O Narrador me transporta à antiga casa cinza de sua tia Leonie, no vilarejo de Combray, com seus quartos e sala, lindo jardim com todas as flores de verão, os portões por onde se ia até a praça e daí, aos dois caminhos: um que conduzia a Tansoville, onde estão as flores dos jardins de Swann e o outro para os lados de Guermantes, onde o rio Vivonne, no seu eterno correr, abriga, tal qual nos quadros de Monet, suas lindas ninféias...
Talvez este se torne o meu novo livro de cabeceira onde terei que ler e reler e anotar com caneta aquilo que voltarei sempre a ler em um momento oportuno. Como agora em um pálido dia, transcrevo trechos abaixo: "Vamos! Vamos! Vamos!"
(...) insinuava em mim duas suspeitas terrivelmente dolorosas. A primeira era de que a minha vida tinha já começado (quando todos os dias me considerava como que no limiar da minha vida ainda intacta, e que só começaria no dia seguinte de manhã), mais ainda, que o que se ia seguir não seria muito diferente do antecedente. A segunda suspeita, que a bem dizer não passava de outra forma da primeira, era de que não estava situado fora do Tempo, antes sujeito às suas leis (…) Teoricamente sabe-se que a terra gira, mas de facto não damos por isso, o chão que pisamos parece que não se mexe e vivemos tranquilos. É o que se passa com o Tempo na vida.
Quando subia para me deitar, meu único consolo era que mamãe viria beijar-me na cama. Mas tão pouco durava aquilo, tão depressa descia ela, que o momento em que a ouvia subir a escada e quando passava pelo corredor de porta dupla o leve frêmito de seu vestido de jardim, de musselina branca , com pequenos festões de palha trançada, era para mim um momento doloroso. Anunciava aquele que viria depois, em que ela me deixaria, voltando para baixo. Assim, aquela despedida de que tanto gostava chegava eu a desejar que viesse o mais tarde possível, para que se prolongasse o tempo de espera em que mamãe ainda não aparecia. As vezes, quando depois de me haver beijado, abria a porta para partir, desejava dizer-lhe: "beija-me ainda outra vez"
Já homem pela covardia, eu fazia o que todos nós fazemos, uma vez que somos grandes, quando há diante de nós sofrimentos e injustiças: não queremos vê-los; ia soluçar lá no alto da casa, ao lado da sala de estudos, sob os telhados, numa pequena peça que cheirava a íris, também perfumada por uma groselheira silvestre que crescera fora entre as pedras da muralha e passava um ramo florido pela janela entreaberta. Destinada a um uso mais especial e mais vulgar, aquela peça, de onde se tinha vista, de dia, até o torreão de Roussainville-dePin, me serviu por muito tempo de refúgio, sem dúvida por ser a única que me era permitido fechar a chave para todas as minhas ocupações que demandavam uma inviolável solidão: a leitura, a cisma, as lágrimas e a voluptuosidade.
Muitos anos fazia que, de Combray, tudo quanto não fosse o teatro e o drama do meu deitar não mais existia para mim, quando por um dia de inverno, ao voltar para casa, vendo minha mãe que eu tinha frio, ofereceu-me chá, coisa que era contra os meus hábitos. A principio recusei, mas não sei por que, terminei aceitando. Ela mandou buscar um desses bolinhos pequenos e cheio chamados madalenas e que parecem moldados na valsa estriada de uma concha de S. Tiago.
Trata de conservar sempre um pedaço de céu acima da tua vida, meu menino - acrescentava, voltando-se para mim - Tens uma bela alma, de qualidade rara, uma natureza de artista, não a deixes em falta do que lhe é preciso
Tanto mais agradáveis foram meus passeios naquele outono porque os dava depois de ter passado muitas horas com um livro.
Quando me cansava de ler toda a manhã na sala, lançava o plaid aos ombros e saia: meu corpo, obrigado por muito tempo a conservar-se imóvel, mas que se fora carregando de animação e
velocidade acumuladas, precisava logo, como um pião que se solta, despendê-las em todas as direções. Os muros das casas, a sebe de Tansonville, as árvores do bosque de Roussainville, os matagais, recebiam golpes de guarda-chuva ou de bengala, ouviam gritos alegres, que não passavam, uns e outros, de idéias confusas que me exaltavam e ainda não haviam alcançado o repouso de plena claridade, preferindo, a um lento e penoso esclarecimento, o prazer de uma derivação mais fácil para um escape imediato.
Matéria protegida pela lei dos direitos autorais numero 9.610 de 19.02.1998 Resumo : Uma viagem ao inferno manicomial. Um jovem de classe média leva uma vida comum até o dia em que o pai o interna em um manicômio depois de encontrar um cigarro de maconha em seu bolso. O fato é a gota d’agua que deflagra a tragédia na família. No manicômio Neto conhece uma realidade absurda e desumana onde os internos são devorados por um sistema corrupto e cruel. Resenha : Para entender a origem de um manicômio temos que pesquisar a história... A implantação de uma legislação referente aos doentes mentais no Brasil partiu do primeiro catedrático de psiquiatria da faculdade de medicina do Rio de Janeiro o deputado João Carlos Teixeira Brandão. Este veio a ser o relator do decreto ...
Velho. É o que sou. Quero tudo e nada quero. Posso? Permites-me tal ousadia? Subir a mais alta montanha, conhecer o algures e o nenhures; tocar o fundo de todos os mares e deitar-me com as estrelas e correr como o vento. Ernest Hemingway Capirtulo I Segunda-Feira, 13 de janeiro, 10:59hs - Mensagem para Margarida - Bom dia. Sua casa foi poupada? Esta nela agora? Nos conseguimos entrar, eu preciso de algumas informações que talvez você possa fornecer. - Hi Ana, How are you? - Não. Tudo ficou pior do que antes. O bairro que eu amava caminhar praticamente desapareceu. Sobreviveu 20% dele. Foi muito triste. Esta sendo muito triste. Eu tinha dificuldade de me adaptar a esse pais em virtude da indiferença e de repente me vejo unida na tristeza. Mas o mundo todo esta assim e isso não é novo. Interessante que as etapas do viver cada dia se tornam pior principalmente para os lúcidos. Antes a nossa felicidade era comer, isso nos foi tirado. Depois nos apegamos ao dormir, isso também nos foi tirad...
Damião, vassourinha, blá, blá, blá Você foi desprezado por muitos que diziam ser seu amigo, mas que ao te encontrarem na estrada ou em algum lugar onde existiam pessoas mais “interessantes” do que a sua triste e ao mesmo tempo engraçada figura, faziam de conta que não estavam te vendo. Naquele momento você abaixava a cabeça levemente acometido por uma leve tristeza. Não só você (por morar em uma cidade pequena, uma vila, o desprezo era algo muito nítido, muito claro, as amizades por interesses ficavam expostos à luz do sol e não da lamparina) mas, todos aqueles que não foram agraciados pelo “sucesso” eram desprezados e acabavam montando um pequeno grupo de amigos. É claro Dami, que fique bem entendido, você não tinha uma casa digna de ostentação, morava de favor em uma porta no segundo portal, e muito menos tinha um carro com tração nas quatro. Talvez esse tenha sido o motivo de sempre você estar lembrando a todos eles: “Você lembra o palhaço vassourinha do programa Raul...
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