Resumo do filme - "Bicho de sete cabeças"
Matéria protegida pela lei dos
direitos autorais numero 9.610 de 19.02.1998
Resumo:
Uma viagem ao inferno manicomial.
Um jovem de classe média leva uma vida comum
até o dia em que o pai o interna
em um manicômio
depois de encontrar um cigarro de maconha
em seu bolso.
O fato
é a gota d’agua que deflagra
a tragédia na família.
No manicômio Neto conhece
uma realidade absurda
e desumana onde os internos
são devorados por um sistema
corrupto e cruel.
Resenha:
Para entender a origem de um
manicômio
temos que pesquisar a história...
A implantação de uma legislação
referente aos doentes mentais no Brasil
referente aos doentes mentais no Brasil
partiu do primeiro catedrático
de psiquiatria da faculdade
de psiquiatria da faculdade
de medicina do Rio de Janeiro
o deputado João Carlos Teixeira
Brandão.
Este veio a ser o relator do decreto numero 1132 de 1903,
promulgado
no governo
do presidente Rodrigues Alves
e responsável por
“Reorganizar a assistência aos alienados”.
“Reorganizar a assistência aos alienados”.
O pensamento da época:
“A loucura e a doença
mental,
como em outras partes do mundo ocidental
permanecem ligadas
permanecem ligadas
a três
dimensões: médica, jurídica e social.
A psiquiatria possui em si estas três
dimensões,
sendo ao mesmo tempo médica (assistencial)
e vinculada ao controle da ordem pública.”
e vinculada ao controle da ordem pública.”
Segundo esta lei o único lugar autorizado
a receber os
loucos, por reunir condições adequadas,
e toda internação estaria sujeita ao parecer
do médico
detentor da “verdade” no que se refere a alienação mental.
O decreto
em questão é o responsável
por positivar a ideia de que o louco
não possui a
capacidade de gerir seus bens
e a sua pessoa e a sua pessoa devendo
estar
submetido a um curador, que também
é o responsável pela guarda provisória dos
bens do doente.
Do mesmo modo, não caberia
a este paciente interferir ou mesmo
conhecer o tratamento a ser aplicado.
Em meados de 1960 o saber psiquiátrico
foi convulsionado
pelo surgimento da corrente anti-psiquiatria.
Segundo esses teóricos a loucura
não é doença,
mas um reflexo do desequilíbrio
social e familiar do meio onde
o individuo se encontra inserido.
Em 1980, surgiu o movimento
dos trabalhadores em saúde mental, lançando o lema:
“Por uma sociedade sem manicômios”.
Tomando por modelo a lei Basaglia italiana
é promulgado
no
Brasil em seis de abril de 2001 a lei 10.216
a qual dispõe
sobre a proteção e
os direitos das pessoas portadoras
de transtornos mentais e redireciona
o
modelo assistencial em saúde mental.
O doente mental passou a ter direito
ao
melhor tratamento realizado
com humanidade e respeito.
Tendo assegurado a
proteção contra qualquer
forma de exploração e o direito de receber informação
a respeito de sua doença.
O tratamento deveria ser feito, de preferencia em
serviços comunitários
de saúde mental, nos moldes do hospital-dia,
tais como o
CAPS (Centro de atenção Psicossocial).
Uma
grande mulher
Nise da Silveira
Dirigiu a seção de terapêutica ocupacional e reabilitação.
Em 1956 fundou a casa das Palmeiras, clinica para
o tratamento em regime aberto
de pacientes psiquiátricos.
Utilizou a pintura, a escultura, a modelagem e a
carpintaria.
Descobre que, mesmo quando a personalidade do paciente
se
desintegra, ele mantém em seu psiquismo um estimulo
para a produção de imagens.
Sua terapia humanizadora incluía o convívio
dos doentes com cães e gatos,
provando que a
afetividade não é anulada
pelo problema mental.
Uma
triste mulher
Olga J.
Conheci Olga quando minha família
comprou uma casa próxima a sua.
Olga era viúva e morava no terreno da casa dos pais,
um casal de Lituanos, com seus três filhos.
Um mulher linda, cabelos loiros, alta, magra
tudo o que
uma mulher na faixa dos seus trinta e poucos anos
gostaria de ser.
Eu costumava
ir até sua casa para brincar com suas filhas,
duas meninas, uma loira e uma
morena
de quem eu gostava muito.
Passávamos bom tempo jogando amarelinha
ou
descendo a rua de bicicleta.
Amava a casa dos lituanos, tão bem cuidada,
um
lindo terreno de esquina cheio de árvores.
Foi na rua da feira que eu ensinei
as duas a andarem de bicicleta.
Nunca notei nada de diferente na mãe,
a não ser que era muito bonita
a não ser que era muito bonita
superinteligente e paquerada,
principalmente pelos homens
casados da rua.
Foi com o tempo que fui percebendo que
meu pai e minha mãe
acordavam cedo e acordavam os filhos
para a escola e os afazeres,
Já na casa de
numero 100,
eles costumavam acordar depois
eles costumavam acordar depois
do meio dia,
mais tardar as 14hs.
Esse sonho me acompanhou durante longos anos
"Acordar depois do meio dia"
Naquele tempo eu
mais tardar as 14hs.
Esse sonho me acompanhou durante longos anos
"Acordar depois do meio dia"
Naquele tempo eu
Passava
longas manhãs olhando
para aquela janela de madeira fechada,
para aquela janela de madeira fechada,
ansiosa para que se abrisse
o sol forte e alto, onde
todos dormiam,
desejando ser um membro daquela família
e dormir até as tantas.
