Tribunal da relação do Porto e outros cantos e contos


 Tribunal da relação do Porto 

Quando eu perguntei a um tuga onde ficava o prédio da cadeia da relação do Porto quase cai de costas quando ele apontou e eu dei de cara com o tribunal que chamo de justiça. Raios, é esse o local, pensei.
Já tinha estado ali perguntando o dia e horário das audiências, queria assistir. Era época de férias. O recepcionista olhou para mim e deu uma risada. Claro que entendi. Foi assim que cheguei no Porto
Hoje nem olhei para o lado da recepção e fui direto para as escadas. Não podia falar o motivo de ter vindo. Quem iria entender? Fiquei parada indecisa.
Que lado tomar. direito ou esquerdo.
Não queria ser vista por eles, vai que me convidassem para se retirar. Afinal neste país não sou nada, além do que, carrego a má fama apregoada a mim por desafetos. Peguei a agenda para me localizar. Tinha escrito as coordenadas. Mas onde? Posso perder minha agenda a vontade pois é um enigma até para mim. Depois de minutos achei: "Cadeia e tribunal da relação do Porto onde Camilo Castelo Branco esteve preso"




Pronto, estava ali. E agora? Fiquei alguns minutos olhando para a janela. O Rio Douro. Esperava que ninguém me visse, não tinha sido convidada e nem sabia se cobravam ingresso. Contei os andares pelo lado de fora.... um dois... três....quatro....
Camilo esteve preso no terceiro piso. Comecei a subir. O andar estava vazio e eu comecei a olhar. Esteve preso no terceiro piso numa cela que dava para a igreja do Bonfim. Olhei se ninguém me seguia e procurei algo parecido com uma prisão. Se ele tinha uma visão para a igreja então eu deveria subir aquela escada no meu canto direito e foi o que eu fiz. Encontrei um corredor e uma janela cuja visão era a Praça da cordoaria cujas árvores e folhas tampavam qualquer visão que poderia ter. Em 1860 a visão deveria ser ampla e totalmente limpa. Ouvi passos  e me escondi. Acabei voltando ao saguão do terceiro andar. Do lado esquerdo três pessoas conversavam, no que entendi ser um caso criminal e o advogado dando as orientações. Um senhor sentado esperava próximo a uma porta semi aberta. Fui até ela e ouvi o que era alguém dando seu depoimento. Na minha terra posso entrar sentar, escutar e aprender alguma lição. E aqui?
Dei meia volta e fui para o segundo piso a sala de audiência.
Depois cansei disso. De não ter ninguém que me levasse até o calabouço. Sai e procurei alguém que me informasse onde ficava a igreja do Bonfim iria conhecer a visão que acompanhou Camilo em seu calvário



Uma senhora disse que ficava longe que eu teria que ir de autocarro. O Porto é um ovo se dizem que é longe sei que é perto. E depois esse povo não faz nada que não seja de carro, ou autocarro. Segui em direção a igreja. Eu como não entendo nada de tempo ou quilometragem não poderei informar quanto tempo demorou. Sei que foi algo parecido com vapt vupt. Do auto da igreja não consegui avistar a janela da cadeia da relação. O dia estava um tanto esfumaçado devido a tanto carros na ruas. Mas se tivesse forçado um pouco mais teria visto um homem se dirigindo ao tribunal do crime com um mandado de prisão obtendo então do carcereiro licença de recolher-se a uma das masmorras altas da Relação. Era o primeiro dia de Outubro de 1860.

Local: Largo Amor de Perdição, s/n, 4050-008 Porto




Memórias do cárcere do meu cárcere e não o de Camilo, embora eu misture as bolas ou as palavras

Sempre que ela pensava na obra dele ela dizia: ele não devia estar aqui. Nunca deveria ter saído da estante do apartamento do Porto na delicia da juventude que respira e inspira de Asprela próximo ao metro cidade Universitária. Toda vez que passa por ele e seus olhos param nos cinco volumes na antiga e gasta estante branca diz com seus botões: Oh céus! Ainda esperam, sequer abriu um volume e ainda esta menos da metade de suas memórias do cárcere.
O que ela vê é uma mesa de cozinha antiga com um jogo americano, um copo e um prato e mais a frente uma pia verde água com algumas louças esperando serem lavadas. Quando e por quem? Não sabe, não sente um pingo de vontade. Deseja apenas que o dia esteja menos quente, ou se é para estar assim que o mormaço a leve ate a praia da amorosa e deixe seu corpo flutuar nas águas e nas algas geladas do belo e terno oceano atlântico onde tudo se eleva numa profunda calma.




