Madame X - Depois do vendaval

Era um final de semana lindo com sol e no cair da tarde a lua grande enorme cheia. Foi nesse majestoso dia da semana que sua amiga Irina mandou uma mensagem pedindo se ela conseguiria ir ate o apartamento do lado do seu para fazer uma arrumação em uma casa. Era a casa de sua vizinha, uma senhora com 87 anos, adoentada em uma cama de hospital. Concordou, e assim ficou programado, afinal sabia o que significava ser idosa e estar acamada, pois havia cuidado de algumas assim. Foi na semana do seu aniversario. O seu aniversario sempre foi um dia estranho principalmente as cinco horas da manha, horário do seu nascimento, embora em criança e depois adulta nunca dera muita importância a isso, pois em sua casa existia o habito de não comemorarem o dia de nenhum filho e nem mesmo dos pais, e assim se acostumou ao fato. Foi somente depois de ter atingido a idade sênior, de tanto ouvir falarem, que começou a sentir vontade de abrir um vinho. 

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It was a beautiful weekend with sunshine and a huge, full moon at dusk. It was on this majestic weekday that her friend Irina texted her to ask if she could come to the apartment next door to tidy up a house. It was the home of her neighbor, an 87-year-old woman languishing in a hospital bed. She agreed, and so it was planned; after all, she knew what it meant to be elderly and bedridden, having cared for some like that. It was the week of her birthday. Her birthday had always been a strange day, especially at five o'clock in the morning, the time of her birth. Although as a child and later as an adult, she had never paid much attention to it, as it was a custom in her house not to celebrate any child's birthday, not even her parents', and so she had become accustomed to it. It was only after she reached seniority, after hearing so much about it, that she began to feel the urge to open a bottle of wine.

Quando entrou no apartamento não acreditou no que via pois a desordem estava generalizada. O apartamento se compunha de dois andares, embaixo sala e cozinha e acima o quarto e seu banheiro, uma sacada e uma janela mostrando uma bela vista da praia. Não sabia por onde começar, mas deveria começar por algum lado, e assim começou pela cama onde ficou por mais de uma hora organizando coisas que se encontravam em cima e em volta da cama. Ficou surpresa quando ao perguntar sobre a vida da senhora que ali morava, sua amiga disse que era uma senhora  formada em psicologia. Não havia livros e os livros que encontrou eram livros que ela jamais leria, como Harry Potter. Com esse tipo de livros impossível saber qual era a sua formação. Combinaram que seria quatro horas, embora isso fosse impossível devido o estado em que encontrou o ambiente. Moveis empoeirados roupas espalhadas pelos cantos. Fez seis horas somente no andar de cima e combinou com Irina que voltaria no outro dia. Estava chateada naquele dia, havia tido um desentendimento com seu companheiro. E por qual motivo? Pelo simples motivo que todo santo dia a ex escreve pedindo dinheiro, já um ano que isso incomoda, pois virou costume, se soubesse administrar o que ganha. Mas não. Não percebe que outros tem suas dificuldades e lutas. Seu companheiro diz que é uma borderline, quando retrucou dizendo que isso não é  motivo para seu desassossego financeiro. Assim, meio que sem saída, ele deu outro diagnostico para suas ações. Esquizofrenia, sendo assim não tinha cura, não adiantava falar que ela não iria entender. Ficou quieta pensando. Não é possível ter esquizofrenia e transtorno de personalidade borderline ao mesmo tempo de forma diagnóstica oficial, pois são condições distintas e contraditórias, embora pessoas com Borderline possam experimentar sintomas psicóticos transitórios. A esquizofrenia envolve delírios e alucinações persistentes, enquanto o borderline é marcado por instabilidade de humor, relacionamentos e autoimagem, com perda de contato com a realidade apenas em momentos de estresse intenso, diferente dos sintomas psicóticos crónicos do Borderline. 

