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Mostrando postagens de dezembro, 2010

pela luz vinda de ti podemos ver a luz

"A PRIMAVERA ABANDONOU O ANO"

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                               Quando Crizeida entrou em minha casa, juntamente com minha filha, as duas com lágrimas nos olhos, não imaginava que desse dia em diante só restariam quatro dias de vida para minha mãe. Crizeida sentou-se no sofá que estava na minha frente e começou a falar da urgência que havia em que eu fosse para perto dela e que falasse alguma coisa, que a ajudasse de alguma forma. Eu disse que não podia que não queria compartilhar essa dor, vê-la definhar, ouvir seus gritos. Que arrumasse outra para colocar os pés naquele mundo vil. Que não suportava esse modo bárbaro de morrer. Depois que foram embora umoutro lado meu aflorou. Esmurrando a parede do banheiro enquanto as lágrimas caiam eu dizia NÃO. NÃO. Eu não iria.  Naquela noite eu sonhei. Sonhei que fui até a sua casa, subi até o seu quarto. Desci lentamente as escadas com ela em meu colo. Coloquei-a no carro e descemos a serra até o mar. Ficamos lá o restante da noite observando a testemunha fiel no céu. Segurav

MOMENTOS

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MEGANETOS

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A DIFICIL ARTE DE AMAR

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“A lealdade é uma virtude muito mais elogiada do que praticada” Andressa:           Tenho visto pela minha janela você passando pela rua. Fiquei sabendo que esta sozinha. Houve uma traição e uma separação. Fui uma testemunha do seu namoro, noivado e casamento. Sei que esta passando maus bocados. Dizer para você que isso passa, talvez seja o que todo mundo diz. Sim, isso passa, mas será que dizem que demora um bocado?   Parece que não tem fim a angústia do abandono. Não gostaria de estar no seu lugar. Aliás, nunca mais quero estar nesse lugar. Falar é fácil...           Palavras não adiantam quando tudo o que desejamos é ter a pessoa amada do nosso lado. Gostaria de dizer só uma coisa: A lealdade baseia-se no amor. A lealdade vai além da fidelidade, ou da confiabilidade. Alguém pode ser fiel apenas, por senso de dever. Em contraste com isso , a lealdade baseia-se no AMOR . E o amor nunca falha. Fiel também pode ser usada para descrever coisas inanimadas. Por exemplo, a lua é conhecida c

A DIFICIL ARTE DE AMAR - ESCUTE

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PROCURO MEU PAI - PARA LER ESCUTANDO

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A bolsa amarela

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Para a dona da bolsa amarela Ontem à noite encontrei no banco do metrô uma bolsa. É uma bolsa que as mulheres usam a tiracolo. É quadrada tem dois bolsos na frente, não tem zíper, mas um enorme botão. O trem havia chegado à estação Anhangabaú, só mais esta estação e eu estaria na Sé. Estava muito cansada, o sono era mais forte do que eu. Sabendo que não podia dormir, pois corria o risco de ir parar em outro destino, disse a mim mesma: “Você só vai fechar os olhos”. Não somente fechei os olhos, como capotei. Acordei no terminal Corinthians/Itaquera com um jovem sacudindo meus ombros e dizendo: “Moça, moça”. Sonolenta sem saber onde estava, disse obrigada, peguei minhas sacolas e bolsas e sai apressadamente com o apito do trem e o fechamento da porta atrás de mim. Enquanto subia as escadas rolantes fui me certificando se havia pegado tudo. Comecei a contar. Uma, duas, três, quatro! Quatro? Essa não é minha. Se não é de quem é? Alguém deve ter saído e esquecido a bolsa próximo das minhas

meganeta

MISSING

     “Procuro nas nuvens o seu sorriso. Soube que é seu último rastro...”           O sentimento de perda debilitou-me. Passei a noite toda pensando onde encontra-lo.           - Onde? Onde quiser – Digo a mim mesma enquanto olho nuvens negras se formando.           - Carlos! – Quando pronunciava em meu íntimo o seu nome, um meigo olhar, envolto nas dobras de uma manta, e um sorriso lindo nos lábios brilhou diante de mim, e logo depois desapareceu como um fogo fugaz pela esquina da Praça Oswaldo Cruz.           - Carlos! – Voltei a chamar enquanto entrava na Casa das Rosas.           Precisava entrar na biblioteca. Um lugar silencioso. Sentir palpável e viva a lembrança que desde a véspera flutuava em meu pensamento. A sua imagem perturbou-me com uma persistência estranha.           - Por quê? – Perguntei-me. O desejo de justificar-me apoderava-se de mim; um desejo confuso a princípio, logo mais claro, mais agudo e vivo. E resolvi juntar as peças para assim entender esse sentimento

