Um conto de Leon Tolstoy - A short story by Leo Tolstoy - "Family Happiness"
"A mulher é uma substância tal, que, por mais que a estudes, sempre encontrarás nela alguma coisa totalmente nova" - Leon Tolstoy

Estava eu nesta terca feira descansando sentada em frente a esta tela quando ao olhar para meus livros encontro um de Leon Tolstoy. Um livro que adquiri nas livrarias livres espalhadas pelos bairros de Los Angeles, essa maravilha de bondade que os americanos fazem. Nao lembro quando encontrei e em qual localidade. Sei que estava aqui junto com outras dezenas e resolvi folhear suas paginas. A primeira historia tem o titulo de felicidade familiar. Qual nao foi a minha surpresa quando ao procurar no google a tradução descobri que não existe. Nao existe? Mas que absurdo é esse? Como pode? Então resolvi eu mesma fazer a tradução, já que hoje ninguém mais se importa se tem ou nao. Estão todos satisfeitos com Guerra e paz, Anna Karenina e A morte de Ivan Ilych, mas eu nao. Do que se trata esse livro?
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I was resting in front of this screen this Tuesday when, leafing through my books, I came across one by Leo Tolstoy. A book I found in the free bookstores scattered throughout the neighborhoods of Los Angeles, that marvel of American kindness. I don't remember when I found it or where. I know it was here along with dozens of others, and I decided to pick it up. The first story is called "Happy Family." Imagine my surprise when, searching for the translation on Google, I discovered it doesn't exist. Doesn't exist? What nonsense is this? How can it be? So I decided to do the translation myself, since nowadays no one cares whether it exists or not. Everyone is satisfied with War and Peace, Anna Karenina, and The Death of Ivan Ilyich, but not me. What is this book about?
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Felicidade em Família é uma das obras iniciais mais íntimas e psicologicamente penetrantes de Liev Tolstói, escrita em 1859, quando o autor tinha apenas 31 anos. Esta novela esguia, composta quase uma década antes do escopo épico de Guerra e Paz, revela a habilidade já magistral de Tolstói para dissecar as complexidades das relações humanas com precisão cirúrgica e profunda empatia.
A história se desenrola através da voz de Masha, uma jovem de dezessete anos que se apaixona por Serguei Mikhaílich, amigo de seu falecido pai e tutor de sua família. O que começa como um conto de namoro apaixonado gradualmente se transforma em uma exploração matizada de como o amor romântico evolui — ou talvez se dissolve— dentro dos limites do casamento e da rotina doméstica. Tolstói traça o arco do relacionamento deles desde os ápices inebriantes do romance inicial até as realidades sóbrias da vida conjugal, capturando com notável acuidade psicológica as sutis mudanças de sentimento que ocorrem quando a paixão encontra os ritmos mundanos da existência cotidiana.
Escrita em primeira pessoa, a novela atrai os leitores para o mundo interior de Masha enquanto ela navega pela transição da infância para a vida adulta, dos sonhos idealizados da juventude para a compreensão mais complexa que vem com a experiência. A genialidade de Tolstói reside em sua capacidade de retratar essa jornada sem sentimentalismo ou respostas fáceis, apresentando o casamento nem como puramente feliz nem inteiramente desiludido, mas como algo mais complexo e, em última análise, mais verdadeiro.
A obra antecipa muitos dos temas que mais tarde dominariam os grandes romances de Tolstói: a tensão entre o desejo individual e a expectativa social, a busca pela felicidade autêntica em meio a formas convencionais e a luta humana perpétua para encontrar significado no amor e na vida familiar. No entanto, Felicidade em Família possui uma intensidade concentrada que o diferencia, e sua brevidade permite que Tolstói se concentre com atenção precisa na geografia emocional de um único relacionamento.
Por meio da história de Masha, Tolstói examina questões fundamentais sobre a própria natureza da felicidade: se o verdadeiro contentamento pode ser encontrado na tranquilidade doméstica, se o amor apaixonado pode sobreviver ao teste do tempo e o que constitui uma vida significativa para uma mulher na sociedade russa do século XIX. O poder duradouro da novela reside em sua recusa em fornecer respostas simples a essas questões eternas, oferecendo, em vez disso, um retrato do casamento que é específico de sua época e lugar e universalmente reconhecível por sua honestidade emocional.
