Encontrando Miguel
Foi
por intermédio de um amigo de um amigo que conheci o Professor Miguel. Esse
amigo Sabendo da minha fascinação por livro, falou de um amigo que tinha um
centro cultural em forma de biblioteca. E assim combinamos que iriamos não
somente ao Centro Cultural, mas também até a casa do dono um Professor. Como
não tínhamos combinado o dia e eu com o endereço do Centro Cultural, não tive
paciência de esperar o dia, afinal Centro Cultural é aberto ao publico. Para
quem não sabe um Centro Cultural é um
espaço que reúne e incentiva atividades culturais e artísticas, como oficinas,
cursos, exposições, apresentações de música, teatro e dança, e bibliotecas. Os
centros culturais desempenham um papel social importante, pois aproximam as
pessoas da cultura e contribuem para a construção de valores em uma comunidade.
Além disso, são espaços de integração e desenvolvimento social, que reforçam a identidade
dos moradores locais. O Centro Cultural que também posso chamar de biblioteca estava
localizado no centro da cidade, muito próximo da minha casa. Era só seguir em
linha reta. Como eu não tinha percebido isso. Não percebi porque não existia
placas luminosas, tampouco ouvia as pessoas comentando. Afinal morava em um
subúrbio cheio de pessoas que procriavam como coelhos e não tinham tempo para
saber ou conhecer cultura, exceto estarem informados sobre a vida alheia. O
Centro Cultural, estava aberta ao público e localizada, em uma das ruas principais do
município em que eu morava, embora escondida atrás de um comercio. Tínhamos que
entrar por um corredor e logo a seguir encontraríamos uma enorme área e depois
portas onde estavam expostos todos os seus livros. Agora ao pesquisar no google
sobre esse espaço eis que encontro registrado a razão social e o endereço de
origem que seria a matriz, a casa onde o professor morava. Deixando claro que
tudo que falo ou escrevo não é uma historia inventada. É real.
Razão Social: Espaço Cultural Professor Miguel Costa
Junior Ecpmig
Atividades Políticas
Carapicuíba - SP
A empresa com a razão social ESPACO CULTURAL PROFESSOR
MIGUEL COSTA JUNIOR ECPMIG, opera com o CNPJ 02.881.044/0001-01 e tem sua sede
localizada na Rua Angela Perioto Tolaine, 584 - Jardim das Belezas, Carapicuíba
- SP, 06.315-180. Seu foco principal de atuação é de Atividades de associações
de defesa de direitos sociais, de acordo com o código CNAE S-9430-8/00
Observando melhor, percebo que o foco principal da atividade era a defesa de direitos políticos. Realmente o professor nunca escondeu que era um socialista convicto, e não um comunista como ele mesmo dizia esse ultimo conhecidos como pessoas voltados a tirania que comiam crianças ou coisa parecida. Logo ao entrar na biblioteca, fui recebida por um senhor de origem japonesa que cuidava do local. Fui seguindo seus passos enquanto ele foi mostrando as salas que percebi não estavam muito bem organizadas, nada se comparando com o centro Cultural Vergueiro. Comecei a olhar os livros e um chamou minha atenção. Era o processo de Kafka. Já conhecia e admirava o escritor pelo seu livro Carta ao pai e A metamorfose, mas o que eu gostava mesmo eram suas Cartas para Milena. Perguntei a ele se poderia levar para a minha casa e ele disse que não. Então perguntei se vendia e ele disse que sim. Vendeu um pequeno livro de bolso com suas folhas amareladas por cinco reais o equivalente a cinco dólar hoje. Ele não podia ter vendido um livro que não era seu, fazia parte do acervo do Centro Cultural, mas foi o que ele fez. A próxima visita aconteceu diretamente na casa do professor, e foi naquela noite que ficou acertado que eu iria a sua casa todos os dias a partir das sete horas da manhã para ler para ele.
Fiquei feliz com a proposta imaginando uma vida como a
de Maria Kodama e Jorge Luis Borges. Kodama exerceu a profissão de secretaria
de Borges e ajudou ele a escrever seus livros e o acompanhou em suas viagens.
