Arsênico - Amanda Patarta - Parte I

Narrador - A ré frente a frente o Juiz se fazendo de doida, falando como a Rosane von Richthofen  no programa do fantástico depois de ter matado os pais trazendo um pássaro nos ombros. Patarta tinha os olhos parados e fixos e gaguejava ao falar

Juiz  - Boa noite

Patarta - Bo a no i te

Juiz - Como é o seu nome?

Patarta - A man da Pa tar ta

Juiz - Por favor chega o microfone mais perto. Como é que é?

PatartaA man da Pa tar ta

Juiz - Você é brasileira?

Patarta - Sim

Juiz - Casada ou solteira?

Patarta - Solteira

Juiz - Qual sua profissão?

Patarta - Advogada (fala susurrando)

Juiz - Quantos anos?

Patarta - 31

Juiz - Já conversou com seus advogados

Balança a cabeça confirmando

Juiz - Você esta inteiramente notificada das acusações feitas e sabe o motivo pelo qual foi denunciada?

Patarta - Sim 

Juiz - Vou adverti-la que não está obrigada a responder nenhuma das perguntas que lhe forem feitas sem que impliquem em sua defesa. A senhora mora com quem?

Patarta - Com a minha mãe e com a minha avó (Fala gaguejando para parecer aérea e idiota -  Então percebe-se com a resposta uma mulher mimada desde tenra idade)

Juiz - Você trabalha em que lugar?

Patarta - Dr. eu não pretendo responder nenhuma pergunta eu vou permanecer em silencio.

Juiz - Tá mas não esta na hora ainda. Você trabalha em qual lugar?

Patarta - Eu não estava trabalhando

Juiz - Você não estava trabalhando? Você estava vivendo como?

Patarta - Eu estava terminando de montar meu escritório de psicologia. Eu também sou formada em psicologia e ai eu estava migrando para a área de psicologia com ajuda da minha família.

Juiz - Tem filhos?

Patarta - Não!

Juiz - Tem vícios?

Patarta - Não! 

Juiz - Então você concluiu o curso de direito e de psicologia, é isso?

Patarta - Isso

Juiz - Você já foi presa ou processada alguma vez?

Patarta - Não!

Juiz - Você esta me adiantando que não quer responder nenhuma das perguntas que lhe forem feitas?

Patarta - Isso

Juiz - Ok, então pode encerrar


Interrogando o delegado 
Juiz - Dr. Carlos, inicialmente boa tarde, receba meus cumprimentos pela investigação, pela forma que não é nenhuma surpresa para nós a maneira competente pela qual o senhor conduz as suas investigações. A nossa intenção é que o senhor explique como se desenrolaram as investigações. Isso é importante para nós porque parece que ocorreu uma linha no sentido no primeiro momento e logo depois vocês abandonaram a primeira linha e encontraram outros indícios eu gostaria que o senhor nos relatasse e desde já peço desculpas se eu vir a interrompe-lo. Então eu vou pedir ao senhor que nos relatasse como se deram as investigações? 


