Houve uma vez um verão





Verão 16

Quando penso em 16, logo vem à mente algo do começo do século XX, e não algo acontecido em um século tão cruel e escuro quanto esse XXI.
Os fatos calam, aquecem o coração e o olhar se perde enquanto penso seu nome...
Quando o conheceu ele estava em um caso e ela entrou em seu privado e perguntou algo sobre sua cidade....
O tempo passou e então, foi ele quem lhe deu atenção sem ela perguntar nada e foi no privado que novamente perguntou algo que agora não lembra mais o quê pois foram tantas as conversas que se seguiram que ficaria bom tempo com o mouse a procura do que falta falar....
Gostava de ver ele encher sua página ou sua casa de fatos logo pela manhã ao acordar ou antes de dormir, falava sobre si, sobre ela sobre o mundo e sobre todos... e sobre nada
Depois com os dias começaram a falar via tele móvel, ouvia sua voz gostava de ouvir seu sorriso, coisa tão rara um sorriso hoje em dia. As vezes quando pensa no som questiona: é feliz?
E então passaram a dormir juntos, deixou que a tocasse, passasse as mãos pelos seus cabelos, pelo formato de sua boca e abriu sem resistência as portas trancadas ao amor deixando que a sua alma se encontrasse com a sua e ali permanecesse em um beijo longo e doce, suas mãos desceram e decifraram seu corpo ponto por ponto e foram aprendendo a ser um e a fazer amor com uma intensidade e um calor que a fazia virar do lado e com a ponta dos dedos tocar o céu as estrelas e a maravilhosa nebulosa de Órion tão dentro de si.... Fechava os olhos e sentia seu suspiro quente em seu seio enquanto dizia: meu homem!
Um dia,
Aconteceu um dia triste, não era como o de hoje nublado 15 graus, era um dia ensolarado, afinal as bruxas dançam também ao meio dia no calor de 30 graus...
Foi o dia em que recebeu a mensagem de que estava sendo usada. perguntou: Mas se usa o que não existe para ser usado? O que é ser usada? Como alguém pode usar o amor? Seria assim, como quando emprestamos um objeto?
Ou, destruindo com o rolo compressor?
Bastou uma foto e ela veio. Ficou exposta ali bom tempo para que a visse, por duas semanas inteiras. Para dar tempo. O tempo suficiente do contentamento.
Sentada em uma mesa de uma cozinha de um apartamento que foi apresentado para ser um ninho...
Na sua frente uma garrafa de vinho e atrás uns olhos estranhos de satisfação, meio torpe, um tanto vil um tanto desprezível.
Não sabe como viveu ou o que fez naquele dia ao andar pela avenida com passos meio torto, ora cambaleante, ora mais rápido, ora em câmara lenta e depois no metrô a massa ficou toda cinza e esquecia de pedir licença ou de entrar calmamente como sempre fazia... foi empurrada com os demais
sabe que olhou para o rosto de cada um em ponto de náusea e perguntou bem baixinho para o homem em pé do seu lado: Ainda é tarde? Para onde vão? Por que vão?
Ainda teve tempo e jogou a quarta pergunta: Vai anoitecer ou já anoiteceu neste dia? Não sabe se ele ouviu lembra que a olhou com olhos que pareciam não ver e ouvidos que se encheram do barulho das rodas do trem. Ela olhando nos seus olhos porque não existia outro lugar em que olhar já que estavam comprimidos um ao outro pela lata de sardinha. Murmurou: Não existe lugar para ir.
Não existe mais sol, não existe mais mar, dia e noite.... E em voz baixa: somos pedras.


Não sabe como chegou em casa,
se demorou dias, anos,
se anoiteceu, ou amanheceu no outro dia ou algum dia depois,
Lembra que seu corpo rodou em mil pedaços
Enquanto apertou um botão de bloqueio e depois lentamente os dias agonizaram...

Crônicas de Márcia Mesquita - 23.06.2016



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