Cumplicidade, vida e amizade na rede social

Não minta para mim, eu sei perfeitamente que você esteve aqui! Porque eu estava acordada. Havia acabado de ser chamada pelo M16 para postar algo sobre um grande escândalo envolvendo a CNJ e os bandidos atrás da toga, coisa suja até a lua. Eu sei perfeitamente bem que você me viu, mas fez que não, porque você estava interessado em outras coisas, como por exemplo: abrir uma gaiola e soltar milhares de pererecas no quarto da MA. É tudo verdade. Tanto que Mano Melo também estava na página, mas ao contrário da minha opinião, como um doce que é, achou tudo lindo, e foi curtindo assim como faria sininho e seu pó de pirlim pim pim. Escrevia em tudo: ótimo, maravilhoso, divino, bis e etc...

Bem que eu tentei falar com você, mas você não me ouvia. Quando eu estava em uma postagem você já estava em outra. Eu te seguia em cada escrita, mas foi tudo inútil, tentei te acordar sutilmente, com um pouco de medo, porque ouvi dizer que não devemos acordar quem anda dormindo. E depois eu não achava que tinha chegado a hora certa. Naquele momento eu tinha duas preocupações: minha irmã Sueli que me pedia um conto e outro assunto era Helena. Depois de ter ido até a página de Helena, qual não foi minha surpresa ao ver que a casa estava vazia, os PTralhas levaram tudo. Encontrei sua página cheia de músicas, musicas de todo tipo, uma confusão alienante, quase piro. As anotações das revoluções sumiram. Tudo que precisava me manter informada sobre pinheirinho, Monte Belo, Amazônia, bandidos de toga, satiagraha e tantos outros que de certo ocasionariam uma terceira guerra mundial simplesmente sumiram.

Helena também sumiu, sumiu sem deixar vestígio. Quem de hoje em diante irá olhar sério para mim e dizer: “Toma juízo”. Quando eu abri os olhos encontrei a mim mesma olhando para uma casa vazia, uma parede branca e no canto uma vitrola dessas antigas rodando um disco de vinil, uma música antiga, aquelas dos anos 60, que não lembro bem o nome. Espero que esteja feliz. Tão feliz quanto foi um dia nessa terra.

Já era noite quando fui tomar um banho e tirar o pijama da manhã para somente colocar outro. Como é que pode uma mulher da minha idade ficar o dia todo conectada. Nem sei o que acontece mais no mundo se é que existe outro mundo que não seja esse aqui azul da cor do mar. Um pouco mais tarde, fui até o fogão e fiz uma caneca de chá e tomei com um quarto de rivotril. Era uma noite que eu não estava a fim de ficar contando carneirinhos ou lembrando os tempos felizes quando eu não tinha que pensar em nada só olhar as formiguinhas na parede da minha casa andando uma atrás da outra. As pessoas sempre disseram que existia um mundo pela frente, mas eu sempre vi somente esse, esse que nunca passa que nunca deslancha... Precisava apagar. Virei de lado e a única coisa que lembro é da expressão de Robert de Niro naquele bar chinês no filme Era uma vez na América, inalando alguma coisa e depois a paz. E assim a noite se foi...

Assim como o dia vem  a noite vai. E nada como um dia após o outro. Não sei pra quê. São sempre uma repetição do ontem. E vocês devem estar brincando quando eu abro a página inicial e encontro: Bom Dia! Um lindo dia ensolarado! Eu nunca consigo me conectar com isso. Não sei de onde vocês são. Devo dizer que algo mudou. Não sou mais uma existencialista, ou uma humanista, sou uma apática. Partidária do apaticismo. São aquelas pessoas que passam a maior parte do tempo olhando o nada e que de vez em quando abre a janela olha o horizonte ou vai caminhar na praia e diz: um tanto sem graça: “Que lindo!”.  E só.

Não tenho muito que dizer a não ser: “É a vida!” Não tive oportunidade de conhecer outra por mais que tentasse. Mas como nem tudo que é ruim é para sempre, espero a libertação.

