Memórias do carcere de Camilo Castelo Branco revisitado por Lai em a vida como ela é




Nunca precisei tanto de Ana Plácido quanto agora. Quando ela me disse: “Camilo, casa comigo” fiquei com medo e tentei argumentar que ainda era cedo. E de repente (coisa que nunca me acontecera antes) tive medo de dizer não e perde-la definitivamente, por ela seria capaz de enfrentar o mundo todo. Se tivesse conseguido esconder nosso amor da vida pública, mas quando nossos encontros vieram a tona o esposo enciumado moveu uma queixa crime, Ana não resistiu e se entregou, a seguir depois de perambular por alguns sítios resolvi eu seguir também o mesmo destino. Agora éramos motivo de conversas em toda a cidade, riem-se de nós em toda os cantos, quem me vê me examina e me julga.








É a manhã de mais um dia. 
O carcereiro trouxe o café, ainda pela metade, deposito a xícara na mesinha de cabeceira onde escrevo. Escuto a voz de uma pessoa na casa em frente que diz: 
“Ela só sabe me magoar, ela só sabe magoar”. 
Escrevo o que gostaria de dizer a ela: 
“Só há dois tipos de pessoas que não nos magoam: os perfeitos e os mortos”... 
O que pode fazer é  não guardar ressentimento, pois se assim o fizer estará guardando lixo. Faça com que os seus dias sejam proveitosos, mesmo que não enxergue o horizonte ou que ele esteja momentaneamente assim como o meu desenhado em grades. Se do interior dessa cela uma mensagem pudesse chegar aos homens livres mandaria esta: “Faz da magoas confete joga para o ar e deixa o vento levar”


                                                    Capitulo III

A um certo modo de olhar, a um jeito de dar a mão, nós nos reconhecemos e a isto chamamos de amor.... 

(Camilo e Ana Plácido)


Só vejo nuvens aqui da minha cela. Nuvens e uma árvore enorme um pinheiro de muitos anos lembrando  asas de pássaro voando. É o canto deles que escuto misturado as recordações que assomam agora a minha mente. Estava tão terrível as coisas lá em casa que não sei mais distinguir, pois os sentimentos se misturam a este momento. O calor infernal. Minha solidão acompanhada. A mulher que há anos partilhava comigo o mesmo ambiente não significava mais nada em minha vida. Foi em quatro de agosto retrasado que caiu sobre mim o fracasso daquela relação e não suportando mais pedi a separação. Três anos já se passaram desde este dia e nada mudou. Nenhum carinho, nenhum beijo, sequer um abraço. Dia nascia dia morria e nós sem uma palavra. Se eu não lhe perguntasse algo ou lhe dirigisse a palavra nada acontecia... Comecei a amar outra... E um dia deitamos em uma grande cama e o amor venceu em nós a última suspeita de estarmos talvez a trair alguém ou alguma coisa.



- Ana, se precisares de alguma coisa, seja o que for, sabes que estou aqui, que estou todo contigo.


- Eu sei – ela me respondeu.


A lágrima nos olhos de Ana era a da emoção que originava a imagem de uma Ana decidida a oferecer a sua vida em sacrifício para ficar ao meu lado. Estávamos deitados um ao lado de outro não como marido e mulher, mas como amantes. Nunca em minha vida tinha  associado qualquer imagem sexual, nem mesmo no mais escondido do meu pensamento, até aquele dia em que meu corpo encheu-se de uma excitação e desejo inteiramente desconhecidos para mim. O que nos separava não era o desconhecido mas o proibido; um proibido pela moral da época, uma proibição que nos via como criminosos e que com o passar dos dias se tornava cada vez mais ultrapassado. Para nós não havia nada mais desejável e sublime que o corpo um do outro. Com uma excitação intensa comecei a fazer amor com Ana e amei-a com um ardor voraz, como nunca na minha vida amei ninguém. 



capitulo II

Ao Magnifico Camilo, autor de Amor de Perdição (Plágio do inicio do livro O príncipe)