Um imenso espaço nos separa

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“Podemos fugir de tudo – menos do coração”           A grande sala está agora praticamente vazia. A maioria dos móveis foram vendidos em um leilão. Nela, agora se encontram uma estante de madeira antiga e velhos livros. Alguns quadros continuam na parede. Fotos de Esther jovem e fotos dos filhos. Na mesa da sala um vaso com flores amarelas. Um sofá grande e confortável está próximo a enorme janela da sala. É nele que deito para meditar um pouco e olhar um pedaço de lua que se forma.  Durante o dia o telefone tocou desesperadamente. Alguém precisava urgentemente falar. Talvez você. Ou é melhor nem pensar nisso?           Á noite esta quente e silenciosa. Apenas o barulho de passos no corredor e o elevador que sobe e desce e nada mais. Esther me chama e pergunta com as pálpebras grudadas pelo sono se já não é tempo de morrer. Sinto vontade de dizer a ela: Sim, Esther já é tempo de morrer.Ninguém mais está pronto a se sacrificar por ela. Seus amigos, seus filhos são apenas

Próxima parada

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“Reparem bem em mim: Se estou virada para a direita, voltei- me agora para a esquerda”. Audrey é meu nome. Moro em Carapicuíba desde 1980 ano em que nasci. Tenho esse nome americano porque na época em que minha mãe estava grávida enquanto ela esperava meu pai chegar do trabalho ela assistia uma série de bang-bang de nome big-valley e o nome da mocinha era Audrey. Isso segundo as recordações dela que não são muito confiáveis. Eu agora estou na estação esperando o trem que me levara até o meu trabalho. São quase 06h20min da manhã e os trens estão atrasados como de costume. Sentada na ponta, quer dizer, espremida na ponta de um banco com mais outras nove pessoas, num banco que caberia cinco, abro um livro e tento dizer a mim mesma: Você não esta aqui... Você não está nervosa... Você não vai se atrasar e se isso acontecer à patroa vai entender, porque ela é humana demasiadamente humana. Li isso num livro de filosofia que minha mãe insiste que eu leia. Assim tentava me convencer e fic

Joan Baez - The Ballad of Sacco and Vanzetti

ENVELHECER

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Comecei a perceber que estava ficando velha quando no metrô um jovem levantou do banco azul que estava sentado e pediu que eu sentasse nele. Fiquei sem graça, mas obedeci. Que vergonha! Todos estavam olhando.  É bom quando um cavalheiro levanta para dar lugar para uma dama, mas não para uma idosa. E principalmente uma que ainda não tomou conhecimento desse fato. O espelho ainda não disse nada a esse respeito. Ou fez isso e eu não vi? Abri um livro e coloquei no meu nariz não olhando mais pra cara de ninguém. Estava indignada.           Tem coisas que não podemos ir contra, principalmente contra o tempo. Dizem que o tempo é implacável. Implacável pra alguns. Jane Fonda e Rachel Welch juntas somam a idade de 142 anos, ou seja, 72 uma e 70 outra, mas aparentam ter 40 nunca 50. E a Suzana Vieira? O que é aquilo?   Cheguei à conclusão de que o dinheiro não só compra a felicidade como também o tempo. Ouvi dizer que não é educado dizer “velho”, mas sim idoso. Pra mim tanto faz. Po

O LEITOR

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RESILIÊNCIA

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  "Para viver nesse mundo em que vivemos é preciso ser forte"              A primeira vez que senti a veracidade dessa frase foi quando ao vivo e a cores vi as torres gêmeas caírem. A segunda vez por pouco não suportei tamanha covardia cometida contra as crianças de Beslan. Depois de segundo a segundo minha pressão foi ficando acima do limite diante de atos chocantes praticados por pessoas aparentemente comuns de nossa vizinhança. Os casos: João Hélio, Vinicius, Isabela, Mércia, Elisa... Com o tempo fui procurando alternativas para fugir da crueldade ao ponto de assinar uma TV paga e daquele dia em diante a única coisa que me sintonizava vagamente com o mundo era David Letterman.           Quando imaginava que havia construído trincheiras seguras, uma voz vinda da radio USP disse: "Após dez meses, agredido com o taco de beisebol morre". Era sábado dia 23 de outubro de 2010. Estava passando pelo corredor em direção à sala, ia tirar o pó dos