Fernando Namora e o Brasil XXI



António, é preciso partir! 
o moleiro não fia, 
a terra é estéril, 
a arca vazia, 
o gado minga e se fina! 
António, é preciso partir! 
A enxada sem uso,
o arado enferruja,
o menino quer  o pão; a tua casa é fria!
É preciso emigrar! 




O vento anda como doido – levará o azeite;
a chuva desaba noite e dia – inundará tudo;
e o lar vazio,
o gado definhando sem pasto, 




a morte e o frio por todo o lado,
só ha morte, ha fome e o frio por todo o lado, António! 




É preciso embarcar!
Badalão! Badalão! – o sino
já entoa a despedida.
Os juros crescem;
o dinheiro e o rico não têm coração.
E as décimas, António?
Ninguém perdoa – que mais para vender?
Foi-se o cordão,
foram-se os brincos,
foi-se tudo!
A fome espia o teu lar.
Para quê lutar com a secura da terra,
com a indiferença do céu, 




com tudo, com a morte, com a fome, coma a terra,
com tudo! 




Árida, árida a vida!
António, é preciso partir!
António partiu.

Fernando Namora









Comentários

Talvez a música mais apropriada fosse "Tropa de Elite, osso duro de roer/ pega um, paga geral/ também vai pegar você."
Valeu, Lailin.
Beijo
marcia mesquita disse…
por isso não dr Jorge, estou já a publicar

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