Agora são duas da manhã, fui acordada por um bêbado que errou de porta. É por essas e outras que digo: Quatro dias de Carnaval serve para descansar, ler, dormir e retornar sempre ao item um. Se todos fizessem isso evitariam transtornos como a quebra de um pacifico sono que começou as 23hs do dia anterior. Esse fato fez com que essa alma que ora te fala sentasse como um zumbi nesta sala semiescura e no mais inconveniente momento, pois se tem alguma coisa sagrada é o sono,   motivo que fez com que eu retornasse as minhas divagações sobre o homem, o escritor, e seu suicídio em uma montanha fria em um lugar de nome Brasil. O que você tem com isso? Tem tudo. Porque um dia vão te fazer de bobo também. E eu tenho conversado muito com meus botões desde o dia em que fui ludibriada. Sim, ludibriada. No bom sentido da palavra e da enganação. Foi no sábado. Sábado dia santo, dia de descanso e descanso para mim é sagrado e significa ver a natureza, o mar a grama, uma horta de couve, um pé de milho... Ah vamos ver a exposição de fotografias de autores de rua. Deus me livre, diria eu. Ah vamos ver a escadas da livraria  fulano de tal. Não obrigada estou bem aqui. Ah, vamos ver o Douro. O douro eu já vi. Não,  não, não é esse que você vê, me refiro ao outro Douro. Ai, falou alguma coisa que eu não lembro mais porque minha mente ficou abismada pensando um outro Douro, que raios disso que eu nunca tinha visto? Que mania é essa a minha de achar que uma coisa começa e termina onde alcança minha visão? Como fui ludibriada agora me encontro às três horas da madrugada em hora imprópria para uma mortal dorminhoca se encontrar digitando no Senhor Google, pai dos burros, algo tipo: Quantos Douros existem? Dois. Por enquanto são dois. Não vou me atrever a dizer que isso  é um número finito, pois a essas horas não vou ficar lendo as inúmeras informações que ora o  Senhor Google como o mágico da lâmpada me fornece. O que vejo de primeira mão, já me satisfaz e faz cair por terra minha primeira descoberta. O Douro não é somente esse pedaço que você vê ai da sua cela de número doze. E que eu vejo aqui da minha famigerada liberdade e que dou de bom grado essa liberdade a todo menino de doze anos e a todos aqueles que tem a menina e o menino dentro de si e que graças ao bom Deus da alegria não morre nunca. O Douro dos miúdos que mergulham da ponte D. Luis I, ou D. Maria Pia como você conhece é um Douro, o de número um, aquele que conheço. Estava realizada com esse fato e isso me bastava não fosse há uma semana atrás ter ouvido: Vamos conhecer o Douro. Vai você eu já conheço, respondi. Conhece não. É não conheço, descubro agora e não foi graças a você, pois no dia que deveria conhecer o Douro que agora conheço pelo google o Douro das uvas suculentas, fui ludibriada com a noticia: Não vamos ao Douro, vamos ao cinema. Cinema, que horror que tormento. Há anos que não vou no cinema. Odeio aquele lugar. Mas fazer o que com alguém que  parecia tão animado e eu tão sempre do contra querendo ir ver o grito do mar, o barulho das pedras em meus pés, a caricia da grama, o olhar para as árvores com seus galhos secos, os gritos das gaivotas... Quando pensei nisso estava já quase a gritar socorro e então uma voz dentro de mim disse fica na sua e vai. Lembre-se da força e da coragem que Camilo teve para naquele manhã ir de livre e espontânea pressão e se apresentar ao carcereiro e dizer: "Bom dia, procuram por mim?" Assim como você quando aqui chegou teve um tempo escrito no livre das leis que dizia: "No máximo até dois dias vá até o SEF e se apresente". E ali carimbaram em sua alma e mente, foi aquela mulher que parecia uma pivete apontando para a sua cara  mostrando todos os dentes e o tempo no calendário: "É  esse o período nem mais e nem menos". Ah, miserável dizia eu enquanto saia daquele lugar de nome CNAIN com as algemas e as correntes que me pesam duzentos quilos subi maldizendo  a rua da Boa Vista, e assim caminho até o dia de hoje, carnaval de 2017 EC. Foi com elas que na manhã de sábado seguia eu por aquele Shopping, malditos sejam, estão em toda parte, não duvido nada se logo, logo não instalarem um nas minhas montanhas, depois