às vezes, só por um momento, para quem procura com os olhos do espírito.   E para quem sabe ficar atento E ouvir com os ouvidos da alma

O BARATO DO CARBOIDRATO E DA GORDURA

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COMIDA VICIA?

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O que ele escuta Sai de dentro da geladeira! Desliga a TV e vai fazer alguma coisa Come devagar! Tá parecendo seu tio Gabriel Anda logo! Seu mole Gordo, gordão! Parece um balão! Olha só o tamanho da sua barriga! Refrigerante? Bebe água Você comeu toda a bolacha da sua irmã? Daqui a pouco você vai ter de usar sutiã Batata frita? Você tá louco? Pode comer. Mas só um pedacinho Com fome? Não faz nem uma hora que você almoçou O que você está comendo escondido? Abre a boca... Seu... Você ouviu o que a médica disse? Não lembra? Vou repetir: Se você tiver uma crise de bronquite, com a gordura que você está, irá parar na UTI. Sabe o que acontece com a maioria das pessoas que entram numa UTI? Não? Elas saem de lá deitadas em um caixão com cravos amarelos. Mac Donalds?   Até parece. Vou te levar é para um bom psiquiatra. Andou só duas quadras e olha pra você, veja seus olhos saltando pra fora mal conseguindo respirar. O que você vai fazer a respeito?

LAURA E O MAR

O MAR

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“Vai deslizando, ó tu, oceano profundo e azul – vai deslizando! Dez mil frotas te singram em vão; O homem marca a terra com a ruína – seu controle cessa na praia” – (Lorde Byron) O controle do homem não cessa mais na praia. Ele deixou a sua marca no mar, uma marca feia. Repulsiva. Como ondas do mar lançam a lama e a sujeira de seus excessos. Espumam seus próprios atos vergonhosos, e os lançam a vista de todos. Esquecem que os oceanos são uma chave para a vida desse planeta. Aos cinco anos Laura viu o mar pela primeira vez. O que ela poderia dizer sobre o mar? O que ela poderia dizer está no vídeo logo abaixo. O que eu poderia escrever a respeito? Procurei na minha memória visões, depoimentos, vivências... Pensei em Carlos Drumond de Andrade em Copacabana vendo o mar... O mar de Rubem Braga... O mar que trouxe Neruda ao Chile e depois o deixou na costa, e o oceano o golpeava com espumas e o vento negro de Valparaíso o enchia de sal sonoro... Agora... Encontrei um mar desaparecend

MORTE

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MORTE

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“Morte, onde está a tua vitória? Neusa subia todas as tardes à rua com destino a sua casa de dois cômodos localizada no fundo da Cacilda com Alice. É uma rua bem íngreme que dá de frente com a igreja amarela, uma rua antes de chegar ao escadão. Quem mora no bairro do pacaembuzinho em Carapicuíba sabe do que eu estou falando. Quando passava pela Cacilda costumava cumprimentar os conhecidos com a cabeça sempre baixa, em sussurro um tanto tímido, um tanto envergonhado. Estava sempre vestida com roupas simples, sandália de dedos, pés empoeirados e rachados. Não era bonita, pelo contrário, lembrava o personagem quasímodo. Devido a sua feiura dava pra contar nos dedos às pessoas que gostavam realmente dela. Os que se achavam diziam: - Que nem uma mendiga! Morava só numa humilde casa de dois cômodos. Tinha dois trabalhos que a ajudava tanto física quanto espiritual. No período da tarde trabalhava de panfletagem para se manter, para comer, para pagar o imposto há anos atrasado e para n

OBITUÁRIO

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Blowing in the wind . Katie Melua

E SE TODOS OS DIAS FOSSEM LIVROS

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  Eu seria uma palavra Sonhar... Pode ser agradável, mas isso não substitui a realidade. Vaidade... É aquele que pensa que só ele tem algo de bom a dizer     Preconceito... A primavera produz flores vermelhas, rosas e às vezes brancas. No entanto, todas elas pertencem à mesma família Acontece o mesmo com as pessoas. Amigos... Telefone, escreva, convide à sua casa, tenha um intercâmbio de ideias . Felicidade... Não é encontrada nas lojas, numa garrafa, num comprimido, numa seringa, ou numa conta bancária. Otimismo... Esperança.   Viver... Um dia por vez. Por que acrescentar as ansiedades de amanhã às de hoje? Frustração... Desejar intensamente coisas além das possibilidades Humildade... As crianças gostavam muito de se achegar a Jesus. Por quê? Porque era de temperamento brando e humilde de coração. Ressentimento... Tomar veneno e esperar que o outro morra Amargura ... É a ferrugem que lentamente corrói a lataria de um carro. Por fora o carro talvez pareça bonito, mas sob a pintura

ESTRELITZIAS

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“Não há nada melhor do que alegrar-se e fazer o bem durante a sua vida”                                                            Salomão                       Eram mais ou menos 5 horas da tarde. Vinha da Liberdade, caminhava em direção a Rua Afonso de Freitas. Depois de passar por duas linhas de metrô, São Joaquim e Vergueiro, já não aguentando mais, sentindo um calo se formando em meus pés, sentei no banco da praça próximo ao metrô Paraíso. Fazia uma massagem em meus pés quando uma garota de uns seis anos se aproximou e disse:           - Oi dona! Eu estou com fome a senhora tem um trocado? - Fiquei olhando para ela que permanecia parada em silêncio, pois não havia nada a dizer. Reparei que mais adiante havia outras pessoas e algo que parecia ser um acampamento. Não pareciam ser ciganos, eram os sem tetos, que vivem espalhados como praga por essa cidade.   Não gostaria de ter contato com essa gente. Só fazem sujeiras e enfeiam a cidade. Imaginem o terror que é descer na estação S

MEGANETOS 2