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When she entered the apartment, she couldn't believe her eyes, as the disarray was so widespread. The apartment had two floors: downstairs was the living room and kitchen, and upstairs was the bedroom and bathroom, along with a balcony and a window offering a beautiful view of the beach. She didn't know where to begin, but she had to start somewhere, and so she began with the bed, where she spent over an hour organizing the things on and around it. She was surprised when, upon asking about the life of the woman who lived there, her friend told her she had a degree in psychology. There were no books, and the ones she found were books she would never read, like Harry Potter. With books like that, it was impossible to know what her background was. They agreed on a four-hour stay, although that was impossible given the state she found the place in. Dusty furniture, clothes scattered in the corners. She spent six hours upstairs alone and agreed with Irina that she would return the next day. She was upset that day; she had had a disagreement with her partner. And why? For the simple reason that every single day, her ex writes asking for money. This has been bothering her for a year now, as it has become a habit. If only she knew how to manage her income. But no. She doesn't realize that others have their own difficulties and struggles. Her partner says she has borderline personality disorder, when she countered by saying that this isn't a reason for her financial unease. So, somewhat at a loss, he gave her another diagnosis: schizophrenia, which had no cure. There was no point in telling her, as she wouldn't understand. She remained silent, thinking. It's not possible to have schizophrenia and borderline personality disorder simultaneously, officially diagnosed, as they are distinct and contradictory conditions, although people with borderline personality disorder may experience transient psychotic symptoms. Schizophrenia involves persistent delusions and hallucinations, while borderline personality disorder is marked by instability in mood, relationships, and self-image, with loss of touch with reality only in moments of intense stress, unlike the chronic psychotic symptoms of borderline personality disorder.

Sim, ela tinha todo o mar a sua frente, as vozes de crianças, seus gritos de alegria na imensidão do pacifico se misturavam com seus pensamentos, e dentro do carro quando ele a levou ate o apartamento da senhora o mesmo assunto voltou, então ele fez a pergunta magica: Por que você se preocupa com isso? Uma boa pergunta. Para não esquecer escreveu em sua agenda. E então começou  a anotar mentalmente os motivos. Realmente ela incomodava e sabe disso, todo borderline é sádico, tanto que muitos costumam se cortar, se não a si mesmo cortam os outros, quando não com um objeto, de forma emocional. Foi assim um dia antes do seu casamento, uma quinta feira, quando ela mandou uma mensagem sobre sua preocupação com a herança dos filhos, considerando-a uma oportunista. Não somente ela mas citou também a