"LOUCO!"


Qualquer semelhança não é mera coincidência
Juvenal havia pedido a seu patrão para sair uma hora antes do horário. Sua esposa Maria queria que ele chegasse mais cedo para ajuda-la com o jantar para o filho. Quer dizer não era seu filho. Era o filho mimado de sua Maria, sua querida Maria. Quase cinquenta anos de casamento, tinha veneração por ela. E assim Juvenal correu para fazer sua vontade.
Eram quase 19Hs. e Maria do Juvenal estava na metade do jantar. Depois de quatro anos com o filho morando em Hortolândia, aquela para ela seria uma noite especial. Iria comemorar a volta do filho querido. Tanto tempo longe. Essa não era a primeira vez, ele já esteve uma vez em Araraquara. Mas a vida é assim mesmo. Que família hoje não sofria? Por ele era capaz de qualquer sacrifício. Até mesmo de sacrificar a sua vida, como fez muitas vezes. Os vizinhos podiam sentir o aroma gostoso de um frango sendo frito numa panela de ferro. Mesmo com os olhos cansados e sentindo uma dor insuportável no nervo ciático, iria aguentar, e depois logo mais, ela poderia descansar e amanhã ficaria o dia inteiro na cama. Quase oito horas e a campainha tocou. Maria enxugou as mãos e foi atender. Sem dizer uma palavra correu ate ele e o abraçou demoradamente deixando as lágrimas caírem em seu rosto, enquanto suas mãos alisavam as costas daquele homem de 53 anos, estatura média, gordo e oleosos cabelos claros. Depois dos abraços e beijos os três sentaram-se à mesa da cozinha e o jantar foi servido.
Meia hora depois disse que não deviam se preocupar. Que agora tudo iria dar certo. Precisava de alguma quantia, não era muito, era o suficiente para pagar as dividas que havia feito nos anos em estivera fora. Eles sabiam como era difícil encontrar um emprego. Depois que encontrasse um lugar para ficar, e a poeira baixasse poderia cuidar melhor da sua vida, mas agora precisava de ajuda, seria só essa vez. Juvenal ficou olhando-o, apreensivo. Há quanto tempo vinha aguentando isso. Por quanto tempo ainda teria que aguentar isso? Quatro anos preso pelo mesmo delito e pela segunda vez! Não aprendera nada. Nunca iria aprender nada. O filho percebendo a angústia do pai disse, um pouco mais brandamente: Vamos tomar um café. É disto que está precisando para reanimar-se.
A caixa de fósforos havia voado pelos ares. Na porta Zé Branco apanhou-a e colocou-a no bolso. Era quase meia noite, quando se afastou da casa de tijolinhos guiando o carro do seu pai Juvenal. A pequena distância dali, no posto de gasolina do supermercado extra, ele parou, tirou algumas notas do bolso e pediu ao frentista que enchesse o tanque, enquanto ia buscar uma cerveja.
Na manhã seguinte quando Aninha a empregada da casa chegou, estranhou encontrar a porta da sala fechada só com o trinco. Mas pensou que idosos sempre esquecem. Seguiu até a cozinha, mas não entrou ali mesmo na porta colocou a mão na boca segurando o grito enquanto corria em desabalada carreira para a casa vizinha.
Cont...
mlailin



Comentários

marcia mesquita disse…
Os nomes não foram mudados. Deve-se ou não dar o nome aos bois?

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