Assim como se deu ontem quando estava esperando que a malta começasse o debate neste mundo desprezível, uma lufada neste mundo desprezível e um lufada de vento frio entrou pela janela e ela se transformou nela mesma e foi levada em espiral até sua rua preferida Miguel Bombarda... Emergiu pela calçada estreita com quase ninguém e seu horizonte parecia ilimitado e minutos mais tarde estaria abrindo as portas da igreja românica de Cedofeita. Ainda teria tempo de ver Ana Plácido colando o ouvido à porta do quarto do amante, para lhe ouvir a respiração, e então entrar exclamando:

- Estamos livres! Estamos perdoados!











Gosto de ficar nas estações olhando os trens chegando ou partindo. De ouvir a bonita voz feminina dizendo: "O veículo que vai dar entrada no cais 2 tem como destino Ismai"

Caminho na minha introspeção assim como Clarice

"Pergunto-me se eu não deveria caminhar à frente do tempo e esboçar logo um final. Acontece porém que eu mesmo ainda não sei bem como isso terminará. E também porque entendo que devo caminhar passo a passo de acordo com um prazo determinado por horas: até um bicho lida com o tempo. E está é também a minha mais primeira condição: a de caminhar paulatinamente.
Enquanto isso as nuvens são brancas e o céu é todo azul. 

(Clarice Lispector - A hora da estrela)





Mais forte que a morte (Lai)

"Acredito que a maior tragédia do homem ocorreu quando ele separou o amor do sexo. A partir de então, o ser humano passou a fazer muito sexo e nenhum amor. Não passamos do desejo, eis a verdade. Todo desejo, como tal, se frustra com a posse. A única coisa que dura para além da vida e da morte é o amor" (Nelson Rodrigues)

As mulheres tem normalmente embutida em si essa visão do sexo e do amor como uma peça única, indivisível. Os homens não. Mas Nelson não era um homem comum.

Good night friends






Afonso I, também chamado de Afonso Henriques e apelidado de o conquistador foi o primeiro rei de Portugal de 1139 até a sua morte.....

Não ha outro lugar em Portugal onde se sinta a presença de D. Afonso Henriques, como na chamada Colina Sagrada, coroada pelo Castelo de Guimarães.
 









No dia do Turismo.
Só existe dois dias que não da para ser todo dia, ano novo e Natal o resto todo dia é dia. Hoje era um dia qualquer. 
Alguém ai sabia? Ninguém. Estão sabendo agora no jornal da noite.
Eu descobri isso hoje.
Eram cinco horas da tarde. Estava na porta da livraria Lello perguntando ao segurança: Ei que horas tenho que vir para encontrar a livraria suportável, as nove da manhã?
Não, a melhor hora e depois das 18hs - respondeu
Não fui e prometi a mim mesma que não iria ver livros e pagar para ver. Tomei coragem e fui em 2020, quando o covid estava a todo vapor e a livraria entregue aos fantasmas e a porta aberta gratuitamente a quem estivesse rondando as ruas desertas. Não paguei e não comprei nada. Sou fiel aos alfarrábios
Fui embora cortando ruas e quando dei por mim estava de cara com um burburinho. Olhando melhor vi que carregavam taças na mão e comiam coisas. Olhei melhor ainda e vi que era um lugar livre aquele chamado loja de turismo interativa. Como me ensinaram que de graça até injeção na veia, entrei e peguei um copo depois um salgado e mais um copo e um salgado e de copo em copo fui fazendo a festa. Foi ai que percebi aquele povo sério com uma faixa do outro lado. Tanto ficaram presentes em minhas voltas pelo salão que não resisti. Iria lá perguntar a eles qual a reivindicação. Disseram que o presidente do Turismo Moreira não sei das quantas está a inaugurar estas instalações, mas quer despedir 39 trabalhadores, mas não iriam facilitar a tarefa. Desde quando andorinhas fazem verão? Trinta e nove andorinhas contra quantas raposas? Tentei contar com os olhos e me perdi quando encontrei um senhor nariz de tucano me olhando com olhos arrogantes tão Brasil, tão mundo vasto mundo.
Senti muito por mim e por todos que estavam al








