Ensaio sobre a cegueira


Emoticon heart
Foi semana passada que vi uma mulher cega na plataforma esperando o trem. Eu estava dentro do vagão e observava pela janela ela esperando em sentido contrário. Olhei seu rosto... Foi ai que percebi que todos os cegos tem uma expressão apática registrada em seu rosto. Eles não tem o mesmo brilho, ora bonito, ora safado, ora tristonho, ora triste... Olhos de quem sabe que existe vida pulsante aqui fora. Fiquei pensando nisso enquanto o trem partia o quanto é ruim acordar todo dia no escuro e não enxergar a paisagem que agora corre pela janela em cores brilhantes e o sol parecendo que canta: pode vir quente que eu estou fervendo. Lembrei da cega porque agora duas cegas sentaram no banco do metro próximo a onde estou. E a cega mais magra com cabelos lisos sem franja ate os ombros carrega em seus braços um garoto. Não deu nem tempo para ela se arrumar e guardar o seu bastão quando o garoto se solta dos seus braços e tenta correr. Não fosse a mulher sentada do meu lado segurar a criança pelo braço ele teria fugido em desabalada carreira. A criança não tem nem dois anos. Se ser criado por olhos que veem já é um Deus nos acuda, imaginem por olhos que não veem? A mãe tem olhos que se mexem de um lado para outro, não fossem negros e sem brilhos diria que enxergam. O menino agora devora uma barra de chocolate comprada dos camelos que ilicitamente fazem o que todo mundo sabe que fazem dentro dos vagões do metro e do trem. Chamam de shop trem. Sinto falta da minha máquina fotográfica. Meu celular ficou em casa sem bateria e agora estou eu aqui a pensar como enviar essa mensagem para outros olhos. O trem para em Osasco e as duas descem. O metro e o trem tem funcionários preparados para caminhar com os cegos e assim elas irão encontrar um. E depois quando saírem da linha de demarcação? Deve ser duro criar um filho com olhos que não veem

Márcia Mesquita em 16.04.2016


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