Delegado - Bem, de inicio nos recebemos a noticia na delegacia de homicidios. Recebemos a noticia da morte do Leonardo e da Dona Luzia, inicialmente nos foi comunicado como caso de morte por intoxicação alimentar. Mas também de imediato já houve uma suspeita de que talvez não fosse uma morte por intoxicação e sim uma morte por envenenamento o que deveria ser apurado ali ao longo das investigações. Então nos recebemos a noticia dessa morte, era uma morte suspeita e de imediato eu era o responsável por aquele local em que a morte aconteceu e requisitei uma pericia no local, requisitei também que o IML (Instituto médico legal) elaborasse um laudo cadavérico das vitimas porque de inicio a morte havia sido constatada pelo serviço de verificação de óbito então a partir dai começaram as investigações. De inicio Dr. as investigações são muito abertas porque nós não descartamos nenhuma linha possível. Havia a indicação de uma morte por uma intoxicação alimentar, as próprias vitimas morreram acreditando que haviam comido alguma comida estragada, essa linha também não descartada, tanto que de imediato já determinei uma intimação a dona de uma doceria na cidade apontada como uma pessoa que poderia ter vendido esse bolo estragado para entender como era a linha de produção, a logística, meio de transporte, armazenamento, dos produtos na empresa dela. Essas duas linhas surgiram concomitantemente e passaram a ser apuradas também de forma igual pela policia civil. Em relação a diligencia no local do crime, a pericia de local do crime se iniciou e nesse momento alguns familiares estavam no local, alguns primos das vitimas estavam no local e surgiu então a investigada Amanda Partata Mortoza, ela se apresentou com um comportamento que gerou uma suspeita por parte dos investigadores que foi o fato de ela dizer que estava presente naquele momento, quando as vitimas ingeriram as substâncias, as comidas e ela disse também que foi ela quem levou a comida. Então ela passou a ser uma pessoa importante para ser ouvida na investigação. De imediato eu determinei que meus agentes a intimassem para que ela fosse ate a delegacia de policia. Ela vai ate a delegacia e eu começo a realizar o interrogatório. Naquele momento era uma oitiva (Oitiva = É um procedimento formal que tem como objetivo a coleta de depoimentos e provas orais, de forma a fornecer informações relevantes para o caso. Isso ocorreu logo pela manhã quando nos recebemos a noticia das mortes. Na manhã do dia 18.12.2023. Ela chega na delegacia de homicidios por volta das 10 horas e 11 horas da manhã. É quando eu começo a oitiva, de inicio ela não sentou ali para ser ouvida na condição de investigada ate porque eu ainda não tinha nenhum elemento que recaia contra ela. Ela passou a ser ouvida como uma pessoa envolvida na cena do crime e as coisas foram se clareando melhor, era um momento extremamente inicial  das investigações e as coisas foram ficando mais claras com o passar das perguntas. Como ela se apresentou como a pessoa que estava presente no café da manhã em que duas pessoas tinham comido algo que os levaram a morte e ela teria levado esses alimentos eu passei já a perguntar para ela todo o trajeto que ela havia feito nos dias anteriores, no dia do acontecido e nos momentos posteriores. E ela apresentava uma narrativa muito sequenciada, ela parecia uma pessoa extremamente inteligente, tranquila, calma, ela não chorou em nenhum momento, não expressou nenhum sentimento de tristeza ou de arrependimento. Ela falava inclusive que estava grávida e que também estava passando mal e pediu para ir ao banheiro algumas vezes durante a sua oitiva como se ela realmente estivesse comido alguma coisa estragada. Até ai de inicio não havia algo de concreto contra ela. Em determinado momento eu pedi para que ela explicasse o horário exato em que ela saiu do hotel em que ela estava hospedada foi até o mercado comprou os alimentos e levou para as vitimas na casa delas. Ela disse que tinha feito esse trajeto pelo aplicativo UBER. Eu pedi que ela mostrasse no aplicativo o horário exato que ela chegou em cada um desses lugares. O horário em que ela saiu do hotel, o horário em que ela chegou no mercado, depois o horário exato em que ela volta para o hotel, enfim sucessivamente. E ela pegou o celular e me mostrou na mão. Como ela tinha me autorizado que eu visse o conteúdo do celular eu disse eu posso pegar o celular? E quando eu estendo a mão para pegar o celular ela bloqueia o celular e fala não você não tem direito e a partir de agora eu só falo na presença do meu advogado. Esse comportamento por mais que não possa ser interpretado em prejuízo dela me fez como autoridade policial responsável ali, adverti-la que a partir daquele momento as perguntas poderiam gerar uma outra incriminação e ela poderia ficar em silencio. Ela foi avisada que poderia ficar em silencio, ela acionou o advogado dela, nos aguardamos a chegado da advogado, para dar continuidade ao interrogatório dela e quando o advogado chegou a oitiva dela foi transformada em interrogatório, foi dado a ela o direito de ficar em silencio e eu determinei a apreensão do aparelho telefônico dela. Na presença do advogado ela decidiu falar. Ela trouxe uma versão dos fatos no sentido de que ela realmente tinha comprado os alimentos, voltado para o hotel levado para as vitimas, mas ela disse que não tinha envenenado, eu perguntei se ela teria envenenado a família, ela disse que não, ela amava aquela família que ela nunca faria aquilo com as pessoas que estavam recebendo ela. Ela falou que comprou uma orquídea para levar para dona Luzia que foi uma das pessoas que vieram a falecer e deu todos os passos do que ela fez nos dias do acontecido e nos dias anteriores. Nos confirmamos do que muito que ela falou era verdade. Falou que tinha ido em uma loja de vestidos, tinha ido no hospital para uma consulta médica, nos confirmamos tudo que ela falou no interrogatório, foi documentado no inquérito, as câmaras de segurança e ela apresentou uma narrativa extremamente inteligente do caso omitindo unicamente o fato de que ela teria colocado veneno nas substancias que ela serviu as vitimas. As investigações continuaram. A Amanda depois do interrogatório dela por esse comportamento defensivo passou a ser uma investigada principal suspeita do caso e a policia civil passou a investigar quem poderia ter motivo para matar aquelas pessoas e chegamos a informação de que o filho do Leonardo que foi vitima, as pessoas chamam o Leonardo vitima de Leozão, o filho dele na investigação nos chamamos de Leozinho, nos descobrimos na investigação que Leozinho estava sendo ameaçado de morte por perfis falsos em redes sociais e por meio de ligações de centenas de números de telefone diversos. Então, a policia civil passou a investigar essas ameaças que recaiam sobre o Leozinho, e recebemos a informação da delegacia de crimes cibernéticos de que por meio de ofícios as redes sociais teria sido esclarecido de que quem estava ameaçando de morte o Leozinho e a família dele era a investigada Amanda Patarta Motorza. Diante disso nos tivemos dois elementos aqui que se mostraram provas concretas de que ela provavelmente naquele momento tinha matado aquelas duas pessoas. 