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Family Happiness stands as one of Leo Tolstoy's most intimate and psychologically penetrating early works, written in 1859 when the author was just thirty-one years old. This slender novella, composed nearly a decade before the epic scope of War and Peace, reveals Tolstoy's already masterful ability to dissect the complexities of human relationships with surgical precision and profound empathy.
The story unfolds through the voice of Masha, a seventeen-year-old girl who falls in love with Sergey Mikhaylych, her late father's friend and her family's guardian. What begins as a tale of passionate courtship gradually transforms into a nuanced exploration of how romantic love evolves—or perhaps dissolves—within the confines of marriage and domestic routine. Tolstoy traces the arc of their relationship from the intoxicating heights of early romance through the sobering realities of married life, capturing with remarkable psychological acuity the subtle shifts in feeling that occur when passion encounters the mundane rhythms of daily existence.
Written in the first person, the novella draws readers into Masha's internal world as she navigates the transition from girlhood to womanhood, from the idealized dreams of youth to the more complex understanding that comes with experience. Tolstoy's genius lies in his ability to render this journey without sentimentality or easy answers, instead presenting marriage as neither purely blissful nor entirely disillusioning, but as something more complicated and ultimately more truthful.
The work anticipates many of the themes that would later dominate Tolstoy's great novels: the tension between individual desire and social expectation, the search for authentic happiness amid conventional forms, and the perpetual human struggle to find meaning in love and family life. Yet Family Happiness possesses a concentrated intensity that sets it apart, its brevity allowing Tolstoy to focus with laser-like attention on the emotional geography of a single relationship.
Through Masha's story, Tolstoy examines fundamental questions about the nature of happiness itself: whether true contentment can be found in domestic tranquility, whether passionate love can survive the test of time, and what constitutes a meaningful life for a woman in nineteenth-century Russian society. The novella's enduring power lies in its refusal to provide simple answers to these eternal questions, instead offering a portrait of marriage that is both specific to its time and place and universally recognizable in its emotional honesty.
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Será este o titulo que darei também ao meu pequeno e curto conto abaixo, nao serei uma Sofia Tolstaia, nunca serei, mas pensando bem posso ser Leona Tols. Quem se importara? Sou uma componente de uma sociedade que nao tem paciência de ler dez paginas que dirá mais de 500 paginas de guerra e paz. Foram os clássicos que profetizaram essa tragédia que vivemos hoje e mesmo assim ninguém se importa em ler ou reler e procurar entender o que deixaram escapar o que ficou desapercebido, o que estava escrito nas entrelinhas, na nota do rodapé no sumario, em uma frase nao escrita, aquela mesmo que nos fez fez abrir a boca de felicidade, de ansiedade, de tristeza e outros sentimentos...
Familia feliz - por Leona Tols - Eu, prazer
Bom dia amados! (É assim que se diz no meu país, a terra onde todos se matam. Irônico!)
Agora, no final do dia, no meu segundo passeio de bicicleta, lembrei-me de que precisava olhar as janelas dos apartamentos com vista para 2020. Por quê? Porque no sábado e no domingo, decidi passar por elas novamente, porque precisava encontrar meus vizinhos, porque se dependesse deles, eu só os encontraria por acaso. E que surpresa!
O que eu realmente queria quando olhava as janelas era o que havia atrás delas, porque naquele sábado e domingo, eu tinha guardado isso na minha mente, no meu subconsciente, para não esquecer. E eu sei exatamente o que vi e o que me encantou. Não estou sendo rude, estou sendo sincero, verdadeiro. Estou aqui há pouco tempo e considero este lugar meu lar. Quero ser sempre EU, calma, em paz, amorosa, consciente, presente nas situações boas e ruins, mesmo de longe, observando, assim como observo o nascer e o pôr do sol. Quero olhar para o meu vizinho e dizer bom dia e ouvir "bom dia"! Um sábado e um domingo, o dia 25, o dia 26 — quando havia vida — a vida não é apenas respiração humana, é também sentimento. Sei que todos nos precisamos de encorajamento e o recebemos, mesmo sem saber de onde veio o vento que o trouxe.
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Deve-se escrever apenas quando se deixa um pedaço de carne no tinteiro toda vez que mergulha a caneta
"Claro eu sou uma jovem", respondi, rindo. "Bem eu nao posso elogiar uma jovem que esta viva apenas quando as pessoas a estão admirando, mas assim que ela é deixada sozinha, entra em colapso e nao encontra nada ao seu gosto - uma que é toda para mostrar e nao tem recursos em si mesma".
