A menina com paralisia infantil deixada em Arouca

 


Jéssie nasceu na Holanda. Em 2020, no pico do covid sua mãe a retirou de sua cidade de nascimento, juntamente com outra mulher que  foi treinada a dizer ser a babá da menina,  atravessou fronteiras,  mentiu para policiais de fronteiras e chegou em Portugal escolhendo uma cidade perdida na mata depois de São João da Madeira de nome Arouca e ali começou a dar continuidade a um plano, cujo objetivo era trazer brasileiros e brasileiras para dar entrada em documentos e os mesmos trabalhariam para si. A mãe e um cúmplice, seu gerente eram os mentores. Se seriam escravizados para trabalhos laborais ou trabalhos sexuais nunca soube. Mas era muito estranho aquela garota de 24 anos em uma cidade quase uma aldeia longe da mãe, sendo cuidado por um homem sem parentesco algum com a garota, com duas cuidadoras que se revezavam em horários. Longe da mãe e das irmãs, tendo como tutor alguém que se auto intitulava gerente da "empresa". Que empresa? 

Desde o nascimento o governo da Holanda a mantinha com uma pensão e com um aparato para que a menina tivesse o apoio necessário, mas que a mãe não cumpria com as regras exigidas. Tanto fez para atingir seus objetivos de querer mais que retirou a garota do local onde ela estava sendo assessorada para um local desconhecido da segurança social do país em que nasceu, veio para Arouca um local de caipiras de gente da plantação, um bom esconderijo em que se ia entendendo aos poucos em pouquíssimo tempo, menos de um mês, uma trama obscura e diabólica. Era algo aparentemente acima de qualquer suspeita, uma menina em uma terra aparentemente sem lei, sem mãe que segundo diziam viria visitá-la nas férias. A mãe alugou uma casa, e ali a menina ficou com o gerente, duas cuidadoras e mais uma mulher de nome Dora, que até um namorado holandês arrumou. Dora já tinha estado na Holanda em seu período de turista e agora estava ali em Portugal no Porto, para dar entrada em sua documentação ou seu titulo de residência, segundo dizia, mostrando o telefone (celular) ultima geração presente do holandês e a vida maravilhosa que iria ter. Sentia nojo daquela mulher já velha agindo como uma adolescente, sonhadora por bens matérias e uma vida europeia de luxos. Pobre Jessie, pobre menina, o que ela entendia sobre sua vida? Tinha os olhos atentos e muitas vezes parava naquilo que você dizia. Como se entendesse. As vezes chorava. 


Veio de furgão ou uma carrinha, com somente uma paragem na Espanha, para pernoitarem, e com um atestado, uma prova, um álibi, de que a menina viria passar pelo médico em Portugal, coisa que nunca aconteceu. Não da forma correta mas sim pela lei de Gerson e por meios maquiavélicos onde os fins justificam os meios.  Não preciso muito dizer dos objetivos da mãe em montar uma casa com uma inocente dentro. Seria algo acima de qualquer suspeita. Seria? A garota em 2020 tinha 24 anos, totalmente dependente, não andava, não falava, mexia com os olhos e fazia alguns sons com a boca de resto dependia totalmente de outros. Tinha uma belíssima cadeira de rodas e logo chegaria o elevador que a movimentaria da sala até a cadeira de rodas por intermédio de uma rede. Tudo dado pelo governo holandês. O governo  dava a essa garota nascida na Holanda uma boa pensão para que fosse cuidada, embora o dinheiro não estivesse sendo usado de forma correta. A menina estava na escola holandesa, mas foi tirada porque a mãe disse que não cuidavam dela de forma correta. A menina-moça deveria ter um neurologista, fisioterapeuta, fonoaudiólogo, assistente social, professores especiais, terapeuta ocupacional, psicólogo e ali via-se que vivia como se estivesse em um esconderijo, como se fosse a pedra fundamental de uma formação do que mesmo é o que me foge a palavra certa ou talvez tenha um certo receio de entrar em detalhes mais fundo pois eu não cheguei a saber o final real da história e para onde foi a menina, espero que tenha voltado para a Holanda e tenha encontrado os cuidados que realmente merece pois esta incapacitada de decidir sobre sua vida.  A menina tem uma alimentação horrível, esta acostumada a ela, e agora a mãe de longe dá ordens em coisas que nunca fez pessoalmente. Se tivesse feito da forma exigida seria hoje um habito. Queria ordenar as cuidadoras, como se fossem capaz de mudar algo em alguém já tão acostumada a fechar a boca e só abrir quando vê algo que lhe agrada. Não bebe água e nem suco natural. Bebe sucos químicos em caixas compradas no mercado. Na hora de dar o suco ela escolhe qual, quando levamos até ela e ela dá um resmungo em sim e torce os lábios em caso de não. Tem dias que não quer nenhum e escolhe coca-cola que não pode dar mas sempre tem uma no frigorifico. Comida não aceita, nem arroz ou feijão. Toma sopa. Gosta de frituras. Batatas fritas, nuggets. O estomago dela é enorme. 


Orientações da mãe:

De manhã  dar um bom dia e nada de conversa

Entrou trocar fralda, não dorme de meia. Deixar a fralda por baixo enquanto tira a suja. Virar o corpo com a fralda em baixo ao trocar, não dobrar as pernas

Levantar a cama para tomar o iogurte com forlax.  se não tomar dar mais tarde

Ficar sempre na frente dela para ela ver quem é. Pela manhã ela não gosta de conversa. Dois pãezinhos pela manhã. 