filha, que mora longe e nem sabe como vive sua mae, e muito menos que assunto era aquele, mas ela sabia. A herança se refere a um projeto de arte que não tem morada publica e ainda esta engavetado, mas a ex já vê como algo digno de um Bresson, Robert Capa, ou um Sebastiao Salgado. Nisso, se vê sintomas de esquizofrenia, pois todos que padecem desse mal são acometidos por delírios e alucinações. Não existe nenhum mal em sonhar, e trabalhar para que tal aconteça,  mas colocar a carroça na frente dos bois e achar que em outros existem os mesmos sentimentos que habitam em si como ganancia e ambição, isso já era demais. Naquela noite ficou muito mal, pois seu caráter havia sido questionado por alguém que nunca tinha visto nem mais gorda. Depois os dias foram passando e os pedidos de dinheiro eram uma constante e sempre acontecia de forma desesperada por um triz. Não conseguia imaginar como alguém podia viver assim, segundo relatos e assim que a maioria vive cheio de dividas dia após dia. Poderia ate não se preocupar com isso se os pedidos pudessem ser solucionados de um modo fácil se a parte oposta tivesse condições no momento para dispor das quantias pedidas. Por que você se preocupa com isso? Era a pergunta a martelar e ela respondia. Poderia ate não se preocupar se os pedidos não chegassem em momentos cruciais como aconteceu um dia após o 08.01.25, na evacuação de Altadena onde parados em frente um Starbucks recebiam pedidos para dinheiro emprestado e eles pensando onde dormir, pois não havia dinheiro para isso, mas o lado pedinte dava a solução. Que tal dormirem aqui em casa? Parecia uma boa solução para o lado pedinte, mas não para ela, dormiriam três na mesma cama? No sofá da sala? No quarto de hospedes. Interessante que o lado pedinte encontrava soluções, exceto para administração de sua própria vida. Depois quando resolveram mudar de casa, receberam uma nova mensagem de empréstimos. Pedia uma quantia e dizia que sabia que teríamos pois estávamos guardando para o aluguel. Que coisa mais chata. Depois quando mudaram, sem nada, sem fogão, geladeira, armários para roupa, os pedidos continuaram, ate chegar no fim da picada. Dessa vez pedia uma moeda de colecionador que ele tinha e que valia uma grande quantia em dinheiro e novamente dizia que sabia que ele tinha. A moedinha numero um do tio patinhas, pensou com seus botões, em total indignação! Para que? Era uma emergência? Doença? Morte? Não! Era uma má administração de renda e a não compreensão de seus limites. Por que se preocupar com isso? Porque isso a afetava profundamente, afinal viviam de forma econômica para o seu bem estar em simplicidade e não em ostentação. Isso a chateava e conversou com seu parceiro sobre o fato mas ocorreu uma exaltação de ambas as partes e ele disse: Você não confia em mim? Confiava nele. Em mulher gastadeira não! E principalmente ambiciosa. Mas ele continuou insistindo na tecla da confiança e insistindo em transferir o problema para ela e isso não era algo novo. Era como se ele quisesse colocar uma venda na sua fraqueza e continuar no domínio dela. Na possessão. 