Qualquer semelhança era mera coincidência. Professor Miguel também tinha
dificuldade para enxergar mas não estava cego assim como Borges. Não posso
esquecer de dizer que Professor Miguel havia colocado nos classificados dos
jornais que estava a procura de uma companheira para casar, era viúvo e estava
livre para casar. Ele costumava contar dois motivos quando era questionado
porque desejava casar. Primeiro dizia ele, não queria deixar sua aposentadoria
para o governo. Segundo não conseguia ficar sem mulher. Esse seria o seu quinto
casamento. Anos mais tarde conheci em Portugal uma poetisa de nome Agustina
Bessa-Luís que fez a mesma coisa. Agustina casou-se em 1945 com Alberto Luís,
estudante de Direito da universidade de Coimbra, tinha a escritora 22 anos. O
casal conheceu-se de forma bastante curiosa. Agustina colocou um anúncio no
jornal portuense “O Primeiro de Janeiro”
à procura de alguém com quem trocar correspondência (“jovem instruída procura
correspondência com jovem instruído e culto”) e foi assim que os dois jovens se
conheceram. Com o passar dos dias o professor Miguel fez a mim a proposta de
casamento, mas eu diante dos meus princípios tive medo de aceitar, não por
causa da diferença de idade, tive medo de não ser a companheira que ele
necessitava, uma parceira a altura de caminhar com ele, e depois tive medo de
desejar a sua morte para ficar com sua aposentadoria. Teve uma candidata que
aceitou sua proposta e ocorreu o casamento, depois do casamento ele viveu
somente dois meses o que comprovou a minha tese. Foi ela quem atendeu meu
telefone no dia em que quebrei o meu braço. Estava triste e chorosa ao chegar
em casa naquele dia e senti vontade de ligar para o professor falar com ele,
dar algumas risadas, fazia algum tempo que não conversávamos, quando ele
começou a se envolver com essa mulher eu deixei de ir até sua casa, não queria
saber quem era, não queria sequer saber como era. Depois de perguntar por
ele, ela disse. Não te contaram? O
professor Miguel faleceu, acabei de vir do seu enterro. Se o dia tinha sido
terrível para mim, depois de ouvir essa noticia ficou sendo o pior de todos.
Agora entendia aquele meu tombo estupido, como se algo, alguém tivesse me derrubado.
Só me lembro de ter tido essa sensação na morte de minha mãe e o pior é que a
sensação persistia, e a vida se tornou um o que eu vou fazer daqui por diante
diante desse buraco dentro de mim? Depois a minha vida nunca mais foi a mesma.
Ate pensei em encontrar alguém como ele mas até isso era como estar sentada na
lua olhando para a terra sem perceber viva alma capaz de tampar o vazio deixado
em mim e assim os dias se sucediam aos dias de forma tediosa e intermináveis. Quer
saber de uma coisa? Fui uma besta uma tremenda de uma besta quadrada. Correto?
Eu fui contratada para ler e não para me apaixonar. Um dia na pausa de um livro
acredito que era Zorba o Grego, esse livro foi eu quem escolhi e trouxe de
casa, já que ele não tinha em sua estante. Alias ele não tinha livros de
literatura assim como eu. Um dia, fechando o livro perguntei: Professor como
foi a sua primeira vez? Ele não respondeu, mas escreveu e graças a Deus eu
guardei essa carta que diz:
Querida e adorada gatinha...
Hoje vou contar-lhe interessantes minutos de minha
vida passada. Você, curiosa sempre, mostrando muito ciúme de meus dias de
outrora, constantemente me pede que lhe conte essas coisas.
Até agora nada lhe disse. Hoje, porém, vou abrir o
livro nessa página. Preste bem atenção. Compreenda como tudo ocorreu
naturalmente. Nada por mim foi idealizado. Se planos houve, que me levou a esse
desfecho deve ter sido obra dos outros. Ou foi maquinação do destino. Você
acredita no destino, nega?