Hora do banho: Sudocrem, desodorante, creme de jour para o rosto. Intensive, aloe vera para massagear o corpo , gel de banho (coloca na água). Roupa: sempre uma camiseta de alça e outra por cima, calça moleton... etc, etc...

A relação do banho e os afazeres até o café levavam quase uma hora. Cabelo lavado na cama. tudo feito com a menina deitada



A garota usava uma bomba intratecal com Boclofeno. Essa bomba é introduzida na barriga do lado direito porque ela é subcutânea. Não é junto dos órgãos, fica abaixo da pele. A bomba é o recipiente que leva o medicamento. Dura seis meses. A reposição é colocada com uma seringa, muito melhor que em comprimidos. O bocofleno é utilizado para acabar com o espasmo e relaxar a musculatura. Espasticidade é quando o musculo perde a capacidade de relaxar e estão constantemente retraído, gera desconforto e dor dificulta o cuidado e o cuidado do cuidador. A bomba possui uma vantagem de 80% O músculo tem uma via que leva informação ao cérebro e o cérebro tem outra via que leva informação ao musculo.


O gerente e mais dois, um jovem e uma senhora de mais de 50 anos todos brasileiros  esperavam as coordenadas para poderem sair de PT para Holanda, já tinham tentado ir de avião mas foram barrados devido o covid, embora estivessem indo preparados com uma mentira que não foi aceita ou não colou. O gerente ao telefone não se importava em falar o novo plano em voz alta, afinal ele estava rodeado de caipiras, trabalhadores do campo, esquecia somente da cuidadora, ao lado da menina com o ouvido atento e a mente em alerta vermelho. 
Dizia ele: "Daqui á pouco a mamãe deixa tudo resolvido" (ria muito) Agora entendia o porque do nome Mammie no wattzapp. O plano era irem de carrinha com um motorista que costumava levar encomendas pela europa. Dora seguiria como secretária e Lincoln como ajudante. O deposito do valor do plano de 520 euros caiu na quinta e foi feito através do banco millenium. Falava tudo isso  por telefone com a mammie, dizia ele que visualizava um "grande negócio". Um negócio cinco estrelas. Nós não saíremos no sábado, saímos no domingo. Nós estamos atirando para tudo quanto é lado. Sigilo total ninguém tá sabendo, tudo em sigilo. Falei para a Dora não falar nada. Finalizava

Mal sabia ele que a Dora já tinha contado tudo um dia em que foi ao Porto comigo, contou como entrou em Portugal, Contou da viagem sem parada da Holanda até Portugal, sobre as mentiras contadas pela mãe nas fronteiras e a menina servindo de álibi, em sua cadeira de rodas. E que nenhuma vez a mãe parou para trocar as fraudas da garota. Apesar do receio e do medo entraram facilmente no país. Segundo Dora ela iria trabalhar na Holanda, mas o que mais estava envolvido nesse trabalhar nunca soube. A única coisa que Dora pedia era que nunca tocasse em assunto nenhum na frente dele, o gerente, e que representássemos que não éramos amigas. Câmaras de vigilância estavam espalhadas pela casa e eram monitoradas pela mãe na Holanda e pelo gerente quando subia até seu quarto. E eu ficava pensando na menina nua sendo lavada ora de frente ora de costas e aquele homem em seu quarto observando.


Fiz ate onde pude o que me pedia, mas era impossível representar por muito tempo em uma casa cheia de camarás, como não fotografar sem ser observada? como não ter o ouvido atento sem que os olhos ou seu virar de rosto não denunciem? Logo eu testemunha de um estranho fato com uma vitima escravizada por uma doença desde o útero. Ficar calada? É obvio que já havia alertado as autoridades sobre o estranho fato de uma garota estar longe da mãe com pessoas desconhecidas sem parentesco algum. A troco de que? Perguntava. É claro que naquele dia em que fui ao Porto levava comigo a energia de alguém que sabia de tudo e que iria ou já estava com tudo engatilhado para desbaratar a obscuridade do fato, é claro que o gerente ao dar a boleia até a rodoviária pressentiu o perigo, via isso em seu olhar, em suas expressões. Eu só não sabia que receberia minha dispensa do trabalho quando estava no Porto no banco abrindo minha conta salário, quando voltei a GNR, voltou junto comigo. E eu tinha provas e até mesmo as gravações da voz dele falando ao telefone sobre suas maquinações e como faria para enganar a policia da fronteira. Enquanto era interrogado justificava seus atos. Uma menina de 24 anos com paralisia infantil sem mãe presente, deveria ser suficiente para leva-lo até o camburão. Arrumei rapidamente minhas coisas que estavam em uma casa alugada logo acima e nunca mais ouvi falar deles. Por outro lado nunca esqueci da menina, do ritual que vivíamos,  do acordar, do banho, do café, do banho de sol, do silêncio em que vivia, das dores que sentia antes de menstruar, das roupas gastas e pequenas que usava, claro para isso a mãe não tinha dinheiro. lembro também dos olhos enormes e atentos do vazio de sua existência misturado com a minha.



 Mesmo que não sejamos premiados temos que fazer o que é melhor. Porque somos humanos, porque vivemos no meio de humanos. Não porque somos bons ou somos maus

2020 - o ano dos fins justificam os meios

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