Pensava nisso, naquele fim de semana enquanto organizava e agonizava de enjoo no apto da senhora.
Deus que bagunça!

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Yes, she had the entire ocean before her, the children's voices, their cries of joy in the vastness of the Pacific mingled with her thoughts, and inside the car, when he drove her to her apartment, the same topic came back to him, so he asked the magic question: Why do you care about this? A good question. To remember, he wrote it in his journal. And then, he began to mentally note the reasons. She really did care, and he knows it and leaves it at that. All borderline individuals are sadists, so much so that many often cut themselves, if not themselves, then others—not with a sharp object, but emotionally. That's what happened on the eve of his wedding, a Thursday, when his ex texted him about her concerns about her children's inheritance, calling her an opportunist. Not only her, but she also mentioned her daughter, who lives far away and doesn't even know how her mother lives, much less what the problem was, but she knew. The inheritance refers to an art project that has no public address and remains shelved, but the ex already sees it as something worthy of a Bresson, Robert Capa, or Sebastiao Salgado. This reveals symptoms of schizophrenia, as everyone who suffers from this condition is plagued by delusions and hallucinations. There's nothing wrong with dreaming and working to make it happen, but putting the cart before the horse and assuming that others share the same feelings as you, such as greed and ambition, that was too much. That night, she felt very bad, because her character had been questioned by someone she'd never seen before. The days passed, and the requests for money became constant, always desperate and close calls. She couldn't imagine how anyone could live like this, as most people are said to be living in debt day after day. She might not even worry about it if the requests could be easily resolved if the other party had the means to pay the requested sums. Why do you worry about this? 

That was the question that kept coming up, and she answered it. She might not even care if the requests didn't arrive at crucial moments, like the day after January 8, 2025, during the evacuation of Altadena, where, in front of a Starbucks, they received requests for money. They wondered where to sleep, since there was no money for it. But the beggar side offered the solution. How about sleeping here at home? It seemed like a good solution to the beggar side, but not to her. Would the three of them sleep in the same bed? On the living room couch? In the guest room. Interestingly, the begging side found solutions, except for managing their own lives. Months later, when they decided to move house, they received another loan message. It asked for a sum of money and said they knew we would have it because they were saving for rent. How annoying. So, when they moved in, with nothing—no stove, refrigerator, or cabinets—the requests continued, until they reached the end of the line. This time, she asked for a collector's coin she owned that was worth a large sum of money, and again said she knew she had it. Uncle Scrooge's number one coin, she thought to herself, in utter indignation! For what? Was it an emergency? Illness? Death? No! It was poor income management and a lack of understanding of her limits. Why worry about it? Because it affected her deeply; after all, they lived economically for their well-being, living simply, without ostentation. This disturbed her, and she talked to her partner about it, but there was an explosion of anger on both sides, and he said, "Don't you trust me?" She trusted him. She wasn't a spendthrift! And especially not an ambitious one. But he kept insisting on trust and shifting the problem onto her, and that wasn't new. It was as if he wanted to blindfold her weakness and remain in his power. In possession.