De qualquer forma vale a pena contar. Mas, antes,
confesse-me uma coisa. Se realmente eu lhe mostrar claramente, sem esconder
nadinha, nadinha, você promete não se aborrecer? Também não ficará zangada
comigo? Diga-me com franqueza, toda
franqueza neguinha do coração. Você quer mesmo saber como perdi a virgindade?
Então leia devagarinho, lentamente, sem tomar partido nas questões. Faça todo
esforço para manter a mais absoluta
isenção de ânimo. Lembre-se que naquele tempo você nem existia ainda. Logo, não
foi traição da minha parte. Eu não podia sequer pensar em trai-la, não é? Isso
foi em 1927. Há quase 70 anos, portanto mereço sua contemplação. Então vamos
lá.
Eu fugira de casa, como você já sabe. Não aguentava
mais viver com meu tio. Não que ele fosse mau, ruim. Até que, de certo modo,
era bom e amigo. Só o fato de criar e sustentar três filhos de meu pai, eu e
meus dois irmãos, já demonstra o lado bom do seu caráter. Mas ele era genioso.
Tinha o pavio curto. Ademais, ele odiava minha mãe conforme já lhe contei.
Talvez tenha sido essa a causa fundamental de minha decisão de abrir asas e
voar para o mundo, para o além, para o desconhecido, para a grande incógnita.
Vou pular muitos detalhes. Sei que você esta tremendo de vontade de saber logo
como tudo aconteceu. Mas o caso é delicado. Não pode ser contado assim, de
supetão. Há certas minúcias que devem ser tratadas com bastante cuidado.
Imagine se o joalheiro em vez de ter paciência para burilar uma joia,
apressado, tomasse de um martelo só para acabar rapidamente seu trabalho. Mas
vamos lá. Parte você já sabe. Depois de muito andar, fui parar em Belo
Horizonte, a planejada capital de Minas Gerais, construída em quatro anos,
versais, baseada que foi nas plantas de Washington e La Plata. Meu dinheirinho
já havia acabado. Procurei, portanto a mais modesta das pensões, encontrando-a
logo ali, nas imediações da estação. Estávamos numa segunda-feira se não me engano. Na quinta-feira fui chamado
à policia. Apresentei-me ao delegado que esclareceu o engano dos dois ignorantes
esbirros da lei. Escute só que lástima, querida gatinha. Você vai dar risadas
pelo que se passou. Mas o meu caso era outro; bem outro. Era caso de chorar.
Imagina só. Se eu fosse preso, apanhasse da polícia, fosse torturado e depois
de muito padecer, reenviado para o sítio de Corumbataí, ali perto de Rio Claro,
onde meu tio plantava café e cuidava da lavoura com meus irmãos. Nem quero me
lembrar dos terríveis momentos que padeci naquela delegacia de polícia.
Sabe como foi à tremenda confusão? Aqui em São Paulo,
a firma Dolabela Portela – creio que era esse nome – estava construindo muitas
grandes obras. Precisava, portanto, de trabalhadores braçais, Para tanto,
contratou aliciadores encarregados de atrair peões em Belo Horizonte. Dois
desses recrutadores de mão de obra, haviam acumulado cerca de vinte pobres
coitados naquela paupérrima. Ora, como a empreitada não mandava os passes nem o
dinheiro para as passagens, os sabidões foram à polícia pedir passagem grátis
para seu lote de obreiros. E lá, declarando suas intenções, foram agarrados nas
malhas da lei, pois era proibido o aliciamento de pessoas. A seguir, o delegado
mandou dois agentes verificar o que se passava na pensão. Chegando, os “tiras”
perguntaram, à dona da casa onde moravam os aliciadores e quem eram eles. A
pobre senhora ignorando o significado da palavra respondeu:
- “Olha seu moço. Não sei não. Só sei se for esse
rapaz que mora nesse quarto. Ele é o único que usa gravata e o único que come
pão. Os outros comem farinha de mandioca”.