Viela do anjo

Subia a viela do anjo quando um jovem perguntou: Quer uma ajuda?
Disse que sim e passou a ele o carrinho de bebê onde dormia sua primogênita.
Era cedo ainda, 
olhou para as ruas desertas era desse silêncio que precisava, pois era no silêncio fresco do Porto que reconstituia sua vida.
O café estava com suas mesas na calçada. Começavam quando nascia o dia. Pediu o de sempre. Já até sabiam, tão acostumados estavam com sua presença. Molhou a boca com o primeiro gole, abriu a agenda e leu o que escreveu no dia anterior: Não existe nenhuma dignidade na destruição de alguém. Escreveu para não esquecer o que pensou naquele momento. Para dizer a ele quando surgisse a ocasião junto com uma fitinha imunda. Pegue leve esse trapo de anos que vivemos a dois. Quanto torpor, quanto pesadelo e ainda estava no meio do caminho de uma lúcida escuridão.

Afagou o cabelo da pequena que dormia, apertou as suas mãos nas suas com firmeza e levantou aos céus uma prece, um milagre. sempre ouviu dizer que o sol nasce para todos. Quero um pedaço de sua luz.








É preciso tentar não sucumbir sob o peso de nossas angústias e continuar a lutar - J.K Rowling
😀
J .K Rowling trabalhava na Anistia Internacional como secretária bilíngue e investigadora. Ansiando por concretizar seu sonho de escrever, deixou o cargo e foi para Portugal em 1991.
Neste país dava aula de inglês e à noite e pela manhã costumava escrever nas mesas dos cafés no Porto, cidade em que permaneceu por cinco anos. Neste ritmo ela deu início a sua trajetória literária, mais especificamente a criação de sua saga. Ela preservaria a rotina de escrever nos cafés, mas seu primeiro Harry Potter, so foi concluído depois que ela se divorciou do marido o português Jorge Arantes e seguiu com sua primogênita para Edimburgo na Escócia. O que fez muito bem. A livraria Lello dizia que ela escreveu seu livro lá, o que ela desmentiu anos depois e a Lello ficou em silencio para vergonha nacional portuguesa




O sentimento do Porto
A procura de Agustina Bessa-Luís 





Há dois anos atrás ao perguntar a um amigo portuense se tinha contato com Agustina, ele respondeu que não. E eu perguntei nunca fostes saber como ela está? Onde mora? Disse que não, que ela estava reclusa, doente ou não lembro mais o quê. Disse a ele que isso não impedia de ir até o seu portão se fosse atendido muito que bem se não, que deixasse um bilhete na caixa de correios ou um ramalhete de flores. Sempre achei que ações carinhosas devem ser feitas enquanto existe vida.

Tempo depois fui a uma exposição no Museu da língua portuguesa. Até hoje não sei quem foi o responsável pela exposição sei que o responsável merecia uma bela de uma reprimenda. Confesso que fiquei triste e ao mesmo tempo privilegiada por estar ali ao lado de fotos e nada mais. Nenhum livro é nenhum português que comentasse um pouco sobre a poeta de sua terra. Um vazio em um lindo prédio que virou fumaça preenchido por painéis com fotos e nada .

Foi alguém do facebook que pedi e um dia me deu o endereço no Porto. Se algum dia fosse. Nada me impediria e ir até a rua,  ao portão. 





Foi na terça estava em minha caminhada, no meio de mais de 20 quilômetros andados quando na minha frente a placa da rua. Meu coração pulou e disse: A rua, e ela! Quase cantei: olé , olé olá. Era tarde e não podia contornar ali a minha direita e não tinha comigo o livro: A muralha.

Na quarta fiz novamente os quilômetros e até mais porque não tinha a noção da localização geográfica do local e já estava quase chegando no Aleixo, quando percebendo que algo estava errado parei em uma agência de Correios e pedi informação. Um senhor atencioso ouviu o nome da rua e disse desconhecer então procurou no google. Teria que voltar novamente o caminho feito. Vai Lai, vai com alegria pela Campo Alegre.

Está certo que desde criança minha mãe me chama de cambitos finos, mas as cabritas também cansam. Estava com sede e fome.

Encontrei a rua, não encontrei antes porque o Porto era uma Aldeia e suas ruas me parece que foram feitas para isso: para se perder nelas.


A rua de sua casa engana. Engana porque quem procura e acha pensa: "Já era. Informação errada" O que existe a primeira vista é uma pequena rua com um estacionamento de carro de esquina a esquina do lado esquerdo e do lado direito um prédio um muro e na frente de tudo o beco duas rodovias e fim.