She thought about it that weekend as she organized and agonized with nausea cleaning that apartment.

Wow, what a mess!

Ficou naquele ambiente por dois dias, um sábado e um domingo. A casa era de uma senhora de 87 anos. Percebia-se que era uma consumista voraz, tinha tudo ao excesso, desde roupas, sapatos a coisas decorativas para a sala. Eram tantas caixas abertas e outras fechadas que imaginou a dona da casa ser dona ou ter sido dona de uma loja de enfeites de casa ou coisa parecida. O sábado foi um dia cansativo e o domingo também, só não foi pior porque vez ou outra olhava pela janela e ouvia os gritos de alegria das crianças na praia. No final da tarde de domingo enquanto limpava a geladeira eliminando itens vencidos, encontrou um chocolate fechado de nome Wonka, o mesmo nome de um filme assistido anos atrás com Jonhhy Deep. Estava precisando de um café, e como não sabia como obter naquele momento pensou que comer aquele chocolate seria bom. Acabou guardando no bolso do avental para mais tarde. E o mais tarde aconteceu quando chegou em casa. Naqueles dois dias andava chateada com seu companheiro por ele não dar um basta na pessoa que agora queria a moedinha numero um. E por ele ter dito que não confiava nele e ela ter insistido que nele sim, ela confiava,  em pessoas ambiciosas não, pois sabia que pessoas sedentas por dinheiro e sem auto controle são capazes de atos abomináveis, como mentir,  matar e sabe-se lá mais o que. E assim o dia terminou. Depois de tudo limpo, arrumou suas coisas e desceu ate o térreo e foi ao encontro  do seu parceiro. Ele estava com cara emburrada, ela procurou falar o menos possível. Em casa, esgotada, tomou um banho, colocou uma camisola e foi deitar, desejando dormir, mas não conseguia pois existia uma energia estranha de insatisfação, de cansaço, de tristeza, de adrenalina em excesso. Ficou virando na cama procurando uma musica suave ou alguém falando algo que acalmasse seus nervos. Ele foi para o seu computador e lá ficou a digitar. Mandou uma mensagem para ela. Como não conseguia ler, ele leu para ela. Era alguma coisa sobre o jardim, sobre algo que estava acontecendo no jardim, então ela começou a falar coisas e ele novamente fez a mesma pergunta: Por que ela se incomodava com isso?  E ela respondeu porque eu tenho coração! E respondeu uma duas, três vezes e fez ate o desenho com as mãos de um coração para que ele entendesse. Então voltou para a cama mais transtornada do que nunca. Procurou seus remédios de pressão e próximo a garrafa de agua viu o chocolate pegou e olhou a embalagem, antes de abrir viu que estava escrito Marijuana. Sabia o que era aquilo, mas achava isso um absurdo, não sabia que existia guloseimas com esse produto afinal uma criança poderia pegar, depois lembrou que existiam remédios com o componente do cannabis e etc., e tal. Tirou uma foto e foi pesquisar no google. Sim, encontrou muitos artigos, mas não pensou que poderia ocorrer algo errado, mas sim que poderia comer, deitar fechar os olhos e dormir. E foi o que fez. Colocou sua camisola tirou três pedaços do chocolate e comeu. Depois deitou na cama e fechou os olhos procurando a paz. Não demorou cinco minutos abriu os olhos e começou a chorar como se alguém houvesse morrido, chorava amargamente. Ao medir sua pressão, marcava 17 por 9. Seu coração doía e sua cabeça rodava, Saiu para fora caminhou nos corredores e voltou pedindo ao seu parceiro que medisse sua glicemia. Estava alta mas ele disse que voltaria ao normal. Sua cabeça começou a rodar e ela pediu para ele a levar ao hospital ele disse que não precisava. Ela sabia que sim, mas ir para um hospital seria adquirir dividas, mas ela não sabia o que estava acontecendo e assim saiu novamente para fora e no jardim encontrou alguém que fumava e então pediu a ele que a ajudasse pois não estava encontrando o telefone de emergência e tudo aconteceu rapidamente e quando quase na porta encontrou um socorrista e ele perguntou como ela estava e ela olhou em seus olhos vendo e ao mesmo tempo não vendo e nos olhos dele ela percebeu o pânico que havia nos seus e foi assim que ela se dirigiu ate a porta e entrou com suas próprias pernas e lá dentro havia cinco homens uniformizados com roupas que parecia ser do exercito e ao mesmo tempo não parecia e eles pediram que ela tirasse o roupão e ela falou algo sobre sua camisola e começaram a perguntar o que ela sentia e ela foi dizendo o que era e que seu marido não queria que ela fosse para o hospital, que ela estava mal e que não confiava nele mas confiava nos cinco homens que ali estavam, quando ela caia em transe alguém falava mais alto com ela acordando-a e ela começou a contar coisas, e seu marido apareceu na porta querendo levar ela para o hospital mas eles disseram que não que ela disse que não confiava nele e assim e a levaram e não viu como pois não ouviu o barulho do motor e muito menos de outros carros na avenida e se havia sirene não soube e tampouco ouviu a porta bater. 