Quando a porta era aberta na parte da tarde
e eu entrava, olhava para o quarto
e
via uma mulher na cama penteando os cabelos.
Conversava alguma coisa com ela
ou com suas filhas,
ou algo que não lembro mais
e ía até a área da casa
jogar pedrinhas.
Um dia a encontrei almoçando,
enquanto passava pelos dentes a coxa de frango
enquanto passava pelos dentes a coxa de frango
olhava-se num espelho,
desses pequenos de madeira laranja
vendido até hoje nas lojas.
vendido até hoje nas lojas.
O espelho ficava a sua frente na mesa
na frente do prato de comida
um pouco deitado
mostrando seu rosto.
na frente do prato de comida
um pouco deitado
mostrando seu rosto.
Minha mãe dizia que ela era narcisista
na época ninguém
dizia: "ela se acha" ou "tá se achando"
dizia: "ela se acha" ou "tá se achando"
Um dia
ela disse que era a cara de Romy Scheneider.
Dias depois que era a
compositora da musica
“eu quero é botar meu bloco na rua”.
E tantas outras
coisas mais,
até o dia que foi internada pela filha no antigo
Juntando fatos vividos e ouvidos
achei que era o melhor para ela.
Todo mundo na época deve ter achado.
Foi diagnosticado
que sofria de esquizofrenia,
louca de pedra.
E assim nos anos que passou ali
sofreu todo tipo de tortura.
Uma delas foi a eletroconvulsoterapia (ECT)
choque
nas têmporas da paciente.
Olga fugiu várias vezes pulando um muro de 3
metros.
(veja fotos do muro abaixo)
Chegava em sua casa suja
arranhada e esgotada,
depois de andar mais de 30km,
da Aldeia ao centro da cidade onde morava
O muro visto pelo lado de fora
E eu várias vezes a vi perambulando na Avenida.
Olhava para
ela, para aquele corpo se acabando lentamente,
ficando cinza, os lindos cabelos
perdendo o brilho,
depois os dentes ate ficar completamente banguela,
esqueletica.
Um dia passando em frente da sua casa pelo lado da Avenida Alice,
vi que sua janela estava aberta, olhei e ela estava deitada na cama,
as paredes
do quarto toda riscada com mensagens e muito lixo
e livros, revistas em toda a
volta.
Foi à última vez.
Olga J morreu no dia primeiro de maio
no ano da morte
de Ayrton Senna,
tinha 51 anos e parecia ter 101.
No atestado de óbito foi
escrito: Parada Cardíaca.
Com tanto choque
do que mais
poderia morrer?
Com tanto choque
do que mais
poderia morrer?
Os anos foram passando
a família de Olga nunca mais
foi à mesma.
Uma de suas filhas e um neto tem a mesma doença:
esquizofrenia.
E eu toda vez que lembro os momentos passados na casa de número
100,
sinto a maré subindo depressa
e cobrindo o lugar em que eu estive sentada.
Fotos do antigo manicômio em Carapicuíba,
hoje uma faculdade (FALC)
"A sanidade é prazerosa e calma,
Mlailin
hoje uma faculdade (FALC)
Estive no Sanatório na tarde de sexta-feira passada
procurei na biblioteca a sua história
nada encontrei
Era como se tudo tivesse sido eliminado
Sai, e fui atrás de moradores / em uma mecânica perguntei a um
jovem
se ele tinha nascido em Carapicuíba, ali na Aldeia
ele disse que sim / perguntei se conhecia alguém
ele me indicou dois / um foi enfermeiro e outro motorista
fui atrás / encontrei o enfermeiro
Fiquei confiante: um enfermeiro jamais esquece
E ao perguntar / pouca
coisa falou
Era como um passado eliminado de sua memória
respondia seriamente em monossilabas
Uma decoreba / Assim como a minha
"Segunda-feira, uma semana atrás
Lailin estava no norte de Minas / Lavando uma cozinha
enquanto ouvia Ennio Morricone
Segunda-feira / Lailin
conseguiu entrar em uma conversa sórdida
dentro de um notebook / Segunda-feira-passada Lailin
arrumou as malas e veio embora / Uma semana depois
Lailin lembra do fato e escreve para não esquecer"
Trinta anos se passaram e aquele enfermeiro pouco lembra
ou faz que não lembra.
Olga J
poderia hoje
estar em casa,
cuidando dos netos
com 70 anos ou quase
se olhando no espelho
penteando seus lindos cabelos brancos
se achando
como muitos
e por que não?
"A sanidade é prazerosa e calma,
mas não tem a grandeza,
nenhuma verdadeira alegria,
nem a horrível tristeza
que dilacera o coração."
que dilacera o coração."
Mlailin
Comentários
mas há 20, 30 anos atrás
quando em surto eles pegavam uma faca e saiam correndo atrás de um familiar...
Hoje as drogas se dão em casa
com um copo de água ou na comida
e assim eles são domados
Conhecendo o trabalho da dra. Nise
Sabemos que não precisava irem ao extremo, mas nem todo médico pensa igual
Poucos são iluminados e a DRA. NISE foi uma
Bjs Oto
Gostei mto de ler.
Vc é mto boa!
Um Beijo
Estudaram juntas em Zurique, Suíça, no Instituto Jung. Cabeças iluminadas!
Abraço.
Mas, a pergunta que fica, pra mim, é: o que levou Lailin a remexer esse passado e essas lembranças?
Adorei o seu estilo!
Saber escrever não é pra qualquer um...
Beijos