Fim uma ova. Fiquei olhando como quem olha no nevoeiro e de repente um farol alguém me deu sua mão. Era uma mão de coragem. Atravessei a avenida congestionada de carros...e entrei em uma casa antiga de portão aberto. Seria aqui a casa que permaneceu quando destruíram uma parte da rua para construírem partículas de carvão? Passei pelo estacionamento e entrei somente para descobrir que era uma escola. Não me interessava saber do quê.


 


Voltei e comecei a descer a rua quando novamente a mão me puxou e me levou ate o barranco cheio de arbustos folhas secas e árvores onde vi o Douro, quando virei o rosto do meu lado direito vi a casa e o que restou do que foi um dia uma aldeia. Demoliram à aldeia até o limite da casa. Fiquei alguns momentos olhando para a casa de dois andares. Todas as janelas estavam abertas exceto os vidros. Olhei pelo interior de uma de suas janela no térreo, era uma sala de estar com as estantes cheias de livros, um sofá com uma manta caindo e uma escrivaninha com livros abertos. Que feio, pensei, ficar bisbilhotando. Sai e voltei. Vi um vulto passando e dei uma batida. Uma jovem se aproximou e falei com ela pelo vidro fechado. Disse o que queria, perguntei se ela estava entendendo a linguagem labial, ela disse que sim e mandou que eu fosse ate o portão e apertasse a campainha e foi o que eu fiz....





"Atrás das suas pedras há a nobreza mourisca, há o judeu caviloso e astuto, o fenício do grande comércio, o homem da Lusitânia criticador e inerte. Ela é a muralha, povoada de funcionários e mestres-de-obras, de colegiais, de artistas, ingleses colonialistas - e pelo capital. A sua alma é funda e profética, os seus costumes rigorosos mas não severos - e há mais espírito na sua gente de ilha, na sua gente crua de sentimento e afeição à desgraça. Ela é a muralha, com a cintura rodeada de nevoeiros, generosa e tímida, com a sua coroa provinciana e a luva suja na mão descalça"
(Agustina Bessa-Luís)

Márcia Lailin Mesquita  - outono de 2016




 O nevoeiro e D. Sebastião o desejado.




É numa manhã assim de nevoeiro na rua Cedofeita e todas as suas paralelas que as mulheres sentam, caminham, escrevem e esperam por ele, o Rei desejado, o que foi embora sem nunca ter ido.

D. Sebastião era neto de D.João III. Militar zeloso, morreu na Batalha de Alcater Quibir, sem deixar descendência. A sua volta nasceu o mito do "sebastianismo" a esperança de que regressaria um dia, numa manhã de nevoeiro para salvar o país de todos os seus problemas.






"Se em mim, ó alma vive mais lembrança
Que aquela só da glória de querer-vos,
eu perca todo o bem que logro em ver-vos,
e de ver-vos também toda a esperança"
(Camões ) e Lai

Diacho de terra. 






Amanhecer na terra dos tugas

Nunca pergunte em uma confeitaria onde fica a confeitaria Porto Rico, não irão informar. Começando pelo dono e terminando no empregado. 
E tu sabe? Sei que existe quando vou de carro. Quando estou caminhando me perco em ruas estreitas. De carro são tantas voltas que chego com a sensação do mineiro: é logo ali uai. Essa turma capitalista desenfreada esquece que é só digitar no google: confeitaria Porto Rico. A inveja na terra dos tugas assim como o fumo (fogo) é uma praga.




Existe um certo preconceito ao você mas se você quiser continuar sendo você continue pronunciando você. Será sempre uma surpresa interessante analisar o semblante de quem escuta: Ei, ei você aí....

Os habitantes do Porto gostam muito de ler e eu me identifico com eles. Não sou biografa e muito menos historiadora.  Tivemos três fabulosos: Josefo, Heródoto e Wil Durant, para mim são suficientes, o resto conta o que apetece.

 E viva D. Sebastiao! Não esqueço Fão por dois motivos: pelas deliciosas clarinhas e sua ficção enterrada na surrealidade.

Ainda estou tentando me adaptar a esse povo vestido na praia,  tinha visto isso na Itália em pleno verão. Vestidos de calça, cintos, sapatos. E dizem que gostam do Sol.
Ta certo que existe um vento, mas sabe aquele vento refrescante de ventilador ligado? Na terra da garoa diríamos: segura o vento que ele vem vindo. E depois: Segura o tchan.... Andar de sapato ou tênis na praia na minha opinião é uma heresia.