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Stayed in that environment for two days, a Saturday and a Sunday. The house belonged to an 87-year-old woman. It was clear she was a voracious consumer; she had everything in excess, from clothes and shoes to decorative items for the living room. There were so many open and closed boxes that he imagined the owner of the house owned or had owned a home decor store or something similar. Saturday was a tiring day, and so was Sunday, but it wasn't worse because he occasionally looked out the window and heard the children's screams of joy on the beach. Late Sunday afternoon, while cleaning out the refrigerator and getting rid of expired items, he found an unopened chocolate bar called Wonka, the same name as a movie he'd seen years before starring Johnny Depp. He needed coffee, and since he didn't know how to get it, he thought eating that chocolate bar would be delicious. He ended up putting it in his apron pocket for later. And then happened when he got home. During those two days, she was upset with her partner because he didn't stop the person who now wanted coin number one. And because he said she didn't trust him, and she insisted she did, she did trust him. She didn't trust ambitious people because she knew that people greedy for money and lacking self-control are capable of abominable acts, like lying, killing, and who knows what else. And so the day ended. After getting ready, she packed her things and went downstairs to meet her partner. He seemed grumpy; she tried to say as little as possible. At home, exhausted, she took a shower, put on a nightgown, and went to bed, wanting to sleep but unable to because of a strange energy of dissatisfaction, fatigue, sadness, and excess adrenaline. She tossed and turned in bed, searching for soft music or someone to say something to calm her nerves. He went to the computer and typed it there. He sent her a message. Since he couldn't read it, he read it to her. It was something about the garden, about something happening in the garden, and then she started talking, and he asked her the same question again: Why did she care about that? And she answered, "Because I have a heart!" She answered once, twice, three times, and even drew a heart with her hands so he'd understand. Then she went back to bed, more upset than ever. She looked for her blood pressure medication and, near the water bottle, saw the chocolate bar. She picked it up and looked at the package. Before opening it, she saw that it said "Marijuana." She knew what it was, but thought it was absurd. She didn't know there were treats with this product, after all, a child could catch it. Then she remembered there were medicines with cannabis components, etc., and so on. She took a picture and Googled it. Yes, she found many articles, but she didn't think anything could go wrong, but rather that she could eat it, lie down, close her eyes, and sleep. And that's what she did. She put on her nightgown, took three pieces of chocolate, and ate them. Then she lay down on the bed and closed her eyes, seeking peace. It didn't take five minutes before she opened her eyes and began to cry, as if someone had died, bitterly. When she took her blood pressure, it read 17 over 9. Her heart ached and her head was spinning. She went outside, walked the halls, and returned, asking her partner to check her blood sugar. It was high, but he said it would return to normal. Her head started to spin, and she asked him to take her to the hospital. He said it wasn't necessary. She knew he would, but going to a hospital would be getting into debt, but she didn't know what was happening, so she went back outside and in the garden found someone smoking. She asked him to help her because she couldn't find the emergency number. Everything happened quickly. Almost at the door, she met a paramedic, and he asked how she was. She looked into his eyes, seeing and at the same time not seeing, and in his eyes, she saw the panic It was in her eyes like a mirror, and that's how she walked to the ambulance door and entered on her own two feet. Inside were five men in uniform, wearing clothes that looked like army uniforms and yet didn't. They asked her to take off her robe, and she said something about her nightgown. They started asking her what she was feeling, and she started telling her what it was and that her husband didn't want her to go to the hospital, that she was sick and that she didn't trust him, but she trusted the five men who were there. When she went into a trance, someone spoke louder to her, waking her up, and she started telling him things. Her husband appeared at the door wanting to take her to the hospital, but they said no, and she said she didn't trust him, and so they took her. She didn't see how it happened because she didn't hear the sound of the engine, much less other cars on the avenue. If there was a siren, she didn't know, and she didn't hear the door slam.

