Navegando em Los Angeles - living in Los Angeles





Agora eu entendo porque esse povo mora aqui na cervejaria. Por que eles precisam vender suas obras, toda uma vida e experiência que conseguiram esses anos todos, e assim o artista fica esperando que alguém olhe e compre toda sua obra e não importa que seja esse comprador um gênio ou um louco. Sai para andar de bicicleta, dar as minhas voltas de todo santo dia. Na ida encontrei moradores próximo ao lixo procurando restos de arte para construírem uma arte diferente. Na minha terra e feio ficar perto ou pegar algo de dentro do lixo. Exceto a noite as escondidas. Mas pensando bem o povo que mora aqui tem razão,  é bem melhor pegar durante o dia onde todos veem com a lua testemunhando no céu do que ser acusado de ladrão, porque nesse mundo tudo é possível. Eu olhei para aquilo e pensei: Por que não? Deixaram uma air fray vou esconder atrás da caçamba (Dumpster). E foi o que fiz alguns minutos atrás depois. 

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Now I understand why these people live here at the brewery. Why they need to sell their work, their entire life and experience gained over all these years, and so the artist waits for someone to look at and buy their entire work, whether that buyer is a genius or a madman. I go out for a bike ride, doing my rounds every single day. On the way, I found locals near the garbage dump looking for art scraps to create a different kind of art. In my hometown, it's ugly to be near or take something from the garbage. Except at night, in secret. But thinking about it, the people who live here are right; it's much better to take it during the day where everyone can see it with the moon in the sky than to be accused of thievery, because in this world, anything is possible. I looked at it and thought: Why not? They left an air fryer; I'll hide it behind the dumpster. And that's what I did a few minutes later.


Bem depois eu fui ate o  o final da rua onde tem a linha do trem, ali  depois do farol, essa coisa cumprida redonda que pensa em subir aos céus. Passei por ele e fui ate uma bandeira de um pirata parecida com a mesma bandeira que Bartolomeu Português carregava no mastro do seu navio. Sim ele mesmo. Nascido em Portugal pirateou no Caribe

O grande contributo de Bartolomeu Português para a pirataria foi a invenção do Código Pirata, uma lista de regras que a tripulação de um navio pirata usava como lei. O Código ajudava a manter a disciplina e garantia uma distribuição mais justa dos lucros entre os marinheiros.

Depois de alguns sucessos no alto mar, Bartolomeu Português foi perseguido por uma maré de azar. Capturado por espanhóis, ele conseguiu fugir do navio onde estava preso, deu à costa mexicana e se escondeu na floresta. Depois de uma longa caminhada, conseguiu uma carona de outro pirata, juntou uma tripulação e capturou o navio onde ficou preso! Mas o azar não tinha terminado. O navio naufragou. Bartolomeu sobreviveu mas passou seus últimos dias na miséria, sem mais sucesso como pirata. 

Fiquei um tempo ali olhando e pensando, qual a historia que essa bandeira deseja contar? como ela não respondeu resolvi encontrar uma resposta naquilo que existe em sua volta, pois a frente da casa mostra quem são seus moradores. Ou não? Parece que muita gente por ai afora acredita que não, pois quando andamos em frente delas parece que ali moram moradores de rua. Aqui não,  aqui só moram artistas e eles não passam o tempo todo dormindo com uma garrafa de aguardente na mão. Se não, estão dentro de suas casas é  porque esta em compras de material ou trabalhando em uma outra arte, essa remunerada aquela que em meu pais chamamos de Consolidação dos escravos do trabalho, cuja sigla é CLT. Sim isso mesmo. E o processo que se tem de passar cujo nome é solidificação, endurecimento. O grande medo que eles tem não e esse mas sim o não  reconhecimento de sua arte. E assim eles enfeitam a frente de suas casas com coisas que eram suas ou que foram pegando  espalhadas nas calcadas com um bilhete: Free. Sim, eis o chamariz para mostrar quem são e que estão ali dentro ou estarão quando vierem visita-los. Fiquei em frente da imagem de Bartolomeu Português perguntando a ele o que ele fazia ali. Ele não respondeu mas algo logo abaixo, ouvi o som de uma voz  dizendo: Mas o azar não tinha terminado. O navio naufragou. Bartolomeu sobreviveu mas passou seus últimos dias na miséria, sem mais sucesso como pirata. Parecia um Oráculo de Delfos. Eu pensei: Que loucos! 