quando a gente não encontra outra opção que não seja a morte, ficam todos indignados, dizendo era ainda tão jovem, tinha tudo pela frente... Foi isso que fizeram com Stefan Zweig, e é isso que tentam fazer contigo Camilo, mas não caia nessa, assim como eu fui ludibriada aprenda a ludibria-los. Esta certo que quando ouvi vamos ver Stefan Zweig e seu Adeus Europa, meu coração deu um certo pulo, um pulo carinhoso pelo autor de uma novela e um filme que está em minha garganta e se eu fosse competente o suficiente assim como sou para encontrar um bom livro, escreveria: Carta de uma desconhecida. E quando penso em Stefan penso em Louis Jourdan, Joan Fontaine e aquele trem... E assim, não liguei quando  foi me mostrado a matéria no Expresso, no dia eu nem li, não queria ler porque sobre Stefan já tinha opinião formada e por ele faria qualquer coisa e depois  já era manhã e fui pega de surpresa, porque fui dormir com o Douro na mente, porque sou como criança, quando me falam que vamos fazer algo e eu gosto daquilo fico com aquilo na cabeça. E lá fui eu com minhas correntes para as horas mais tortuosas e sem fim que me lembro de ter passado ainda no inicio desse ano da EC. Não preciso dizer o que acontecia comigo ali, tu já imaginaste Me contorcia, em dores mentais me contorcia. Aquele povo, aquela malta, aquelas crianças, aqueles miúdos, aquela sala de alimentação, aquele monte de comida, tudo rodava em minha mente. Meu Deus dizia enquanto procurava um banheiro, não uma casa de banho. Contava os minutos. Já estava na hora? Você não falou 13:15? Fui lá e me disseram 13:50. Treze e cinquenta com mais meia hora de propaganda. Eu não entendo, eu não vivo no século XIX? Sim vive, ou seja,  tem dias,  em outros você vive em frente ao prédio da casa da música. Se pelo menos eu virasse do lado e dormisse. Bem que tentei e ensaiei uma soneca, mas precisava ver aquilo até o fim eu não acreditava que estava vendo aquilo. E o que eu via. NADA. Nada? É nadica de nada. Quanto tempo passaram pra fazer aquilo? Quanto custou isso? Quanto tempo e energia gasto a toa. Stefan  estava tão tranquilo em seu tumulo, eu tinha  até me esquecido de Carta de uma desconhecida, de sua biografia O mundo em que eu vivi. Tinha até te perdoado por ter escrito: Brasil, um país do futuro, e de repente isso. Meu Deus por que não deixam os mortos em paz.  O que o filme traz de novo ou de instrutivo. NADA. Umas entrevistas. Passagem de sua vida por países como se você estivesse perdido. E quem não ficou desde então? Sequer foi filmado no Brasil. Bem que eu desconfiei.  Quando a câmara mostrou Stefan e sua esposa visitando uma plantação de cana eu já pensei: que estranho, que lugar estranho, essa cana não me convence e depois a sua casa em Petrópolis, eu pensei: um europeu jamais ficaria numa casa assim,  e outra Petrópolis é nas montanhas é um lugar frio, as casas são diferentes, estilo europeu como as que eu tenho nas minhas montanhas. E quando eu vi uma pedra envolta na neblina que parecia ser o dedo de Deus ou Pedra da Gávea, ai eu pensei também, que estranho muito estranho parece e não parece...Que mentirosos. Foi só depois, no final na hora que eu mais gostei a hora em que tudo aquilo terminou e ainda fiquei ali,  não porque eu quisesse, porque se dependesse de mim teria saído dali como um meteoro, mas uma mão gentilmente me parou e eu vi com esses olhos que a terra não há de comer, eu vi o letreiro final dizendo: filmado em Porto Príncipe. Agora sim a vergonha era total. Ainda bem que Stefan não esta mais aqui vive na memória de quem o conheceu pelos seus livros, e consegue entender com seu legado o mundo que existia antes e pós o seu paraíso perdido. Stefan foi um felizardo por ter conhecido esse mundo, porque eu e milhões de outros só vimos fotos e depoimentos de como era em livros e mesmo assim parece mito. De resto vamos vivendo, eu e Camilo tentando tirar de letra o terror que se estabeleceu com aquela explosão que mantem o mundo em tumulto e agitação desde então. . . . A centelha ocorreu em 28 de junho de 1914, quando o Arquiduque Francis Ferdinand, herdeiro presuntivo do trono austro-húngaro — foi assassinado em Sarajevo.