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Ao chegar no hospital ouviu uma voz dizendo: Isso aqui parece um hospital? Ela olhou para a recepção e disse: Não! Parece um teatro. Sim eles pareciam os atores e ela o expectador. Hoje quando lembra. ela se arrepende por não ter escrito logo a seguir tudo o que aconteceu naquela recepção, pois foi ali, naquele lugar que mais falou e que mais luz sentiu. Lembra que as pessoas paravam o que faziam para ouvir o que dizia, atentos, depois davam risadas e voltavam aos seus afazeres. Lembra das pessoas que passavam enquanto ela estava ali na maca no corredor em um canto. Um homem todo ensanguentado sendo carregado em uma maca passou por ela, tinha sangue no peito e no rosto, parecia morto. Era impossível aquele homem não estar morto. Interessante como a morte nos visita quando estamos feridos. Foi exatamente isso que sentiu quando andava de bicicleta na rodovia e um caminhão a derrubou não fosse seu reflexo que automaticamente fez com que desviasse para a calçada, ela teria ido para debaixo das rodas. Caída ela vislumbrou um anjo da morte sobrevoando ao redor, como um urubu. Agora naquela maca ela sentia medo de fechar os olhos pois novamente sentia uma sensação de caixão, flores e as pessoas em volta. Depois de algum tempo ela foi levada ao quarto e lá começou a entrar um monte de pivetes que mexiam em seu braço, traziam remédios e outros entravam para perguntar coisas, se não eram adolescentes pareciam ser. Ser ou não ser eis a questão. Perguntou se eram emigrantes, perguntou quanto ganhavam, se ganhavam bem, pois havia escutado algumas historias bizarras nos grupos do qual  participava. Eles respondiam alguma coisa, mas não queriam muita conversa, deviam estar há mais tempo aqui neste pais e haviam passado no processo do silencio sobre si mesmos, assim como os americanos que vivem em silencio mal falando de si próprio, escondidos com seus amigos, seus familiares dentro de suas casas bem nutridos bem agasalhados ou não, sabe-se lá. Quando apareceu um enfermeiro de raça negra não aparentando ter mais de 18 anos  perguntou a ele se ele tinha saudades de sua terra, se era feliz aqui, e quantas vezes ele tinha visto o por do sol e que ontem ela tinha visto a lua mais linda em toda a sua vida e olha que ela já tinha visto muitas. Ele não respondeu mas depois quando ele voltou ela disse a ele que ele não tinha respondido suas perguntas, e ele disse qual pergunta,  então ela perguntou de novo se ele tinha visto muitos pores do sol em sua vida e ele respondeu, disse que sim e ela ficou feliz com sua resposta. Aquele hospital era diferente, era bom parecia um lugar feliz embora o preço a ser pago parecia com algo pela hora da morte. Todos tinham pavor de um dia precisarem, ela não queria precisar por causa do valor, mas se fosse para ser tratada da forma que estava sendo, com dignidade, desejou voltar um outro dia mas não para ter que pagar disse a uma enfermeira que queria trabalhar ali. Ela ficou surpresa, não soube porque, porque no fundo achava o máximo cuidar de doentes, doentes que querem viver. Nesses intervalos de enfermeiras e médicos aparecendo em meio a  sonolência, apareceu uma mulher trazendo um telefone com uma voz de outra mulher dizendo que a conversa estava sendo gravada e seria na língua portuguesa. Então essa mulher disse que ela havia dito na ambulância para aqueles cinco homens que não confiava no seu marido e sendo assim, perguntou se sofria violência domestica. Ela disse que não sofria, então a voz falou coisas sobre proteção e se ela queria ir para um abrigo, respondeu que sim. Então perguntou se lá  teria alguém com quem conversar, disseram que sim. Mas ela sabia como era um abrigo. Iria dormir ao lado de outra pessoa, e talvez a noite enquanto ela tentasse dormir ouviria alguém chorando próximo a sua cama, uma mulher, uma jovem mulher desprezada pela família. Sabia como funcionava. Havia almoço, café da manha, jantar, e as pessoas ali dentro cooperavam com a arrumação. Sim, era um lugar de proteção. Poderia falar mais sobre, sobre as mães e seus filhos. Mas esse não era o momento. Então ela disse sim. E nesse meio tempo na noite de domingo e em todo o dia de segunda ela falou pela segunda vez quando voltaram a ligar, disse que sim, e depois perguntaram pela terceira vez quando seu parceiro levou a sua mala com suas coisas, e então ela disse que não, então disseram para ela pegar a sua mala que estava ali do seu lado e seguisse em direção a saída, ela fez isso ainda com a cabeça  aérea olhando para um lado e outro, então um senhor saído não sabia de onde a acompanhou e ela viu seu parceiro em pé no saguão com seu telefone nas mãos e ela ficou feliz de vê-lo ali, e no caminho  e depois em casa ela foi pensando no que tinha acontecido na noite de domingo e na segunda toda e parecia que foram dias que não viveu e se viveu pareciam cortes de filmes em fotografias e depois quando foi juntando os fatos percebeu que seu inconsciente falou coisas que haviam machucado fundo como: Você não confia em mim. Isso foi como a teoria de Goebells de que uma mentira contada cem vezes torna-se verdade. Por um triz, por um triz ela não trocou o homem que ama por um abrigo, sabe se lá Deus onde.

