AS SAUDADES QUE EU SINTO DE TI...
AS SAUDADES QUE SINTO DE TI ...
- Sabe Zilda eu estou pensando
seriamente em casar com você
- Olha só que folgado – Pensou
Desse dia até o casamento foi um
ano certinho. Casaram-se no ano seguinte. Enfrentaram muitos problemas que hoje
a maioria não suporta, e se separam por nada. Tinham uma incompatibilidade de
gênios bem acentuada. Mas, foi uma incompatibilidade que conseguiram equilibrar.
Ele extremamente nervoso, ela extremamente calma. Ele gostava muito de escrever,
escrevia muito. Deixou para ela muitos cartões a maioria ela deu, mas as cartas
ela guardou. Teve uma vez que ele escreveu uma carta achando que não levaria o
casamento adiante.
“A Zilda meu grande amor....
Como dizer o que sinto, como explicar tal fato, não sei sinceramente.
Sou incapaz de compreender como fui ficando desumano ao ponto de desejar minha
própria morte. É o que realmente sinto. Sei e compreendo sua revolta contra
minha atitude, mas sei também que sua vida virou um inferno por minha culpa,
jamais me perdoarei pelo que fiz de mau. Quero que faça um pouco de força e me
compreenda, eu estou enlouquecendo. Não consigo me controlar. As vezes chego a
ver você com outro homem, isto faz com que meu corpo estremeça. Tento corrigir
meus pensamentos mas o que eu consigo é odiar e só querer o mau. Sei que é
sincera, sei que ama os nossos filhos, sei que divide o amor com sua família,
você é tudo para eles e para mim. Sim, eu sei, é por isto que vou te deixar,
porque jamais conseguirei dividi-la com alguém, quem quer que seja. Peço a Deus
que faça de vocês três tudo o que eu nunca consegui fazer. Não consegui deixar
nada para vocês. Deixo a lembrança de quem te ama tanto, de quem te deseja um
mundo. Onde eu estiver estarei olhando para vocês. Sofrera eu sei, mas logo
encontrara motivos para esquecer-me. A rotina fará com que me esqueça em breve.
Olhe sempre para o rosto da Monica, assim sempre terá a minha presença”.
“São quase duas da manhã, quase amanhecendo e eu não consigo nem mesmo
cochilar, o estomago esta doendo muito. Então ligo o radio, as músicas vão me
dando uma tristeza imensa, lembro-me da minha mãe, dos seus conselhos, suas
advertências. Lembro do primeiro dia que te conheci, quantos sonhos que tive
para uma vida a dois. Como gostaria que cada dia fosse para você um mundo cheio
de festas. Quantas vezes eu sonhei com nossas famílias reunidas, congregadas
num esforço único de amarmos uns aos outros sem jamais nos importarmos com
pequenos erros, olha agora, veja... Nada é possível, as pessoas são marionetes
que obedecem aos nossos gestos. Portanto sobrou para mim a unificação, entre eu
e você pois neste sistema nervoso que estou vivendo é cheio de inquietação de
uma expectativa do que será daqui para frente. A cada dia eu vou vestindo seus
dias com tristezas, recheando seu bolo com um inferno constante, talvez o
inferno seja pouco para que eu possa pagar tanto descaso”
Ela conheceu ele quando tinha
oito anos de idade, quando era ainda uma menina, ele estava jogando bola e a bola
batia na sua perna ela nunca iria imaginar que ele seria seu marido. O tempo
passou com o namoro formalizado um dia desistiram e ao passar com sua tia perto
dele disse: Tia aquele rapaz ali eu namorei. Sua tia depois de olhar para ela e
para ele disse: É com esse rapaz que você vai casar. Nem que seja o último homem
respondeu. Ela percebeu que ela gostava dele. Então casaram. Ele era muito
ciumento e ela procurava controlar os ciúmes dele. Ele dizia: Olha Zilda eu
gostaria que você me contasse tudo o que se passa. Sabe por quê? Porque você
acredita muito nas pessoas. Ele a achava muito ingênua e queria ajudar. Só que
era um meio de controlar. Então ela acabava contando tudo o que acontecia e ele
a ajudava ele a protegia e ela não via maldade nisso. Eram extremamente incompatíveis
e achavam que a separação era a solução. Ele arrumou as malas e ela muito
orgulhosa deixava e enquanto houvesse a chance ela deixava e dizia: Ah, você quer
ir, mas tem uma coisa, não tem volta, então você pensa bem. Mas no fundo ela
estava morrendo e no fundo ele também não queria ir. Ate que chegou num ponto
em que perceberam que não adiantava porque nenhum queria se separar. Então
chegou um tempo em que parecia haver uma solda, não tinha mais essa de separar.
Ai quando ele ficou doente pararam com isso.
Quando ele ficou doente em 2000
passaram mal bocados e o médico disse que ele tinha pouco tempo e ela ficou
inconformada. Levou ele no pronto socorro achando que ele tinha uma gripe e
quando perguntou ao médico o que ele tinha, ele disse que ele não passava
daquela noite. Ai ela disse a ele: Pensa no Lucas, pensa no Lucas. O Lucas
tinha seis anos e ela achava que se ele pensasse no Lucas ele ia ficar forte. Naquela
noite quando ele chegou em casa disse: Eu quero tanto saber como o Lucas irá
ficar com 18 anos. Depois disso o médico conseguiu um coquetel que deu uma
qualidade de vida e ele permaneceu vivo por mais 12 anos. Era uma pessoa muito
triste, ela até aconselhou ele a procurar um médico e ele nunca foi. Quando o
Lucas fez 18 anos em abril, em junho ele morreu. Doze anos para ela foi pouco
para se preparar, não conseguiu. Eram onze horas da noite ele reclamou que o
braço dele tinha morrido ela disse que era impressão dele, estava tão cansada
antes tivesse escutado. Foram até o hospital das clinicas passaram uma noite
inteira lá e o médico não deu uma gota de remédio para ele. Voltaram para casa
do jeito que foram. Quatro dias depois ele teve uma diarreia, procuraram outro
hospital e nesse a médica pediu novos exames e com eles em mãos disse: Não sei
como ele ainda esta vivo.
Era meia noite Lê sua
terceira filha estava ao seu lado, tocava a campainha chamando a enfermeira,
fazia carinho nele, afagava seus cabelos e pedia: Luta pai – eu não consigo viver sem
você, luta
Repetia: Luta pai, luta pai, eu
não consigo viver sem você...
Ele se foi e os anos se arrastam,
Zilda luta e representa ser... Implora para que a solidão se perca nas sombras da noite e não subsista ao nascer do sol....
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