Juiz - Desculpa  te interromper. Como vocês descobriram que foi a Amanda? Qual foi a forma de investigação que levou ao nome dela? Os perfis com nomes falsos e os números de telefone?

Delegado - Em relação aos perfis falsos ela usava perfis com nome falso mas todo perfil em rede social ele tem um e-mail para recuperação da conta. Esse e-mail de recuperação da conta era um e-mail da Amanda Patarta. Chegamos a perguntar para ela no interrogatório qual era o e-mail que ela utilizava e era justamente o e-mail que ela usou como e-mail da conta falsa que ela criou no Instagram. E além disso toda conta no momento em que ela é criada ela tem um provedor. Aliás a empresa meta que administra o Instagram ela guarda a informação sobre o loggin de criação, o endereço de onde a conta foi criada, e esse endereço dava na casa da Amanda em Itumbiara. Então nos tivemos a informação por meio de ofícios que o e-mail de cadastro era o e-mail da Amanda Patarta e que essa conta tinha sido criada na casa dela. Então isso nos convencia de que ela era a dona das contas falsas, até porque ela era ex-namorada do Leozinho, então ela teria um motivo para ter algum rancor em relação a ele. 

Juiz - Parece que em uma dessas contas de Instagram ela é denominada leozãoFmorto?

Delegado - Dr, eu não me recordo agora dos nomes das contas. Eram muitas contas. Eu lembro que o próprio numero da conta já era uma ameaça. Isso eu posso afirmar. O próprio nome já trazia uma ameaça implícita, mas não me recordo exatamente se esse nome existia. 

Juiz - Perfeito. 

Delegado - Quando nos tivemos essa certeza de quem ameaçava de morte o Leozinho e a família por meio desses perfis falsos, por meio dessas ligações era Amanda e sabendo que foi ela quem comprou os alimentos e levou os alimentos para as vitimas eu me convenci de que ela era a autora documentei tudo isso em uma representação e pedi ao poder judiciário que decretasse a prisão temporária da Amanda, o poder judiciário diante do parecer do ministério publico concordou com os argumentos e decretou a sua prisão temporária. A partir dessa prisão temporária que foi bastante divulgada e até a prisão temporária ela serve para isso para que as investigações sejam mais eficazes nesse caso serviu plenamente porque depois que ela foi presa temporariamente a sociedade começou a trazer varias informações sobre o fato e sobre o histórico da Amanda a policia civil. A principal dessas informações que mais nos ajudou com essa investigação foi a informação de uma testemunha de nome Joamar que é servidor publico do Estado de Minas Gerais, mas ele faz, fazia viagens de Minas para Goiás, e para compartilhar os custos das viagens ele se cadastrou num aplicativo de carona, e nesse aplicativo de caronas ele também trazia encomendas de Minas, da cidade do trajeto dele para Goiânia, e ele recebeu uma encomenda da Amanda para que ele buscasse uma caixa de papelão na casa dela e trouxesse para Goiânia para onde ela estava. Eu perguntei para ele como é que ele traria uma caixa assim sem saber o conteúdo. Eu perguntei poderia ser droga poderia ser algum ilícito, ele falou não, eu só faço esse serviço quando a encomenda tem nota fiscal, for algo licito. Então, diante da informação de que Amanda havia pedido para ele trazer uma encomenda com nota fiscal, a policia civil pediu a quebra de sigilo fiscal e dentro dessas notas fiscais veio a nota fiscal da compra de um veneno, e com isso nós descobrimos que Amanda havia comprado um veneno de nome arsênico, a pericia identificou nos bolos que ela serviu as vitimas e também nas vísceras da vitimas no laudo cadavérico.  