Assim, portanto, por culpa de minha gravata e por
causa do meu saboroso pãozinho, tive horas de angústia e apreensões. No sábado
a mulher veio cobrar minha estadia na pensão. Eu não tinha como pagar. Então
usei de um estratagema. Bem dizem que a ocasião faz o ladrão. Você há de me
perdoar, querida querida, mas eu não via outra saída. Há momentos na vida de um
homem que ele precisa.
“O tempo, o tempo, o tempo e suas águas inflamáveis,
esse rio largo que não cansa de correr, lento e sinuoso, ele próprio
reconhecendo seus caminhos, recolhendo e filtrando de várias direções o caldo
turvo dos afluentes e o sangue ruivo de outros canais para com eles construir a
razão mística da história...” ( Raduan
Nassar – Escritor e poeta brasileiro)
Finding Miguel
It
was through a friend of a friend that I met Professor Miguel. This friend,
knowing about my fascination with books, spoke about a friend who had a
cultural center in the form of a library. And so we agreed that we would go not
only to the Cultural Center, but also to the house of the owner, a Professor.
As we hadn't agreed on the day and I didn't have the address of the Cultural
Center, I didn't have the patience to wait for the day, after all the Cultural
Center is open to the public. For those who don't know, a Cultural Center is a
space that brings together and encourages cultural and artistic activities,
such as workshops, courses, exhibitions, music, theater and dance performances,
and libraries. Cultural centers play an important social role, as they bring
people closer to culture and contribute to the construction of values in a
community. Furthermore, they are spaces for integration and social development,
which reinforce the identity of local residents. The Cultural Center, which I
can also call a library, was located in the city center, very close to my
house. Just follow a straight line. How I hadn't realized that. I didn't
understand why there weren't any bright signs, nor could I hear people
commenting. After all, I lived in a suburb full of people who bred like rabbits
and had no time to know or learn about culture, except to be informed about
other people's lives. The Cultural Center was open to the public and located on
one of the main streets in the city where I lived, although hidden behind a
shop. We had to enter through a corridor and soon we would find a huge area and
then doors where all his books were on display. Now when searching on Google
about this space, I find the company name and the address of origin recorded,
which would be the headquarters, the house where the professor lived. Making it
clear that everything I say or write is not an invented story. It's real.
Corporate name: Cultural Space Professor Miguel Costa
Junior Ecpmig
Political Activities
Carapicuíba - SP
The
company with the corporate name ESPACO CULTURAL PROFESSOR MIGUEL COSTA JUNIOR
ECPMIG, operates with CNPJ 02.881.044/0001-01 and has its headquarters located
at Rua Angela Perioto Tolaine, 584 - Jardim das Belezas, Carapicuiba - SP,
06.315-180. Its main focus of activity is the activities of associations
defending social rights, in accordance with the CNAE code S-9430-8/00
Looking
closer, I realize that the main focus of the activity was the defense of
political rights. The professor really never hid the fact that he was a
convinced socialist, and not a communist as he himself said, the latter known
as people bent on tyranny who ate children or something similar. As soon as I
entered the library, I was greeted by a man of Japanese origin who took care of
the place. I followed in his footsteps as he showed the rooms that I noticed
were not very well organized, nothing compared to the Vergueiro Cultural
Center. I started looking at the books and one caught my attention. It was
Kafka's process. I already knew and admired the writer for his books Carta ao
pai and A metamorfose, but what I really liked were his Letters to Milena. I
asked him if I could take it to my house and he said no. So I asked if he would
sell it and he said yes. He sold a small paperback book with its yellowed pages
for five reais, the equivalent of five dollars today. He couldn't have sold a
book that wasn't his, it was part of the Cultural Center's collection, but
that's what he did. The next visit took place directly at the professor's
house, and it was that night that it was agreed that I would go to his house
every day from seven o'clock in the morning to read to him.
Dear
and beloved kitten...
Today
I will tell you interesting minutes from my past life. You, always curious,
showing great jealousy of my former days, constantly ask me to tell you these
things.
