Crônicas de Márcia Mesquita






Seja trouxa
Significado de trouxa na minha língua – É o antônimo da palavra trouxa, gíria que rola por aí no dia a dia brasileiro. Trouxa no dicionário meu é uma pessoa que aprecia o teatro encabeçado pela sociedade humana. São pessoas criativas, que gostam de viver intensamente de forma honesta, ou seja trouxa, pois só assim conseguem aprender todas as facetas da vida humana sem encargos e aborrecimentos, mas sim com muito prazer e divertimento.
Algumas dicas : Faça todas as manhãs um roteiro de como será o seu dia. Leve agenda, canetas, máquina fotográfica, gravador, celular, tablet, livro para ler em caso de tédio. Programe com antecedência, de preferência a noite antes de dormir, o que vai vestir, e onde irá, mesmo que seja o lugar que passe todos os dias já por 20 anos. Aprenda a mudar a imagem do quadro. E diga: Hoje será diferente
Quando vejo postagens aqui dizendo: Deixei de ser trouxa. É como ver essa pessoa entrar em óbito e minha vontade é comentar: meus pêsames. Somente os trouxas conseguem tirar o supra sumo da vida. E não se preocupem com os espertalhões, mentirosos, maquiavélicos, os que arrotam santidade, os que querem salvar a humanidade juntamente com sua caixa registradora.
Exemplos de trouxas: Marie Curie, Fleming, Gaughin, Dostoievski, Kafka, Pessoa, Virgínia, Michelangelo,  Clarice, Rachel Carson e outros. Embora alguns deles tenham cometidos patifarias como Virgínia que acabou sucumbindo aos espertalhões e entrou naquele escuro e frio lago e com uma grande pedra no bolso do casaco foi dessa para uma outra pior. Ou, Hemingway com um fuzil de caça disparou contra si mesmo. Van Gogh começou e felizmente parou na orelha. Amados, não deixem de ser trouxas. Somente os trouxas conseguem aproveitar as boas coisas da vida. Eu disse BOAS coisas. Somente os trouxas conseguem fazer o papel de trouxas com maestria e viver uma vida saciado de dias com otimismo e alegria. Aprendam a ser trouxas, e se tornará esperto ao menos consigo próprio. Tipo metamorfose


Todas as manhãs quando levanto dou a mim mesma uma injeção de otimismo, digo: Vai , vai ser trouxa na vida
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Vale a pena ser honesto?
Foi esse o título que vi publicado em uma revista colocada em um desses carrinhos espalhados em pontos estratégicos das avenidas. Disse eu a jovem:
- Eu quero! Tem em português?
- Não, só em espanhol.
Não estava a fim de ler nada que não fosse em minha sofrível língua nativa: 
Tupy or not tupy, that is the question.


Novamente seguia eu em direção à rua onde muitos de vários lugares espalhados pelo Estado de São Paulo e outros estados costumam chegar em busca de roupas para uso próprio ou vendas no atacado. Ia em direção a famigerada loja onde por tantas vezes tinha dito a mim mesma: Hoje será a última vez que aqui colocarei meus pés. Mas, como a personagem de tomates verdes fritos tinha dito: nunca diga nunca. E o povo gostou disso e agora acha que não existe mais o nunca. Eu caminhei para a linha que me separava do nunca. Tinha prometido a Ana,  uma amiga virtual que tinha acabado de conhecer, daria a ela um presente e além de ter dito isso tinha escrito: Eu não preciso de um terremoto ou uma guerra para descobrir o significado da palavra bondade, solidariedade, amizade e etc e tal.
Preciso desabafar sobre a loja e seus componentes. É uma loja que tem umas roupas legalzinhas e onde tenho comprado algumas coisas que alguns perguntam: Onde você comprou? Para alguns digo: Minha avó quem fez. Outros: nem queira saber. É claro que por trás tem: não quero ser um par de vasos. A loja pertence a uma coreana odiosamente antipática. Tem duas funcionárias que receberam o mesmo treinamento mal-educado. No último dia em que lá estive, entrei e fui direto a arara, e ao passar por elas disse bom dia. Elas me olharam assim com os olhos de peixe morto, como sempre fazem, levaram alguns segundos, que pareceram séculos e então lentamente, em câmara lenta, como se tivessem uma espinha engasgada na garganta ouvi um sussurro: Bom dia! Foi dito por uma delas, não sei qual, pois não esperei muito e naquela manhã tinha os ouvidos preparados, ouvia o maravilhoso compositor Wolf e sua réquiem in d menor k 626 III sequencia rex tremendae maiestatis, estava na Austria com o maestro Von Karajan, junto comigo o coral e cantávamos Rex, rex, rex... Rex,  Não entendo o que falam na música, mas com certeza tem uma parte que diz: Passa Rex, passa Rex... (Rex é o nome de todo cão brasileiro)
Há quase uma semana que fico parada em frente a porta esperando como tonta que ela se abra. (Foto 1). Penso: será que resolveram sair de férias? Todos? Ou será que faliram? Está certo que na última vez eu tinha desejado que isso acontecesse. Claro que ao pensar nessa possibilidade tinha dito a mim mesma: Para de ser presunçosa. Quem você pensa que é para abençoar ou amaldiçoar? E agora? E minha palavra onde fica? Sou brasileira com descendência portuguesa, uma mulher de palavra. Embora tenha vontade de gargalhar quando penso nessa palavra: caráter. E de lá segui em direção a 25 de março. Ia comprar alguns cacarecos que me faltavam.
No metro os ambulantes, entopem as portas vendendo suas porcarias. E agora com o calor que faz só faltam jogar em nossas mãos suas garrafas de água podre. Longe de mim comprar uma, carrego a minha comigo, trago de casa, do meu filtro de barro. Filtro São João. Pode acabar no meio do calor de 40 graus, só voltarei a beber água quando chegar em casa. E quando a minha garrafa fica quente, penso: E se estivesse no deserto do Saara com somente essa água o que faria? Beberia satisfeita por tê-la comigo. Penso também no dia em que saia da Pinacoteca e uma amiga que estava comigo foi comprar água e quando abriu sentiu o cheiro forte de urina na tampa o que a fez jogar no lixo. Reclamar? Com aquele pessoal? Só se for para morrer assassinada! Não contente em serem vendedores ilegais, quando não tem segurança no metro ali impedindo a entrada dos famigerados, eles entram e dominam o local. Pobre povo, pobre eu, pobre você. Tanto conhecimento, tanto isso, tanto aquilo, para chegar em nada. Passei a catraca do metro desejando ler a revista em português: Vale a pena ser honesto?
Márcia Mesquita - 20.02.2016




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