 

   Narrador - A cara dos advogados de defesa diante de tantas provas acusatórias

Delegado - Então, nos conseguimos comprovar que a Amanda comprou o veneno por um site da internet e que ela pediu para esse motorista de aplicativo trazer essa caixa com o veneno da casa dela em Itumbiara ate o hotel que ela estava hospedada em Goiânia e esse veneno que ela comprou foi o mesmo veneno encontrado no corpo das vitimas e nos alimentos que foram servidos as vitimas. A investigação seguiu e o telefone que foi apreendido com ela no dia do interrogatório foi submetido a uma pericia na policia federal, nos contamos com a colaboração da policia federal porque era um telefone bem tecnológico, a policia  federal conseguiu extrair o conteúdo daquele aparelho mediante autorização judicial e nós tivemos então a informação de que ela dentro desse telefone tinha pesquisado se o veneno que ela serviria as vitimas tinha gosto, tinha cheiro, se poderia ser descoberto em uma pericia, logo depois que ela serviu os alimentos as vitimas e que o Leozão manda mensagem para ela preocupado. O leozão manda mensagem para ela dizendo: Amanda, estamos passando mal, você esta gravida, vai para o hospital, você pode passar mal também, você também comeu os bolos. O leozão morreu preocupado com a Amanda. O telefone dela enquanto ela respondia o Leozão ela pesquisava para ver se dava para descobrir o veneno que ela usou diante de uma pericia. Ela estava preocupada em saber se ela seria pega ou não. A policia civil tem isso muito claro. Pelas pesquisas que ela fez no telefone ela deixa muito claro a sua preocupação que ela tinha em ser pega, ou seja ela tinha plena consciência de que o que ela fez era extremamente errado e ela queria esconder o que fez das autoridades. 

Juiz - Ou seja essa pesquisa foi feita após a ingestão dos alimentos envenenados?

Delegado - Exatamente. Ela pesquisou coisas sobre o veneno depois da ingestão dos alimentos quando o Leozão fala para ela que estava passando mal sugerindo que ela procurasse o hospital também preocupado com ela, inclusive ela poderia nesse momento ter se arrependido e ter avisado: Olha eu dei arsênico, então fala para o médico que é arsênico para você receber o tratamento adequado, mas não ela oculta e passa a partir desse momento a buscar uma forma de dizer que também ela era uma vitima. Ela volta de Itumbiara para Goiânia, e se interna no hospital alegando que também estava passando mal e que tinha comido alguma coisa estragada. Ela começa a criar uma falsa narrativa de que o alimento era estragado e que ela também tinha comido alguma coisa estragada. Ela acreditava de que isso passaria como verdade. Foi o que podemos observar com o comportamento dela depois de ter oferecido os alimentos as vitimas. Depois do primeiro interrogatório dela quando ela foi confrontada diretamente com a policia como investigada, ela percebe que provavelmente ela seria descoberta, naquele momento ela percebeu que a policia civil ia investigar o caso mais a fundo, eu acredito que no primeiro momento ela tenha pensado que o fato fosse passar como intoxicação alimentar, mas como ela percebe que a policia civil a colocou formalmente como investigada então ela passa a criar uma segunda linha de defesa que seria uma doença psiquiátrica. Ela se interna voluntariamente em uma clinica psiquiátrica e já passa a trazer essa segunda linha de defesa, como advogada conhece as teses defensivas que poderiam ser aplicadas ao caso dela. 

