Morte em Petropolis – e o silencio de Lotte Zweig
Era manhã do dia 23.02.1942. A brasileira Fátima* ao abrir a porta da casa onde trabalhava como empregada doméstica, percebendo que as janelas estavam todas fechadas foi até ao quarto dos patrões. Depois de bater e não obter respostas abriu a porta do quarto e ao colocar a mão no interruptor de luz, com a claridade da lâmpada, viu-se diante da visão do casal que aparentemente dormia em suas camas, ao chegar mais perto, chamou por eles e não recebendo respostas, tocou em suas mãos e foi então que percebeu que já não existia sinal vital. Acometida pelo terror saiu da casa em desabalada carreira até a casa mais próxima e pediu ajuda. Mal entendendo o que aquela mulher dizia, os vizinhos resolveram ligar ao delegado de plantão contando o ocorrido ao delegado. Ao tomar conhecimento do nome dos ocupantes da casa, o delegado colocou se a caminho do fato. Ao chegar no endereço ele com sua equipe, fecharam a entrada da casa com uma faixa e pediu aos vizinhos que ficassem do lado de fora e que logo seriam chamados para depoimentos. Ainda não era nem meio dia e já existia uma multidão que se aglomerava na porta da entrada na Rua Gonçalves Dias, 34. Alguns jornalistas entrevistavam a vizinhança e sempre diziam a mesma coisa:
- Eram vizinhos educados, bastante acolhedores
pareciam felizes.
O
delegado dentro da casa ia recolhendo provas e depois de ter tudo em mãos saiu
para esperar que a policia cientifica chegasse para fazer os exames periciais
nos corpos, a necropsia. Na casa conforme a imprensa ficou sabendo foi
encontrada uma carta que dizia: “Depois
de 60 anos são necessárias forças incomuns para começar tudo de novo. Aquelas
que possuo foram exauridas nestes longos anos de desamparadas peregrinações.
Assim, em boa hora e conduta ereta, achei melhor concluir uma vida na qual o
labor intelectual foi a mais pura alegria e a liberdade pessoal o mais precioso
bem sobre a Terra. Saúdo todos os meus amigos. Que lhes seja dado ver a aurora
desta longa noite. Eu, demasiadamente impaciente, vou-me antes”.
Naquela mesma semana foi noticiado a causa morte por uma
overdose de barbitúricos. Foram enterrados no dia seguinte no Cemitério
Municipal de Petrópolis, com honras de Estado, em cerimônia realizada pelo
rabino Henrique Lemle. Não permitiram que o casal fosse enterrado num cemitério
judaico do Rio de Janeiro. E assim a vida de um escritor terminou depois de
cinco meses em um país que não era o seu. Nunca ficou explicado e assim surge a
pergunta: por que sua esposa concordou
em seguir seu marido nesse ato brutal, afinal Lotte Zweig tinha a metade da
idade de Stefan, poderia ter começado tudo de novo. Era ela uma mulher inexpressiva,
submissa e silenciosa?
* Baseado em fatos reais
* O nome da empregada nunca foi mencionado. Eu inventei
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