Deve estar fazendo um ano que sou prisioneira. Eu sempre fui contra a internet em casa. Porque já sabia do que sou feita. Sou feita de palavras. E também existia a má fama por causa de um tal de Orkut que eu nunca conheci. Mas coloquei meu nome lá e hoje dizem que é uma cidade fantasma. No começo minha filha ficava no meu pé dizendo: “A senhora esta maluca”. É tão estranho escrever a palavra filha, mais estranho ainda é ser chamada de senhora. Mas eu sorria amarelo e disfarçava que não era nada disso, assim como imaginava que nunca havia parido. E agindo como um viciado tentava dizer a ela e a mim que só bebia daquela tela socialmente. Foi em  maio que aconteceu. Fiquei doente sem poder andar. Só na cama e de bruços. Não fosse a dor do cão teria dado graças a Deus, porque agora ninguém mais ficaria no meu pé, já que de uma hora para outra eu havia me transformado em uma coitada que não andava e penava em dores. Assim, aqueles meses vivi com morfina, e entre uma dor e outra dava gargalhadas, porque havia encontrado pessoas de bem com a vida e se não eram estavam ficando, porque aqui não tem vez para mau-humor. Hoje sei que isso aqui não é lá essas coisas, tem horas que penso que é uma invenção do cão. Mas eu mudei, hoje tenho plena convicção que o mundo não é mais meu umbigo e que as pessoas não são mais uma estatística e que Carapicuíba realmente é o cú do mundo. 


Não foi fácil começar. Comecei procurando um blog legal e depois acessando seus seguidores. E assim começou minha vida virtual. Ou seria surreal? Entrei em um grupo de poetas que se reuniam na casa das rosas na Paulista. Isso até discordar do partido politico deles e eles me bloquearem e eu fui dormir na pia. Depois, xereta como sou, comecei a procurar amigos em outros países. Comecei com os italianos. Desconfiados que só, perguntavam de onde eu os conhecia e claro que ainda não sabia mentir, pois estava começando nessa vida de mentirosa. Assim me descartavam. E eu, ó dó. Os árabes e os hindus foi outra história. Depois de adicionar um, começou a chover pedidos no meu pedaço.  E foi com eles que eu deixei de ficar on-line, porque sempre que ficava um deles aparecia e começava: “Hi, chat, webcam, Skype, sex...“. Eu mal entendendo ou fingindo mandava mensagens em inglês dizendo que necessitava de um novo computador, câmaras de vídeo, uma caixa de som, um novo teclado, um mouse cor de rosa e outras coisitas e assim eles me bloqueavam ou sumiam para sempre. Vai entender.

Ainda tem alguém com saco? Depois de dois meses de cão, o repouso e o bom humor me curaram e aquelas noites em claro me trouxeram amizades duradouras. Sueli se tornou minha irmã ocupando o lugar dos meus finados irmãos. E conheci Vera Malaco que vive presa em uma cama com uma doença pior que a minha. Comemoramos o ano novo juntas. Eu, ela e sua mãe. Quando penso nela, penso em seus gatos aninhados comigo no sofá enquanto dormia. E penso também naquele quarto cheio de livros e fico pensando que deveria estar ao seu lado segurando suas mãos enquanto caminha, ajudando sua mãe na cozinha, fazendo compras... No fundo estaria me ajudando por  ajudar outros a não perderem o encanto e a não ficarem deprimidos.

“Precisamos de sonhos de ilusões, de coisas que nos mantenham vivos – Alguém discorda?”.

Mlailin


















Comentários

vera lucia disse…
sigo vc se me seguires....
vera lucia disse…
http://veruskablogeercombr.blogspot.com/
Já seguindo, agora D~e uma olhada no meu também, OK?

http://juntandopalavraseimagens.blogspot.com/

Gostei do texto, reflete, em parte, a realidade desse mundo virtual!!!

Beijos, Minha Linda!!!
Tania Montandon disse…
Adorei, sinto um pouco assim
beijinho
marcia mesquita disse…
Obrigada pelos
comentários Bjs

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