Estive a tarde toda na Foz, estava frio, não fosse o sol que levemente e deliciosamente aquecia seria difícil suportar. Olhava o mar azul escuro cheguei bem perto dele do alto avistei dois pescadores, tive que segurar minha mente e meu corpo e conter a vontade que senti de descer até eles  sem dizer nada sem pedir licença ou despedir com um até logo  mergulhar lentamente sem dar tempo de ninguém  impedir,  ao afundar ouviria a palavra: Louca! Quanto tempo temos para escrever o romance de nossas vidas antes de ir? Foi neste instante que voltei e vi aquele homem atrás, muito perto , um desconhecido que olhava. A mim ou o mar? Enxuguei as lagrimas e pensei: Só mais um pouco, a vida é assim, um piscar de olhos. Ainda ouvia os gritos do homem que no dia anterior tinha dito: “Minha vida, minha vida, minha vida!!! Eu queria tanto construir a minha vida contigo!”. Fui me recompondo lentamente. Tinha um compromisso, havia combinado com Camilo na cadeia da relação... Lembra-te, luz que me ilumina e cega, lembra-te…



                                                                      Capitulo II


... Ano de 1860 século XIX, pensa que sou idiota – Pensei com meus botões a resposta daquele homem. Era só seguir a seta em direção a porta e encontrar um novo roteiro. É interessante supor Camilo Castelo Branco, de imaginação fértil, a resmungar na sua cela n.º 12, como leão enjaulado, por ter cometido crime que, agora século XXI, já nem o é: relações sexuais com mulher casada.


“O que nós queremos? Tudo” – (manifestação em Paris/1970)


“O que queres? O que queres?” – Gritava o homem dentro do carro com uma mulher que deveria ser sua mulher em frente ao cemitério de Paranhos. Passava eu por eles e assustada olhei, dei alguns passos a frente deles e voltei os olhos esperando ver o que acontecia para deixar aquele homem tão nervoso, nervoso é apelido, raivoso seria o nome. Aliás, nunca vi um lugar tão cheio de gente de maus feitios. Era sua mulher (só podia ser) que sentada esperava algo e foi ai que ouvi dizer. “Você quer que eu vá abrir a porta para você?” Não sei por que raios ela iria de querer isso, afinal pela aparência dos dois já deviam estar casados por trinta ou mais anos, não eram mais namorados, poderiam até ser amantes, mas nem isso. Pena pensar isso mas é assim que esse mundo funciona... Vi ainda ele saindo e ela abrindo a sua porta do carro e seguindo.  Ou seja, mulher seguia na frente e o homem seguiu atrás. Foram até a barraca da senhora vendedora de cravos e rosas de defuntos ali na calçada em frente ao cemitério. Iriam visitar seus mortos. Sabiam eles que também estavam mortos? Pessoas agressivas que não demonstram amor, amor fraternal ou algo assim estão fadados a morte se não a morte debaixo da terra essa que os olhos veem a céu aberto. Como eles podem se dirigir a quem não esta mais aqui, murmurar  uma oração, uma reza diante de tanta intolerância a dois? Um filme em câmara lenta rodava em minha mente com personagens estranhos e paisagens góticas. E todos com as mãos abanando, tanto desejaram. O que ganharam? Nada. 



capitulo II

Mais um dia, mais uma manhã nesse ambiente. Até quando meu Deus... Espero da liberdade que me tragam noticias de fora e papeis, preciso de muitos. Preciso escrever se não enlouqueço é quando saio e me olho de dentro para fora.



