Lailin pelo mundo



Amigos

Tenho pensado aqui com meus botões: preciso justificar com alguns. 
Afinal se deixar de fazer isso ficará a impressão que não tenho compromisso com aquilo que falo. Tai uma coisa que me enfeza, pessoas que dizem uma coisa e fazem outra completamente diferente. Esses, não quero nem papo.
Aconteceu no final de dezembro. Um belo dia eu disse: 
- Lai, você precisa viajar!
- Boa ideia - respondi - Eu mereço cruzar as fronteiras

Só precisava de dois países para encher meus olhos de alegria. E como adquiri alguns amigos aqui no face que moram no primeiro país sonhado, comecei a interrogar alguns. E assim comecei a ir ate a sala de estar, embora não soubesse que horas eram por lá por conta do fuso horário, mas como sou impertinente, acredito que os visitava em horas improprias. No almoço, jantar, cagadeira, foda... Eles como pessoas civilizadas respondiam de forma brilhante todos os meus questionamentos. Comprei duas agendas, uma para fazer o roteiro, incluindo telefones de banco e da embaixada caso precisasse de socorro, o que não seria nenhuma novidade. A outra agenda denominei como sendo: Diário de bordo. Depois fui ao Youtube. Passei dois domingos inteiros vendo filmes que falavam sobre o país. Eram tão bem feitos, descreviam tão bem as ruas, os bairros, cidades, pessoas, a cultura, como viviam e a forma que tratavam umas as outras. Até pão aprendi a fazer. Um dia conversando com um amigo, ele disse que eu devia levar roupa de frio e roupa de calor. Não estranhei, pois aqui no Brasil é assim, um dia frio, um dia quente. Não demorou muito fui na rua Augusta atrás de mala. Os preços estavam pela hora da morte. Fui ate a 25 de março. Fiquei rodando, analisando as malas. Se era inverno e verão eu precisava de duas malas. Fui imaginando as coisas que colocaria dentro. Um casaco, um cachecol, uma bota, meias curtas, meias longas, espaço para a bolsa de maquiagem, espaço para o shampoo... Só um casaco? Impossível viver dias e dias com um casaco. Uma bota? Não, teria que levar mais uma... Foi ai que formei uma confusão mental e comecei a ver uma pobre mulher parecendo uma cigana, com fome, com sede, em um país estranho, com as pessoas passando e pouco se importando, carregando duas malas pesadas abarrotadas de inverno e verão... Sai rapidamente da loja quase em surto e não mais voltei.
Na volta para casa fui respirando fundo e dizendo calma, calma... Esta com a passagem comprada? Não! Então relaxa. Ok! Voltei para a sala de estar e novamente bati na porta:
- Ei, tem alguém ai?
Apareceu um gentleman. Perguntei a ele se no país dele existia trem que me levasse até o outro país, seu vizinho. Disse que se tinha desconhecia, pois não era seu costume andar de comboios, mas existia avião e era tipo rap-dez! Eu fiquei meditando sobre o fato naquele momento e até hoje penso nisso. Cruzar um país a outro em meia hora? Uma hora? Se fosse um país tipo Brasil que não tem fim... Uma hora ou meia hora vendo somente nuvens, isso se eu não fosse colocada naquele assento onde só se vê a asa do avião e só se ouve o barulho do motor, sem poder observar as cores do mundo que se cruza. Sem árvores passando, crianças dando tchau, rostos diversos e uma infinidade de sorrisos para ver e escolher: Eu quero aquele! E depois parar na fronteira e alguém me analisando de cima a baixo pedindo meu passaporte. Não teria isso? Que horror seria! Foi ai que pensei: E seu eu fosse até a rodovia? É até a estrada com minhas malas. Duas? Nem me lembra! Pediria carona. Tem coragem? Claro! Onde pensam que estou? No jardim Ângela? Paraisópolis? Baixada fluminense? Estou na civilização. Civilização vem de civilizados e não de barbaridade. E sendo assim, seria tratada como convidada, como irmã, mãe, tia, avó... Até me pagariam um café. Duvidam? Eu não!

A coisa não parou por ai. Tudo isso porque chega um dia em que todos terão que passar pelo cabo da boa esperança. Coisa terrível é passar pelo cabo da boa esperança. É um lugar, um tempo em que você começa a criar obsessão pelo pensar, a analisar muito o que vai fazer, TUDO, tim tim por tim tim e na maioria das vezes no final acaba dizendo: Deixa pra lá! Saudades que eu tenho da época em que não existia nada disso. Arrumava minhas tralhas em uma pequena maleta e quando alguém da família perguntava:
- Aonde você vai ? 
- Ali - dizia já virando a esquina e voltava depois de três meses 
quando não, demorava anos



Penso sobre...

Que tanto Leonardo Padura fala bem de Raymond Chandler? Um dos escritores para quem professa uma devoção enorme?

Ninguém é inteiramente consistente, e a maioria de nós é uma confusão de pensamentos, valores e comportamentos que, com frequência, entram em conflito


E o que dizer das pessoas que agem como se qualquer ato de gentileza delas fosse um grande feito?
O que dizer das desculpas?
É possível discernir entre uma desculpa sincera e uma vazia?







O Brasileiro é o Português - dilatado pelo calor. (Eça)

Quando eu pensei que tudo estava perdido
que só restava
meu sangue derramado
na linha do metrô
eis que aparece ele
Ele quem Cristo redentor?
Ora, um português
Aquele da minha infância
dos maravilhosos livros
e não sei por que cargas d'agua eu tinha esquecido dele
que tanto alegrou a minha vida
Foi esse facebook
cheio de Camões, Pessoa, Florbela, e aqueles outros bandos de depressivos

Não se descuide de ser alegre - só a alegria dá alma é luz à Ironia, à Santa Ironia - que sem ela não é mais que uma amargura vazia.
(EÇa)

Tudo que não seja viver escondido numa casinhola, pobre ou rica, com uma pessoa que se ame, e no adorável conforto espiritual que dê esse amor - me parece agora vão, fictício, inútil, oco e ligeiramente imbecil.
(Eça)

É o coração que faz o carácter.
(Eça)

A criança portuguesa é excessivamente viva, inteligente e imaginativa. Em geral, nós outros, os Portugueses, só começamos a ser idiotas - quando chegamos à idade da razão. Em pequenos temos todos uma pontinha de génio.
(Eça)

O amor, (...), como tu sabes é feito de muitos sentimentos diferentes. Alguém escreveu, creio que até fui eu - que era uma bela flor com raízes diversas. Ora quando uma dessas raízes é a estima absoluta pode ele ao fim de longos anos secar pelas outras raízes mas permanecer vivo por essa.
(Eça)

Eça e Lai  (Dois amados)


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