So
far I haven't told you anything. Today, however, I will open the book to this
page. Pay close attention. Understand how everything happened naturally.
Nothing was idealized by me. If there were plans that led me to this outcome,
it must have been the work of others. Or it was a machination of fate. You
believe in destiny, do you deny it?
Either
way, it's worth telling. But first, confess something to me. If I really show
you clearly, without hiding anything, will you promise not to get upset? Won't
you be angry with me too? Tell me
honestly, with all the frankness of your heart. Do you really want to know how
I lost my virginity? So read slowly, slowly, without taking sides on the
issues. Make every effort to maintain the most absolute impartiality of spirit.
Remember that at that time you didn't even exist yet. So, it wasn't betrayal on
my part. I couldn't even think about betraying her, could I? That was in 1927.
Almost 70 years ago, so it deserves your contemplation. So let's go.
I
had run away from home, as you already know. I couldn't stand living with my uncle
any longer. Not that he was bad, bad. Until, in a way, he was good and
friendly. Just the fact of raising and supporting my father's three children,
me and my two brothers, already demonstrates the good side of his character.
But he was genius. He had a short fuse. Furthermore, he hated my mother as I
already told you. Perhaps this was the fundamental cause of my decision to
spread my wings and fly into the world, into the beyond, into the unknown, into
the great unknown. I'm going to skip a lot of the details. I know you're
trembling to know how it all happened. But the case is delicate. It cannot be
told like that, suddenly. There are certain details that must be handled with
great care. Imagine if the jeweler, instead of having the patience to hone a piece
of jewelry, hurriedly picked up a hammer just to finish his work quickly. But
come on. Part of it you already know. After a lot of walking, I ended up in
Belo Horizonte, the planned capital of Minas Gerais, built in four years, based
on the plans of Washington and La Plata. My money was already gone. I therefore
looked for the most modest of guesthouses, finding it right there, close to the
station. It was a Monday if I'm not mistaken. On Thursday I was called to the
police. I introduced myself to the police chief who clarified the mistake made
by the two ignorant hecklers of the law. Listen, I'm so sorry, dear kitten. You
will laugh at what happened. But my case was different; quite another. It was a
case of crying. Just imagine. If I were arrested, beaten by the police,
tortured and after suffering a lot, sent back to the Corumbataí farm, near Rio
Claro, where my uncle planted coffee and took care of the crops with my
brothers. I don't even want to remember the terrible moments I suffered at that
police station.
Do
you know what the tremendous confusion was like? Here in São Paulo, the firm
Dolabela Portela – I believe that was the name – was building many large
projects. He therefore needed manual workers. To this end, he hired recruiters
in charge of attracting pedestrians in Belo Horizonte. Two of these labor
recruiters had accumulated around twenty poor people in that very poor place.
Now, as the project did not send passes or money for tickets, the experts went
to the police to ask for free tickets for their batch of workers. And there,
declaring their intentions, they were caught in the law, as the solicitation of
people was prohibited. Next, the police chief sent two agents to check what was
happening at the pension. Arriving, the “cops” asked the owner of the house
where the recruiters lived and who they were. The poor lady, ignoring the
meaning of the word, replied:
-
“Look, young man. I don't know. I only know if it's this guy who lives in that
room. He is the only one who wears a tie and the only one who eats bread. The
others eat cassava flour.”
So,
because of my tie and because of my delicious bread, I had hours of anguish and
apprehension. On Saturday the woman came to collect my stay at the guesthouse.
I couldn't afford it. So I used a stratagem. It is well said that occasion
makes the thief. You will forgive me, dear darling, but I saw no other way out.
There are times in a man's life when he needs it.
“Time, time, time and its flammable
waters, this wide river that never tires of flowing, slow and winding, itself
recognizing its paths, collecting and filtering from various directions the
turbid broth of its tributaries and the red blood of others channels to build
the mystical reason for history with them...” (Raduan Nassar – Brazilian writer
and poet)
Marcia Payne – Altadena 02.11.2024
Comentários