Hoje sentada perto dele, ela percebe o quanto e bom estar ao seu lado, vendo-o dormindo em sua cadeira de balanço ou sentado em seu computador ou pulando paginas e paginas em sua rede social a procura de algo novo de uma noticia, de uma solução para alguma coisa enquanto e tempo enquanto a vida nos da tempo e tudo e tão bom tão pacifico quando nos encontramos novamente assim como nos encontramos no Porto em paz em um dia tão lindo ensolarado e feliz.

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Upon arriving at the hospital, she heard a voice saying, "Does this look like a hospital?" She looked at the reception area and said, "No! It looks like a theater." Yes, they looked like actors, and she looked like a spectator. Today, when she looks back, she regrets not writing down everything that happened in that reception area immediately, because it was there, in that place, that she spoke the most and felt the lightest. She remembers how people would stop what they were doing to listen attentively to what she said, then laugh and go back to work. She remembers the people passing by while she was on the stretcher in the hallway, in a corner. A bloodied man, being carried on a stretcher, passed her; he had blood on his chest and face; he looked dead. It was impossible for that man not to be dead. It's interesting how death visits us when we're injured. That's exactly what she felt when she was riding her bike on the road and a truck hit her; if it weren't for her reflexes, which automatically made her swerve onto the sidewalk, she would have been run over. As she lay on the ground, she glimpsed an angel of death circling overhead, like a vulture. Now, on that stretcher, she was afraid to close her eyes, as she once again felt a sense of coffin, flowers, and people around her. After a while, she was taken to the room, and a bunch of kids started coming in, touching her arm, bringing medicine, and others coming in to ask questions. They seemed to be teenagers. To be or not to be, that was the question. She asked if they were immigrants, how much they earned, if they earned well, as she had heard some bizarre stories in the groups she participated in. They answered somewhat, but didn't want to talk much. They must have been here in this country longer and had gone through the process of silence about themselves, just like Americans who live in silence, barely speaking about themselves, hidden with their friends and family inside their homes, well-fed, well-clothed or not, who knows. When a black nurse appeared, who didn't look older than 18, she asked him if he missed his homeland, if he was happy here, and how many times he had seen the sunset and that yesterday she had seen the most beautiful moon in her entire life and look, she had seen many. He didn't answer, but later, when he returned, she told him he hadn't answered her questions. He told her which question. She then asked him again if he'd seen many sunsets in his life, and he said yes, and she was happy with the answer. That hospital was different. It was good, it seemed like a happy place, although the price to be paid seemed like something for the moment of death. Everyone was terrified of needing it one day. She didn't want to need it because of the cost, but if she wanted to be treated as she was, with dignity, she wanted to come back another day, but not to have to pay. She told a nurse she wanted to work there. She was surprised, she didn't know why, because deep down she thought it was wonderful to care for patients, patients who want to live. During those breaks between nurses and doctors appearing amidst the drowsiness, a woman appeared carrying a phone with another woman's voice saying the conversation was being recorded and would be in Portuguese. Then this woman said she had told the five men in the ambulance that she didn't trust her husband and, therefore, asked if she was suffering from domestic violence. She said she wasn't suffering, then the voice spoke about protection and whether she wanted to go to a shelter, to which she said yes. Then she asked if there would be anyone there to talk to, and they said yes. But she knew what a shelter was like. She would be placed next to someone, and perhaps at night, as she tried to sleep, she would hear someone crying near her bed—a woman, a young woman scorned by her family. She knew how it worked. There was lunch, breakfast, dinner, and the people inside helped with the cleaning. Yes, it was a place of protection. She could have talked more about it, about mothers and their children. But it wasn't the time. So she said yes. And meanwhile on Sunday night and all day Monday she spoke for the second time when they called again, she said yes, and then they asked for the third time when her partner took the suitcase with her things, and then she said no, then they told her to take the suitcase that was there next to her and go towards the exit, she did this still with her head in the air looking from one side to the other, then a man came out, she didn't know where from, and she saw She saw her partner standing in the lobby with his phone in his hands, and she was happy to see him there. On the way home, and then later, she thought about what had happened on Sunday night and all of Monday. It felt like days she hadn't lived, lived through with film cuts and photographs. Then, when she pieced together the facts, she realized her subconscious had spoken things that had hurt her deeply, like: "You don't trust me." It was like Goebel's theory that a lie told a hundred times becomes the truth. By a hair's breadth, by a hair's breadth, she avoided exchanging the man she loves for a shelter, God knows where.

Today, sitting next to him, she realizes how good it is to be by his side, watching him sleep in his rocking chair or sitting at his computer or flipping through pages and pages on his social media, looking for something new, some news, a solution to something, while there's still time, while life gives us time, and everything is so good, so peaceful, just like when we were in Porto, in peace, on sunny, happy days.

P.S. Madame X, a senhora de 87 ate ontem continuava internada, próximo a um mês do ocorrido. 

M. Mesquita em 23.09.25 - Um ano que mal começou,  como se não fosse um dia de cada vez