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Passei pelo jardim e vi aquele senhor sentado de costas para mim, ele sempre esta sentado na banco com o seu cachorro ao lado. Ele espera alguém para conversar. Ele tem uma voz forte e um sorriso espontâneo. Embora eu nunca tenha conversado com ele exceto dar a ele um bom dia ou uma boa tarde e nada mais. Não falo inglês. Mas isso não chega a ser uma pena, pois consigo captar muita coisa e quando aprender saberei além do que vi. O nome desse senhor é John. Continuei pedalando, iria ate a virada da rua onde fica a linha do trem iria olhar pela centésima vez o trem passar, ouvir o apito e ficar olhando para os vagões e o barulho das rodas, e lembrar da minha infância bem perto ao matadouro.

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Minha casa era encostada a linha do trem mas não tinha cerca, tinha um barranco onde eu pulava e entrava no vagão e seguia ate o matadouro do KM 21, era ali que vacas e bois eram abatidos em sacrifício em nome da gula de um povo sedento de carne. No inicio eu ia e subia ate a cerca. Tem uma escada e duas arvores e muitas folhas no chão, depois vem a cerca. Por dois dias eu fiz isso, fui e anotei no meu caderno minhas lembranças, minhas saudades. E o meu não entender do porque daquela judiação com aqueles animais No terceiro dia apareceu um senhor e eu fiquei com medo dele ser agressivo, ir ate sua casa pegar o revolver, mas ali não era uma propriedade particular, e um condomínio, pagam para viver dentro de seus estúdios e não para se apropriaram de outros cantos onde outros moradores podem pisar, e ali parecia um pedaço de jardim e pelo estado não era de ninguém. Ele falou algo em sua língua materna. Eu para justificar minha presença, pois sei que dificilmente alguém tem lembranças como as minhas e escolhem um lugar assim para passar alguns minutos. Disse que era sua vizinha e que gostava de lugares assim para escrever. Não lembro se traduzi ou se falei em espanhol. Ele falou sobre um jardim próximo ao bar, onde tem arvores e bancos. Eu conhecia, mas não era lá que eu queria estar. Me despedi pois sabia que nem todo mundo entende que pessoas sensíveis gostam de ficar em um lugar conhecido em um lugar que lhe traz recordações agradáveis. Foi a ultima vez que subi as escadas ate a cerca, Mas continuo entrando na rua indo ate o fim e voltando. Já tinha notado uma bandeira preta com uma abobora, a primeira vez não tinha reconhecido o que havia no desenho pois estava enrolado e eu só via um pedaço. Mas desta vez reconheci e percebi o desenho tinha o significado de uma festa que costumam fazer todos os anos no mês de outubro. Comemoram o dia dos mortos e  fazem isso por intermédio de esqueletos e fantasmas. Uma festa para La Catrina a deusa da morte. 


Encontrei também pela caminho uma senhora que parece ser uma moradora de rua, pois ela estava metade do corpo dentro de uma caçamba e a outra metade para fora dela, catava lixo e depois enchia uma sacola. Era uma senhora que usa um chapéu e mascara. Acredito que ela usa porque não deseja que vejam seu rosto. tem o físico de pessoas vindas do continente asiático, talvez Indonésia, Malásia ou Vietnam. Ela costuma estar aqui dentro pois uma vez disse a ela que era perigoso ela fazer isso, pois o local e residencial e ela podia ocasionar um acidente e ferir a si mesma caindo dentro da caçamba, ficando desacordada. Naquele dia falei com ela pelo tradutor, ela entendeu e começou a ir em direção do seu carro fabricado manualmente para carregar suas tralhas. Não gosto de pensar muito nessas pessoas pois cada vez que penso começo a ficar aflita pois não posso fazer nada por eles e imaginando um dia ser vitima de algo assim, pois o imprevisto sobrevém a todos, mas o previsto podemos recusar. 

