Os dias se sucedem aos dias...



20.02.2023 - Depois do almoço resolvi sair. O dia estava lindo e as gaivotas, suas loucas, em alvoroço gritavam em alvoroços saudações. Céu azul, sol depois de dois meses de chuva constante. É um sábado agradável e resolvi como já disse, sair por ai. Coloquei uma roupa como uma senhora deve colocar e fui com uma mochila nas costas e na mão uma sacola cheia de papeis, agenda e um livro. Sai a procura de um banco e uma mesa. Ou um branco de frente para o sol onde ele pudesse beijar meu rosto. Encontrei um banco onde havia dois  homens que bebiam diretamente na garrafa. Passei por eles e encontrei do lado esquerdo na calçada, algumas mesas em frente a uma lanchonete. Ter que sentar ali significava ter que comer e beber e eu não estava com vontade, havia comido quando sai de casa. Não iria gastar dinheiro ou pagar um tostão para estar ali, tinha a minha frente um mundo vasto mundo. Carlos Drumond já tinha nos alertado sobre isso. Sendo assim, não sejam bestas. Segui em direção a praça Carlos Alberto onde todos os sábados ocorre uma feira de artesanato, onde vendem roupas usadas, roupas novas, discos de vinil e livros aqueles maravilhosos sebosos, usados, marcados, rabiscados, com digitais, com cheiro com vida.  Encontrei deliciosas cadeiras de sol enfileiradas para as pessoas descansarem debaixo do azul celeste e do amarelo sol. Tão gentis essas pessoas que programam esse evento. Encontrei uma cadeira vazia ao lado de um rapaz. Perguntei se estava ocupada, ele respondeu algo em inglês, e eu entendi perfeitamente ou fiz que entendi estar vazia e sentei. Tão bom sentar e não precisar pagar nada por isso tampouco comer o que não se deseja comer. Foi então que senti vontade de falar com alguém, compartilhar aquele momento, aquela felicidade. Virei para a pessoa que estava do meu lado e disse algo esperando uma resposta. Ouvi: Sorry! Não entendia minha língua. Eu inocentemente já ia pegando o telefone no google tradutor quando uma voz dentro de mim falou: Esta louca! O cara não quer falar com você. Olhe para a cara dele. Foi ai que olhei de soslaio, com mais atenção. E realmente. Foi então que lembrei que lembrei da gargantilha exposta na banca daquela simpática garota, logo atrás de onde estávamos. Tinha achado interessante os dizeres: "Odeio pessoas". Na hora eu senti vontade de comprar, mas pensei ser inconveniente, ainda mais na época que vivemos. Mas agora senti o quanto seria importante e real ter ela pendurada no meu pescoço como um talismã, um farol a dizer: Estamos contaminados pela indiferença.


 Hoje 28.01.2023 - Outro sábado, agora frio, amanheceu com 2 graus. Pensei em sair como fiz semana passada, mas resolvi ficar deitada na cama, como fazia em meu quarto em São Paulo, deitada debaixo das cobertas ao ponto de sentir dor nas nádegas. Deitada ouvindo Beethoven no caminhão de gaz passando pela rua, deitada ouvindo Yann Tiersen e sua valsa para Amelie. Os momentos vividos passam pela nossa vida e chega um dia que vamos tendo dificuldade de rever da mesma forma que vivemos esse momento que agora teclo nessa maquina. Hoje escrevo ao som de Hans Zimmer que no momento é minha música preferida, ate a exaustão. Vou esperar mais um pouco e vou sair, não mais para procurar uma grama e cair nela, agora vou ate a rua Santa Catarina a Av. Paulista do Porto, vou sentar em uma lanchonete, pedir algo quente, escrever e ficar olhando a vida, e talvez quando tudo passar eu consiga lembrar do momento, mesmo assim vou precisar escrever no papel, vou precisar de uma prova em foto, vou precisar de Deus e sua bênção para a vida que ainda pulsa.


Márcia Mesquita - Abril 2024

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