. .. Se de resto Garret pode nascer no calor do seu coração se António Nobre, pode morar em paz dentro das suas portas, e se mesmo em uma de suas cadeias pode ser escrito o amor de perdição ...
Mesmo assim o Tribunal do Santo Ofício perdura na terra dos tugas





Na terra dos tugas em busca do coração de D. Pedro carregando nas mãos amor de perdição, eu em um dia que não lembrarei mais 

Aqui não se diz menor ou adolescente e sim miúdos podem já estarem barbados e com pelo no saco que são miúdos.

Agora que acabou as férias encontram-se dezenas deles em grupos pelas ruas ou em frente às escolas. E por falar nisso como fumam. De um grupinho de cinco, quatro fumam e em sua maioria mulheres. São iguais como o resto do mundo. Fumam , bebem, caçam Pokémon e se cumprimentam com socos de luta livre. Estava eu numa tarde dessas la na praia do molhe vendo os miúdos deixando suas roupas e mochilas em um canto e o mergulho nas águas geladas do Atlântico. Fiquei olhando com uma vontade imensa de fazer o mesmo, controlando o desejo de vir a dar um mal exemplo aos adolescentes e adultos retardados.

A primeira vez que tomei conhecimento da grandiosidade que foi o descobrimento do Brasil foi na Vila do Conde. Estava eu ali ao lado de uma réplica da nau de Cabral olhando o rio se encontrando com o mar. Era uma tarde calma sem vento foi num dia assim que Cabral partiu. Olhar o Atlântico em toda a sua grandiosidade e cor aqui em Portugal não foi normal, naquele momento fui acometida pelo misterioso medo ancestral à chegada e ao novo em uma nau. 





Não imaginava que o coração de Dom Pedro estivesse dentro da igreja da Lapa. Acho que ouvi vagamente isso mas não dei muita importância. De que serve um coração que não pulsa mais? Como se mantém? De quatro em quatro anos a porta é aberta por funcionários da câmara Municipal do Porto, de modo a substituir o liquido na jarra em que o coração esta inserido. Onde está o corpo? Simples, o seu coração esta na igreja da Lapa e os restos mortais estão na Basílica do Ipiranga a dois quilômetros de São Paulo (Brasil). Um rei que se dividiu em dois, apaixonado por dois continentes: Brasil/Portugal. O que sentiu esse rei? Uma perturbação de afeições a que vaga pátria? A que costa? A que navio? A que cais?

Procurei por outros mortos sentir uma saudade angustiada a qualquer coisa, a uma história? A um homem? A um amor? Que mal fariam a Deus os nossos inocentes desejos?.... por que não merecemos nós o que tanta gente tem?
Encontrei uma lapide escrita: ninguém. Ninguém estava ali. Exceto esses negros e sujos mausoléus existia eu com os cabelos cobertos com um lenço e a chuva fina caindo sobre o meu corpo.

"Que mal fariam a Deus os nossos inocentes desejos?!  por que não merecemos nós o que tanta gente tem?!  O pior são as saudades. Ao menos morrer é esquecer"

(Camilo Castelo Branco)

Marcia Mesquita - Talvez em 2016




Viajando na terra dos tugas

Andar ao léu, andar sem rumo em PT diz: andar no lareu.


 Boteco no Brasil é aquele lugar onde se toma um cafezinho ou uma pinga naqueles copos de vidro Nadir Figueiredo, em PT é diferente, o ambiente e sofisticado e pinga nem pensar, um vinho do Porto sim. São todos parecidos com o café Fran's. Em cada esquina tem um e continua tendo pela rua um atrás do outro.


Sapateiro aqui ainda é uma profissão. Tem muitos, assim como sapatos de couro coisa que deixou de existir há muito tempo na terra verde e amarela.

Padaria aqui e raridade, mudaram o nome para confeitaria. A mais famosa é a confeitaria Porto Rico.

Ainda não consigo entender por que atrás ou na frente de uma igreja em PT sempre existe um cemitério. Eles cairiam melhor ao lado de um hospital. Essa Igreja é a igreja da Lapa. 




Morreu tão jovem o Dr. Leonardo Torres - Teria sido médico, advogado? Aqui em Portugal todo mundo é doutor, exceto quem trabalha em limpeza, atendente de mesa ou  em segurança, pois ai seria demais. Afinal, quem seriam os lambe botas?



A placa não é só um aviso de auto ajuda tipo que bonitinha é um hábito um modo de vida, passado de pai para filho nem todo país é tropical e tem carnaval.




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