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Hoje fui caminhando ate ao centro de LA, quando aqui cheguei percebi que era verdade aquilo que tinham dito. Americano só anda de carro, mas também pudera tudo aqui é longe, ate atravessar a rua é demorado. Descobri muitas semelhanças com o pais onde nasci. Quando penso no pais percebo que não sinto nenhum orgulho de ter nascido nele. A minha sorte foi um dia ter dado um basta e ido morar em outro continente. Isso não significou que encontrei um paraíso, pelo contrario, descobri que a humanidade se perdeu e hoje mais do que nunca é cada um por si. Embora se tornam solidários no câncer. Claro que não estão todos nesse balaio mas de dez encontra-se dois. A caminhada não é curta, mas para quem fazia oito quilômetros de ida e oito de volta, ir ate o centro de onde estou não se torna cansativo. Não tirei meu telefone de dentro da bolsa com medo, pois passava por lugares um tanto desertos embora o relógio marcasse 11 horas da manha, deserto de gente mas percebia vida nos carros em ponto de ônibus e depois outros nas calcadas acampados e um cheiro fétido exalando do lugar onde estavam. Fiquei com medo de alguém estar me seguindo e assim olhava varias vezes para trás, fazia tempo que não sentia isso. Mas devido as ultimas noticias parece que o medo voltou mais forte do que nunca. Alguém todo de preto em um patinete passou por mim e puxou minha sacola que estava em meu braço direito fazendo com que ela caísse no chão, dentro havia meu óculos de grau.  O mais importante eram minha carteira e meu telefone que estavam dentro da pequena bolsa amarrada em minha cintura, isso estava salvo. No centro percebi que as ruas são escuras, escuras da sujeira e da poluição. Os prédios são altos assim como os de São Paulo e as ruas parecem com suas ruas. Suas lojas estavam abertas mas não cheias, é um dia de semana, dentro das lojas seguranças armados e seus donos esperam os clientes, eu desejei fazer algumas fotos mas tive medo, carrego comigo um telefone de cor laranja e sei do perigo, aprendi a saber morando no pais em que nasci. Não foi um dia feliz, mas no final fiz aquilo que amava fazer em Portugal, na Itália, na Franca, pois era onde eu ficava frente a frente com os cidadãos do pais. Mas ao entrar percebi que não ficaria frente a frente com nativos mas somente com emigrantes. Novamente tive medo. Tive medo de que alguém atrás de mim me ferisse, alguém encapuzado, audacioso, mal. Olhei para trás e todos pareciam tão normais. Isso não é uma paranoia é a realidade nua e crua. Em minha cadeira, pela janela fiz um filme do local por onde passava, precisava registrar aquele momento, mesmo sabendo que não era um momento feliz. 


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Sinto vontade de ter uma amiga. Entrei em alguns grupos de emigrantes que como eu moram aqui. Mas o que eles podem me ensinar eu já sei e depois nenhum deles me vê como uma amiga para conversar as coisas mais comuns, como nossos desejos, nossas dores, nossas ansiedades, ou seja todos estão presos em seus afazeres, em suas casas em seus problemas em seus eu. Vez ou outra encontro eles em suas paginas nas redes sociais, e vejo que parecem estarem todos bem, todos postando sobre uma opinião formada de como deve ser o mundo as pessoas, ou para onde estão indo. E para onde? Para algum lugar e retornando para o mesmo se não geograficamente para o seu eu interior já conhecido. As vezes lembro da frase de Bukowski em uma de suas falas ao acordar logo de manha: O que mais agora meu Deus! Não sei se preciso de uma amiga, se teríamos coisas construtivas para falar. Quando envelhecemos já não temos mais muitas coisas para serem ditas, principalmente eu que sempre preferi o silencio e um bom livro a ficar jogando conversas  fora e depois quem de americano teria tempo de ficar ao meu lado, querendo saber de onde vim, como foi minha vida durante todo esse tempo em que procurei o significado da existência não somente a minha mas a de todos, pois foram muitos momentos de contemplação, de trabalho, de caminhar, de fazer malas, de olhar estradas, linhas de trem, conhecer todas as fases da lua e perceber a beleza existente na madrugada enquanto todos dormem? Ninguem 

