Monte Verde com Anita Bortz
Anita
Bortz
Quando
conheci D. Anita, ela morava atrás do Banco Bradesco
Fazia
apfelstrudel, licor, geleias.... Uma senhora bem ativa
Ontem
passando na rua, uma outra rua onde ela foi morar há vinte anos atrás
Depois
de ter sido despejada da casa atrás do Banco Bradesco...
Isso
é uma outra história
Fiquei
algum tempo na cerca pensando: chamo ou não chamo?
Nem
precisei, ela apareceu na porta com seu andador
Mandou
que eu entrasse
Ainda não sabia se queria
No
fundo não queria
Quem
quer compartilhar a tristeza e as lembranças de uma pessoa?
Ninguém
No Facebook me parece que todo mundo
Quero
ver pessoalmente!
Pensam
que eu nasci ontem?
Bom,
ela veio ate o portão em seu andador, e eu deixei
Fiquei
olhando, dizendo a mim mesma
É
bom que ela ande
Andar
faz bem
Quem
sou eu para pensar isso?
Era
isso que eu pensava
Ela
veio em dificuldade abriu o portão e pediu que eu entrasse
Disse
a ela que lembrava dela há vinte anos atrás, na casa atrás do banco
E
que eu estava passando e lembrei dela
Perguntei
se eu podia fazer algo por ela, talvez descascar as maçãs
Lavar
a louça ou qualquer coisa
Ela
disse que não, pediu que eu sentasse, e que iríamos conversar
Me
contou que era nascida em Ponte Nova, que tem irmãos tão velhos e doentes
quanto ela
Falou
da irmã vitima do câncer de mama
Falou
por meia hora, ou mais, tive que cortar e dizer que precisava ir
Mesmo
diante da insistência dela para que ficasse um pouco mais
A
minha impotência me incomoda um bocado
E
eu tinha que sair de dentro desse sentimento
Assim,
me despedi e segui pensando... nos pedidos daquela senhora...
Dona
Anita precisa tirar aquela velha Brasilia incendiada por vândalos que se
encontra debaixo da sua janela
Dona
Anita precisa de um banco em seu jardim para que possa sentar em dias de sol
Sentir
o sol em seus ossos nas manhãs ensolaradas
D.
Anita precisa de tanta coisa
Assim
como todos nós
Uns
precisam de ajuda e outros de ajudar
♥♡♥♡♥♡
-
Como se chamava seu pai D. Anita?
-
Moises, e meu avô Natan e minhas irmãs Sara, Ana, Elsa, Ana, Boris, José...
éramos nove irmãos
-
Por que a senhora perdeu suas terras?
-
A família foi vendendo
-
Mas por que a senhora deixou?
-
Tem irmãos que dão muito trabalho, tem irmãos que prejudicam mesmo a gente...
-
Mas por que a senhora não gritou, não disse não?
-
Deus não quis, a vontade de Deus não é a mesma da gente
-
Mas, quando a gente quer a gente muda a situação
-
Quando a gente é sozinha é muito difícil, perde se a força quando não encontramos
alguém que nos dê a mão - Finalizou D. Anita
Seu pai era russo judeu
Éle adotou o nome alemão, para fugir do comunismo que estava florescendo
E a Russia e a Alemanha viviam em paz
Éle adotou o nome alemão, para fugir do comunismo que estava florescendo
E a Russia e a Alemanha viviam em paz
Por volta de 1917, seu pai deixou a Rússia juntamente com um irmão
E seguiram com destino ao Brasil
Seu irmão veio para conhecer e mais tarde voltaria para buscar a família
Quando retornou, foi preso e enviado para a Sibéria
Nunca mais foi visto por ninguém da família
Seu pai sempre desejou retornar para procurar o irmão
Mas um irmã dizia: Estamos muito velhos para receber grandes emoções e fica quieto ai, você é fugitivo
E assim nunca mais saiu do Brasil
Casou com uma brasileira
Eram muito diferentes, seu pai muito instruído, lia a Bíblia no hebraico
Ela muito simples, sem estudo, muito trabalhadeira, plantava como ninguém
Colocava um matinho ali e logo nascia uma flor,
ficaram casados ate o fim de suas vidas
O pai foi perseguido no Brasil, na época da revolução de 1932
Por isso,
Nunca permitiu que os filhos aprendessem o russo
O pai virou brasileiro, naturalizou-se logo e conviveu muito bem com os brasileiros
Dona Anita é caipira, nasceu ali atrás da serra, em Ponte Nova
Essas terras ali - disse apontando - A floresta negra, eram tudo do seu avô, era parte da herança de sua mãe
E hoje ela não tem um pinheiro
- A senhora não casou? - perguntei
- Não quiseram casar comigo - Respondeu
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Dona Anita morreu em 2015 e esta enterrada no cemitério de Camanducaia e não precisa de mais nada. Sua casa que foi emprestada por pessoas caridosas hoje esta abandonada, fica depois da banco Bradesco, seguindo para a vila operária é a primeira rua a esquerda.
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