Os frutos da terra - Andre Gide

 

       Que a importância esteja no teu olhar, não naquilo que olhas.

O escritor francês, André GideNobel de Literatura em 1947, escreveu Os Frutos da Terra ao sofrer de tuberculose. Em forma de uma longa carta ou discurso para um correspondente imaginário - Nathanael, um discípulo e companheiro idealizado - trata-se aparentemente de um hino aos prazeres inebriantes da vida cotidiana, só verdadeiramente apreciáveis por alguém próximo da morte, para quem cada respiração é milagrosa. Fala de sensações como o sabor da amora-preta, o gosto dos limões e o sentimento peculiar que só se obtém à sombra de certos jardins bem cuidados,,, A ideia central é que devemos deixar os sentidos nos levarem, sem nenhum tipo de repressão, nenhum tipo de angústia: viajar sem destino, aproveitando cada pequeno detalhe que a natureza reserva para nosso prazer. Gide escreveu Os Frutos da Terra ainda jovem e conseguiu colocar uma intensidade e sensação de urgência em sua obra que poucos escritores já conseguiram.

Li esse livro no seculo XX na década de 90, por longos anos foi meu livro de cabeceira, gostava de ouvir Gide contar sobre a natureza e a felicidade que sentia de estar em contato com ela, se morasse ainda na mesma casa da Avenida Cacilda, 178, ele ainda estaria comigo, hoje vive em minhas lembranças. 



Porto - Um dia, um mês de um ano qualquer - Estou deitada na terra em cima de folhas e gramas quase secas, ainda não é outono. Mas desde a primavera começaram a morrer. Morrem no nascimento no primeiro alvorecer. Dizem: "Está tudo mudado. A natureza está louca".  Errado! Sabemos perfeitamente bem quem são os loucos, onde moram, onde vivem, seus nomes e seu poder de vida e morte. São como o mar revolto quando não pode sossegar, cujas águas lançam algas, lixos e lamas. No caso dos homens tristeza e agonia. Penso nos escritores que travaram uma luta eíntre viver ou morrer. Gide venceu essa luta. Mas o que dizer de Hemingway?  Melancolia, depressão, morte. Tudo junto. As biografias desses que se foram tem mais mentiras do que verdade. Antes dele em 1941, Virginia Wolf entrou no rio Ouse próximo a sua casa, ela ousou, com o bolso cheio de pedras,  mergulhou e nunca mais voltou.

Fiquei sozinha um domingo inteiro. Não telefonei para ninguém. Mas quem? Isso não é o mais incrível que pareça, isso é a coisa mais normal em minha vida. No decorrer do dia até a hora de dormir tive umas três vezes um súbito reconhecimento de mim mesma e do mundo que me assombram e me fez mergulhar em profundezas obscuras de onde sai para uma luz de ouro. Para um encontro do meu eu.

Novamente um domingo se fez depois daquele último. Estou deitada na areia em frente ao magnifico oceano atlântico. O sol é tremendamente agradável e eu desejo registrar esse momento em palavras e em fotos, tenho testemunhas invisíveis no céu, principalmente aquele que nos convida a nos achegar-mos a ele, Tipo assim: Vem para a minha beira. É tudo tão tranquilo de uma lassidão. Relaxamento excessivo ao extremo. Gaivotas passam rente a minha cabeça e vão descansar em cima de uma pedra. Olha para elas e sua leveza sem futuro somente o momento. Essa paz, que me faz pensar isso não é normal. Que absurdo pensar que ter paz não é normal. Isso porque existe tantas coisas ruins acontecendo. Este século é o pior século de toda existência, alguém tem dúvidas?

A vida é como um sonho; é o acordar que nos mata - Virginia Wolf



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