Confesso que vivo - I confess that I live

 Morei em Monte Verde. Monte Verde é uma vila de Camanducaia que fica em Minas Gerais no Brasil. Procurem no google, irão gostar. E um vale, e eu morava no alto do vale bem no início da Montana mais alta, a pedra partida. Ou seja morava em um vale dentro de um vale. A casa que eu habitava era distante da vila operaria, onde existia bares restaurantes e mercados. Na época existiam ali cinco mil moradores. A distancia de onde morava ate a vila eram cinco quilômetros íngremes que teria que descer e depois subir caminhando. Durante as manhãs ou tardes ao me sentir solitária, ou sem mantimentos, caminhava esses quilômetros fazendo com disposição alegria como tem sido minha vida desde então. Quando passava da hora de retornar e a noite caia a volta se tornava um jogo duro. As ruas não tinham iluminação exceto por uma ou outra casa. Voltava cambaleando e tateando o chão a procura de buracos. Se avistava os faróis de algum carro me escondia atrás de algum arbusto com medo de um predador. 

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I lived in Monte Verde. Monte Verde is a village in Camanducaia, located in Minas Gerais, Brazil. Search it on Google and you'll like it. It's a valley, and I lived at the top of the valley, right at the beginning of the highest mountain, Pedra Partida. In other words, I lived in a valley within a valley. The house I lived in was far from the working-class village, where there were bars, restaurants and markets. At the time, there were five thousand residents there. The distance from where I lived to the village was five steep kilometers that I would have to go down and then walk up. In the mornings or afternoons, when I felt lonely or without supplies, I would walk those kilometers, doing it with joy, as has been my life ever since. When it was time to return and night fell, the return became a tough game. The streets had no lighting except for one or two houses. I would stagger back and feel the ground for holes. If I saw the headlights of a car, I would hide behind a bush for fear of a predator.

Lembrei dessa época hoje, porque ao acordar resolvi caminhar depois de pesquisar no google um comercio na lake avenue. Procurei no google e antes o endereço achando que era somente fazer uma pergunta e seguir em frente. Próximo a minha rua encontrei três trabalhadores do idioma espanhol. Como sabia? Pelo perfil deles, tinham a nacionalidade escrita no rosto e nas roupas. Da Espanha não eram, pois um espanhol não sairia do seu belo pais deixando de cuidar do seu jardim para cuidar do jardim de outros. Um deles respondeu com o dedo apontando a direção, sem mais nem menos. Assim sendo desci um pouco mais a rua e fui em direção so MacDonalds que fica na esquina da Ave Lincoln e Woodbury. No Mac observei as pessoas, não conseguindo detectar um espanhol, exceto um casal que não quis incomodar. Sai e meu sexto sentido achou melhor seguir a Woodburry e assim fiz. Estava logo no início quando percebi um carteiro. Eles sabem. Perguntei a ele. Ele disse que era a frente a uma distância de quatro milhas. Sempre considered quatro milhas com quatro quadras pois isso diminui minha ansiedade quanto ao final. Longe? - perguntei - ele concordou com uma expresssão de surpresa. E eu comecei a andar quando percebi que milhas eram a mesma coisa que leguas e então retornei, ainda não estava preparada, precisava fazer uma pesquisa melhor antes de me enfiar por essa América sem fim e descobrir o porque da população andar de carro. Longe aqui não é um lugar que não existe. Existe sim! Antes de retornar, ainda procurando uma solução vi uma senhora no cruzamento da ave Woodburry com a Fair Oaks ave. Ela devia estar pedindo alguma coisa pois carregava uma placa de papelão escrito alguma coisa e que depois ao pesquisar no google descobri a palavra hunger, fome. Perguntei a ela. Ela disse que eu devia pegar o bus e mostrou onde estava a paragem. Eu não queria bus, queria ir a pe. Ela continuou insistindo e eu não entendia como uma moradora de rua poderia insistir nisso. Depois de alguns minutos de andar para o lado indicado, segui em direção a quadra contraria ouvindo os gritos da senhora gesticulando em desespero que eu estava seguindo errado. Não dei atenção e segui em direção a minha casa. Iria me preparar melhor. O senhor Google, pai dos burros, mostrou alguns mapas da região e eu acostumada com mapas e não com telefone entendi que bastava seguir a Woodburry até o final e encontraria a Lake ave. E foi o que fiz e assim se deu. Resumindo, fiz seis quilometros para ir e seis para voltar com direito a sentar em pedras e guias encontradas nas calçadas para descansar. Fiz esse caminho toda semana até o dia 07.01.2025, quando o vendaval se fez e mais da metade do bairro virou cinzas

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I remembered that time today, because when I woke up I decided to walk after googling a store on Lake Avenue. I looked up the address on Google and thought I would just ask a question and move on. Near my street I found three Spanish-speaking workers. How did I know? Judging by their profiles, their nationality was written all over their faces and clothes. They weren't from Spain, because a Spaniard wouldn't leave his beautiful country without taking care of his garden to take care of someone else's. One of them answered with his finger pointing in the direction, without further ado. So I walked down the street a little further and headed towards McDonald's, which is on the corner of Lincoln Avenue and Woodbury Avenue. At McDonald's I watched the people, but I couldn't detect a Spaniard, except for a couple who didn't want to bother me. I left and my sixth sense thought it best to follow Woodbury, so I did. I was right at the beginning when I noticed a mailman. They know. I asked him. He said it was four miles ahead. I always considered four blocks as four miles because that lessens my anxiety about the end. Far? - I asked - he agreed with an expression of surprise. And I started walking when I realized that miles were the same thing as leagues and so I turned back. I still wasn't prepared. I needed to do more research before heading out into this endless America and finding out why people drive cars. Far away here isn't a place that doesn't exist. It does exist! Before turning back, still looking for a solution, I saw a lady at the intersection of Woodbury Ave and Fair Oaks Ave. She must have been asking for something because she was carrying a cardboard sign with something written on it and then when I googled it I discovered the word hunger, hungry. I asked her. She said I should take the bus and showed me where the stop was. I didn't want the bus, I wanted to walk. She kept insisting and I didn't understand how a homeless person could insist on this. After a few minutes of walking in the indicated direction, I headed towards the opposite block, hearing the lady's screams gesturing in despair that I was going the wrong way. I ignored it and continued towards my house. I would prepare myself better. Mr. Google, the father of donkeys, showed me some maps of the area and I, being used to maps and not phones, understood that I just had to follow Woodbury all the way to the end and I would find Lake Ave. And that's what I did and that's what happened. In short, I walked six kilometers there and six kilometers back, with the right to sit on rocks and curbs found on the sidewalks to rest. I walked this route every week until January 7th, when the storm hit and more than half of the neighborhood turned to ashes.

Marcia Payne - CA - 26/05.2025