Todas as manhãs quando acordo sou acometido por enorme angustia enquanto agarro as grades enferrujadas tento ver as horas  no relógio da torre dos clérigos. Estou dentro de um monstro que me roubou o mundo e me fechou, preciso achar o caminho para não perder a cabeça e os pensamentos. Preciso do outro, preciso ouvir o outro nem que seja uma hora por dia. Espero logo mais ser levado ao pátio do sol e lá sentarei com a mulher que envenenou o marido escrever é um trabalho em que precisamos sujar as mãos. A. Plácido, esta instalada num corredor porque não há celas para senhoras de sociedade, ouvi dizer que a colocarão no segundo andar na ala destinada aos homens com alguma posse e as mulheres de condições. Enquanto isso senhora Joaninha, mulher de posses esta na cela das mulheres, celas de Santa Teresa. Está essa pequena senhora junto com outras condenadas a pena capital. Quando aqui chegou dizia a outros detentos ser inocente, depois diante das inúmeras provas  acabou confessando... A mim,  contou em detalhes o que fez naquela noite véspera de natal


- Matei sim, sim matei não adianta dizer que não. Matei porque      era a mim que estavam matando lentamente. Todos eles, marido, filhos e noras. Queriam meu dinheiro, estavam de olho na herança. Fui enganada quando aquele homem me disse que me amava. Isso foi antes, antes de casar... Depois mal falava comigo e quando falava era com segundas intenções. Era agressivo e dizia que eu era suja. O único beijo que me deu foi  quando eu tomei a iniciativa e mesmo assim limpou com a manga da camisa. O veneno era para ser consumido por todos. Coloquei a noite nas garrafas de vinhos. Soubesse que o resto da família ficaria nos bolinhos de bacalhau e nos ovos mexidos com grelos e cebolas teria começado por ali. Não existe crime perfeito, mesmo que seja premeditado, algo falha. Morreu me amaldiçoando o maldito 





Capitulo II

Contorno o edifício, olho em direção a sua sala, esperando encontrar seu vulto, penso ver suas mãos segurando a grade, ainda digo um ei Camiloooooo... Vejo  desaparecerem deixando o segundo grito preso na garganta. Não deu. Dou um passo para trás e sigo em direção ao Mercado do Anjo, esse formigueiro de vidas. Compro algumas frutas e legumes para o almoço e sigo em frente com destino a rua Ocidental do Bolhão.
Paro um senhor que passa por mim e pergunto a ele: - Por favor Senhor em qual século estamos? - Olhando-me surpreso prestes a me dar uma bengalada diz: - Como não há de saber minha senhora, estamos no ano de 1860, século XIX!



Capitulo I


Camilo....A primeira vergonha que senti foi quando encontrei seu túmulo no cemitério da Lapa, praticamente como indigente.A segunda foi hoje. Que decepção. ... Que desgraça. ...Está certo que não gostava de encontrar um monumento de reverência sobre um local onde foi sua via crucis. Mas isso? Um Museu de máquinas fotográficas. Façam me o favor. Simplesmente ridículo. Não combina com o prédio. Com o que foi: um tribunal e uma cadeia. Assim como não combina a sua foto e os dizeres do ano em que estiveste preso e o motivo. Como sê o motivo fosse uma punição eterna, embora na altura do campeonato é motivo de chacota. O que eu não entendo é porque permitem o seu nome e sua foto ali a troco de nada. Para atrair o que? Indignação? Adultério deixou de ser crime há muito tempo.
Aliás adultério é moda
Não é nem se a moda pega!


O que interessa a quem passa por ali ler sobre ou ver sua foto? Saibam que o tempo em que estive ali ninguém parou por esse motivo, sequer para ler. Exceto a otária aqui. Que entrou parou e pensou... queria encontrar algo.... Uma lembrança uma historia que fosse.... e nada somente essa vergonha. Mais uma Camilo para a sua coleção. Dentro do que foi a sua cela nada.... não se acha nada sobre a sua pessoa... sua cama, sua mesa, seus... livros... somente um monte de máquinas fotográficas horrorosas do tempo de Matusalém


Não entendo porque seu nome na porta e os dizeres: indiciado por crime de adultério, fizerem questão de escrever o crime cometido. Até em inglês. Só faltou o grego. Tive vontade de pegar a placa e jogar pela janela como se resolvesse. Farão outra....Eternamente não te darão paz, gente horrorosa.