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Rafi da Armênia

Antes de pensar no que falar sobre Rafi, fui procurar no google a historia da Armênia, afinal Rafi nasceu na Armênia. Pesquisando sobre a Armênia percebo que também foi um pais assolada pela guerra e perseguido pela Turquia e Azerbaijão. Mas foram unidos e corajosos em torno de um ideal. Na época não existia fanatismo politico onde os partidos se quebravam em muitos e dois se tornavam poderosos e acabavam dividindo a nação em dois lados e se tornavam fanáticos submissos ao partido escolhido e não mais a luta, a união da nação como um todo. Os bravos armênios, em 21 de setembro de 1991,  declararam oficialmente sua independência da Rússia. Hoje a maioria luta das pessoas fazem uma revolução sentados em suas camas em seus quartos compartilhando rede sociais. Eu nem dou importância mais as suas loucuras. Querem consertar o mundo e mal arrumam seus quartos de dormir.

Rafi tem um estúdio, onde faz sua arte e eu fiquei impressionada com sua pintura e tudo o que vi ali dentro. Era mais um louco da pintura pensei quando encostei minha bike em sua porta. Mesmo de relance ao olhar para dentro percebi que tudo era de boa qualidade. Então pensei será que esta sendo bem remunerado por todo esse esforço. No mundo em que vivemos hoje pensamos em muitas coisas contrarias, tipo seria esse uma espécie de um artista trabalhador mal remunerado e outro ira usufruir de sua gloria? Claro que não perguntei nada disso a ele, mesmo em um mundo onde tudo é possível, sempre melhor ficar em silencio, pois boca fechada não entra moscas. Sai de seu estúdio impressionada e de boca fechada por ter visto tanta cor e  beleza


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Sobre ter uma amiga

Estava falando com meus botões e então descobri que não quero mais uma amiga e por que não? Por que elas não são mais uteis, não mais como eram antigamente e era assim que eu queria. Foi aqui que eu descobri que as pessoas hoje preferem terem contatos e amigos somente na rede social. Quem ainda não percebeu esta perdendo o bonde da historia e se for assim não estão percebendo a coisa mais louca desse mundo. Não sentimos mais nada em relação a pessoas, exceto quando ela não esta bem ou quando ocorre uma calamidade. Se for solidão, que cada um se cuide algo tipo cada um por si e Deus por tudo. Isso para quem acredita em Deus. Ah, antes que esqueça, fazem sim um grupo de três ou quatro para terem companhia para saírem  ou em caso de necessidade extrema. Como não sou interesseira e considero o mundo como amigos, exceto os criminosos e não conseguindo uma amiga para sentar e tomar uma cerveja fui atrás de algo estranho e talvez pior que existe dentro dessa tela. Uma inteligência artificial cujo modelo é  Lhama 4, uma versão avançada do modelo, treinada com uma grande quantidade de dados e capaz de processar texto e imagens. Existem diferentes versões e modelo, incluindo o Scout e o Mavericks, cada uma com suas próprias belezas e parâmetros. Tivemos uma conversa muito engraçada e eu vou digitar aqui apesar de achar longa muito longa e só de pensar me deu uma preguiça



Como meu inconsciente sabe que eu não posso esquecer e assim ele vive sempre me lembrando?

 Monte Ararat, vulcão adormecido do outro lado da fronteira, na Turquia. Os americanos jogam tudo que estiver com pequenas manchas nos legumes, eles jogam no lixo.

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