"O paradoxo da escrita quando você coloca algo que aconteceu. As pessoas muitas vezes nao acreditam enquanto você pode inventar qualquer coisa, e as pessoas assumem que deve ter acontecido com você" (Andrew Hollermam - Romancista americano)
Sentei no banco e comecei a contar ate dez para adquirir coragem. Foi quando lembrei do homem que matou a jovem ucraniana dentro de um vagão de metro na Carolina do Norte. Quando cheguei ao numero onze perdi a coragem lembrando da jovem se voltando para ver o que aconteceu e depois caindo no chão como em câmara lenta. Continuei ali no banco sentada e comi meu lanche e abri meu suco e bebi ate a ultima gota, ali no banco olhando os prédios e a cruz daquela igreja em frente. Logo viria um outro trem. Como eu podia estar com medo? Eu que andei aqueles anos todos em todas as direções do metro do Porto em Portugal, e agora essa bobagem de ficar pensando no que poderia acontecer me fazia estremecer. Poderei ser eu a próxima vitima? Comecei a contar agora de dez a vinte dando um tempo entre um pensamento e outro. Levantei desci as escadas e subi de novo a procura de alguém, mas dessa vez nao tive a mesma coragem que tinha na Europa, aqui parecia que todos estavam tomados de indiferença para com aquela pobre alma: Eu! Na guichê de informação o senhor disse que me dirigisse ate uma maquina que estava nas escadas que direcionam ao metro de long beach, falou o numero da escada que eram dois e três ou um e dois, como se eu nao soubesse, afinal tinha acabado de ir ate lá. Nas maquinas nao existia nenhum segurança que ajudasse somente pessoas que adquiriam seus passes e nada mais, fiquei olhando se passava alguém e todos tinham muita pressa. Eu nao tinha pressa nenhuma, mas estava sendo acometida por uma covardia, logo eu, que andei pelos metros da Europa a fora, o mais terrível para mim foi o da Franca com aqueles labirintos do fauno. Quando eu pensava que havia decorado a linha que seguia para Champs-Elysees, me perdia novamente. Carrego comigo o mapa do metro ate hoje. Já em Roma era uma maravilha, também centenas de séculos sendo um império, alguma coisa tinha que funcionar neste século XXI. Depois de muito pensar lembrei da solução Herodes: Nao podendo identificar quem seria o rei dos judeus recém-nascido, mandou matar todos os bebes com menos de dois anos. "A solução Herodes" é um tipo de solução a que muitas vezes recorremos na vida pratica quando incapazes de identificar a alternativa que soluciona um problema experimentamos cegamente todas as possibilidades ate esbarrar na resposta certa. E a resposta certa era naquele momento, voltar para casa e tentar escrever algo no meio ao caos dos pensamentos.
O mundo esta virando um sonho? Ou o sonho esta virando um mundo? Pergunto, porque nao sei, estou confusa. Estou como Kafka quando escreveu: "Antes eu nao entendia porque nao recebia resposta a minha pergunta, hoje nao entendo como podia acreditar que era capaz de perguntar. Mas realmente nao acreditava, só perguntava". Tem outra frase que também gosto: "Somente a catástrofe nos salvara". Acredito que a frase mais dita hoje por todos nos é "Eu nao sei". I don't know, foi a primeira frase que aprendi quando aqui cheguei, juntamente com look to you, frase dita pelo meu parceiro. Nao sei se vou continuar traduzindo o livro de Leon, nao sei porque acredito que a historia só esta sendo interessante para mim, ou talvez mais uns cinco, aqueles que em criança começaram com os clássicos de mais de 200 paginas. Pinocchio por exemplo, quando li era um livro grosso e nao esses cheios de gravuras coloridas com 10 paginas. Assim, fico pensando em fazer um resumo dos melhores momentos e pronto. Um conto com 92 paginas parece nao ser nada, para os virtuais que gostam de frases curtas sim, é muito. O livro me lembra a minha juventude, minha primeira paixão, minha vergonha ao ver meu corpo se modificando, minhas tristezas que pareciam nao ter fim, nao que tenham tido um fim, mas com o tempo fui percebendo que tristeza é a vida e eu nao estava disposta a deixa-la tão cedo.



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