"É preciso arrasar com tudo isso" 

- D. Pedro V - em 1861 se referindo a cadeia da relação


<3


É um mês de inverno e o ano 1860, quase dezembro, dois meses se passaram desde o dia em que me apresentei para cumprir a minha pena. Minha janela esta situada no último piso, conhecido com “quartos de malta” é a melhor cela individual da cadeia, mesmo assim isso de nada melhora meu estado de espirito que a cada dia se torna mais triste. Não sei dizer por quantas vezes minhas mãos ficaram pousadas no peitoril junto as grades enquanto meus olhos miram ao longe a igreja do Bonfim. 




É no silêncio do último piso, onde se situa a cela com janela para nascente que escrevo minhas memórias.

:)


E assim vou entrando em ti enquanto procuro ter a mesma visão e o mesmo sentimento que teve quando olhava pelas grades a procura de um pouco de liberdade .... Hoje estive novamente no prédio. O "carcereiro" disse que não era dia de visita olhei a porta que da acesso ás celas, estava aberta.... pensei em uma maneira de distrai-lo mas estava sozinha seria impossível e abrindo novamente a porta de vidro disse bom dia a ele é fui pelo lado da torre dos clérigos 



procurando ver o teu rosto no terceiro andar na grade da cela de número doze.

:)


Forcei uma porta de madeira, estava trancada. Carregava dentro de uma sacola alguns jornais, pão podre e algumas frutas. Trouxe o jornal do dia. Queria conversar contigo sobre essa coisa que agora tentam legalizar, a eutanásia. Aqui diz que a decisão só virá depois da visita do papa. Precisam sempre jogar seus problemas sobre as mãos de outro. O que diz a lei? Que lei? Ora, a lei dos homens e a lei de Deus. Ela não é clara sobre a vida? Não coloca um ponto final sobre a questão? Não, não coloca. Dizem que assim como temos direito a vida temos direito a morte, morrer com dignidade, morte piedosa, suicídio assistido e coisas desse tipo. Temos até filmes que justificam. Hollywood a máquina de fazer misérias já providenciou até a exaustão, para todos os gostos e de todo tipo. O mais famoso é: "mar adentro" é sobre um homem que mergulhou errado e se quebrou, assim como o nosso super homem Christopher Reeve. Cansado de viver invalido em uma cama,pede a um(a) amigo(a) que de cabo a situação. Um(a) amigo(a) cumpre o pedido do enfermo dando a ele uma dose de cicuta o personagem relaxa como De Niro em Era uma vez na America na casa chinesa fumando ópio e a câmara segue com o vento pela janela e ao som de uma música em uma imagem encantadora e nos os telespectadores hipnotizados, totalmente convencidos somos arrebatados para o voo da "liberdade" desse ser aprisionado. Quando as letras finais começam a subir estamos em estado de catarse e confusos ou certos, melhor não pensar muito, afinal 
morrer parece lindo.

Capitulo II .... 





Comentários

Unknown disse…
É fundamental visitar a casa museu em Ceide, Vila Nova de Famalicão, bem como petiscar na casa do ferrador,hoje casa casa de pasto, tasca, bem no centro da cidade, enquanto ferrava o cavalo Camilo ferrava o dente nos petiscos da mulher do ferrador.
Unknown disse…
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
incoerente disse…
O sentimento da ingratidão. Será que esquecemos Camilo? Ou a sua memoria merece mais que uma homenagem oficial? Acho que merece que o procuremos. E tu procuras e encontras.
incoerente disse…
O sentimento da ingratidão. Será que esquecemos Camilo? Ou a sua memoria merece mais que uma homenagem oficial? Acho que merece que o procuremos. E tu procuras e encontras.

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