Juiz - Foram feitos laudos como características dela foram encontrados laudos de ser mitômana. Laudo feito pela junta medica do tribunal de justiça. Em algum momento vocês puderam perceber que ela estivesse ali mentindo nas palavras dela, logo de inicio?  

Narrador MitômanaA mitomania é a compulsão pela mentira, contada de forma consciente, que tem por objetivo a autoproteção ou, muitas vezes, o falseamento da realidade, de maneira a fazê-la parecer melhor.

Delegado - A impressão que nos tivemos, na investigação trazendo fatos concretos aqui, é que ela criou falsa gravidez, ela se dizia gravida, no momento do interrogatório ela se dizia gravida, e foi constatado que ela não estava gravida, e pelo que nos verificamos ela levou essa mentira não só para o ex namorado, mas para toda a família do ex-namorado e até para a família dela. Ela falsificou exames verdadeiros, nos encontramos exames verdadeiros em uma busca domiciliar que nós fizemos na casa dela. Então, eu não conheço as características medicas dela sobre essa doença,  dessa situação apontada no laudo, mas eu posso afirmar que sim, ela criou histórias falsas com o intuito de se aproximar daquela família, uma família que a recebeu de braços abertos que a tratou com todo carinho porque acreditava que era uma pessoa boa, e ela usou dessa mentira para se aproximar e fazer esse mal que ela fez para a família. Não posso aqui falar sobre características medicas por falta de conhecimento do mesmo, mas sobre a mentira é certo que ela sabia que mentia porque pelas câmaras das imagens de segurança nos percebemos que quando ela não estava em ambientes de pessoas para quem ela não nutria aquela mentira ela não buscava reforçar aquela historia falsa, por exemplo: quando ela foi comprar os alimentos aqui no mercado de Goiânia, ela vai com a barriga a mostra, ela estava com a barriga praticamente zero e ela se dizia uma pessoa gravida de seis meses, agora quando ela vai para a casa da família ela coloca um vestido largo para disfarçar a barriga de uma pessoa que não estava gravida. Pelo que nos apuramos era uma pessoa que criava historias falsas, mas ela sabia que eram falsas, ela usava essas mentiras de forma inteligente para trazer para perto dela as pessoas que ela queria conquistar.

Juiz - Certo. Vocês estiveram na casa dela em Itumbiara. Deu para perceber que a família era de posses, pessoas que tinham propriedades, condição financeira boa?

Delegado - A policia civil esta acostumada a trabalhar muitas vezes com famílias sem muito patrimônio. Pessoas que não tiveram acesso a instrução, não tiveram acesso a saúde, não são muito favorecidas pelo estado. Mas não é o caso da Amanda. A Amanda morava em um condomínio fechado é uma casa de padrão elevado, ela tinha bolsas caras, vestidos e roupas de marca, poucos dias antes do crime ela vai em uma loja de vestidos e compra mais de 3 mil reais em vestidos. Nas oitivas que nos fizemos com as famílias das vitimas elas relatam que ela tinha um padrão de vida muito elevado, ela gostava de restaurantes caros, falava de marcas de luxo, chegava a dizer que não precisava de auxilio financeiro de ninguém em nenhum momento porque ela tinha uma boa condição financeira. A impressão que ficou pelo que eu ouvi é que era uma pessoa com uma condição financeira muito acima da normal. Um padrão de classe média alto, uma vida muito confortável em uma casa de alto padrão. 

Juiz - Durante toda a investigação em algum momento ela mostrou algum tipo de descontrole emocional ou o tempo todo ela se mostrava equilibrada, calma ...

Delegado - Não em nenhum momento ela mostrou descontrole emocional, ela foi muito calma apresentou uma narrativa muito congruente dentro do que ela falava, e o que eu percebo pois tenho alguns anos trabalhando dentro da delegacia de homicidios, é que a pessoa que mente ela precisa ter uma inteligência ate um pouco superior a de outras pessoas, porque a mentira demanda um raciocínio e uma atenção para você não entrar em uma contradição muito grande. O que eu percebi nela é que ela tem uma inteligência ate um pouco superior das demais pessoas que eu investigo porque ela conseguiu manter uma história falsa que omitia justamente os pontos que podia prejudica-la. E ela manteve essa linha, essa narrativa sem trazer dentro da narrativa, nenhuma incongruência entre si e quando ela é perguntada mais de uma vez sobre a história, ela mantinha a história exatamente da mesma forma como ela contou na primeira vez. Ela demonstrou um raciocínio muito bom, uma compreensão do que ela fazia totalmente normal  e também demonstrou plena consciência de que ela sabia de que sabia que estava fazendo algo errado. Porque ela ocultou o depoimento dela justamente a partir da parte errada. Se ela não soubesse que era errado matar, se ela não tivesse esse discernimento ela não teria ocultado essa parte da policia, teria falado. Como ela ocultou justamente o crime isso mostra que ela sabia que era errado e tinha sim a capacidade mental preservada porque ela conseguiu construir uma narrativa que fosse apropriada para a defesa dela. 

Juiz - Tem alguma coisa a mais relacionada com esse fato que o senhor acha importante relatar? 

Delegado - Acho importante relatar que no telefone dela ela apagou as pesquisas relacionadas ao veneno, isso mostra que ela estava tentando destruir provas do crime que ela praticou e a pessoa que tenta destruir provas, tenta ocultar da policia uma fato tem consciência de que aquele fato é ilícito. Essa conduta dela pós crime de tentar destruir provas esconder o que ela tinha feito mostra o conhecimento da ilicitude do ato praticado. Durante a investigação a policia civil com a informação da quebra de sigilo foi pedido as notas fiscais de todas as compras no ano de 2023, dentro dessas notas fiscais nos tivemos a compra do arsênico no dia 08.12, mas algumas semanas antes ela tinha comprado chumbinho, é um raticida, isso gerou a suspeita de que ela tinha tentado envenenar outras pessoas em algum momento. Chegamos a investigar isso, ela tinha levado suplementos alimentares para a mãe do Leozinho a Senhora Eliene, eu apreendi esses suplementos submeti a pericia, mas não foi encontrado nenhum veneno. Ocorreu a compra de um outro veneno que foi um raticida mas a policia não conseguiu esclarecer se ela conseguiu envenenar outras pessoas com esse veneno ou não. Por que que a Amanda fez isso com essa família sendo que ela já havia forjado outras falsas gravidez com outros namorados e ela não chegou a matar ninguém. Eu me convenci que ela fez isso com essa família porque foi uma família boa, uma família do coração bom que a acolheu de braços abertos, então ela teve a oportunidade de prejudicar essa família. Nas outras famílias que ela forjou falsa gravidez a pessoa nem queria assumir o filho. Dizia: Não! Depois que você fizer o teste de DNA  a gente conversa. Uma das pessoas que nos ouvimos falou isso - Não, eu pedi o teste de DNA e ela nunca fez. Então, assim a pessoa já afastava ela de imediato. Esse caso eu percebi assim uma família do coração tão grande que acolheu a Amanda simplesmente confiando de que aquilo que ela falava era verdade. Ela se aproveitou da bondade dessas pessoas para fazer o que ela fez. 



Tá aí a diferença entre um Delegado diligente! Parabéns Dr.
33
Gente tô chocada com a perversidade dessa moça , mas, mais ainda com a sagacidade, inteligência, serenidade , competência, educação, e conhecimento desse delegado. Dr Carlos,você foi esplêndido nas suas colocações, e respostas, transbordou elegância, coerência, técnica, e didática, parabéns 👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻
2
Que delegado inteligente, apresenta um profundo conhecimento e usa uma linguagem de fácil entendimento para todos. Perfeito ❤
21
Competência e empenho.Parabéns Dr Carlos e equipe.
23

Carlos Alfama é um excelente professor de direito processual penal. Por isso, acho que ele tenha uma facilidade para falar d e forma clara e certeira.
9

Parabéns pra esse delegado ele explica super bem A gente entende tudo ❤
1

Que profissional maravilhoso!!

21

Dezembro de 2024 - Marcia Payne - 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Resumo do filme - "Bicho de sete cabeças"

Palhaço vassourinha, Damião, Blá blá blá

Vera Loyola - e o insustentável peso da futilidade