EBOLA - Em busca da origem - Parte I



Estava no aeroporto de Guarulhos quando comecei a ouvir uma gravação do aeroporto dizendo sobre os cuidados que deveria ter a pessoa que estivesse entrando no Brasil, vinda do Zaire, Congo, Nigéria e região. Logo mais depois de ter dado voltas e voltas pelo aeroporto à procura de uma lan house, vi o motivo da parafernália, uma jornalista da rede globo estava ali. Assim, era preciso armar o teatro em toda a sua magnitude. A jornalista estava no último piso, longe dos passageiros e suas malas, e cuja visão iria registrar com perfeição os passageiros e suas malas. Eu estava naquele piso solitário porque buscava a sala da ANAC para fazer minha reclamação. Antes, fiquei ali na frente da jornalista, esperando que ela chegasse e perguntasse com um pouco de educação, de preferência a francesa, de acordo com o livro que eu tinha em mãos: Bonjour Madame! Quel est le motif de votre Voyage? É claro que ela não poderia deixar de ao término dizer: S’il vous plaît! E por fim: Merci  beaucoup!

Ainda dei umas paradas e outras voltas em torno dela  na esperança de ser vista e interrogada acabei por deixa-la falando “sozinha” para o câmara como se fosse algo de grande importância.

Por fim segui a seta que me levou até a sala da ANAC, encontrei duas jovens, não sabia para a qual me dirigir, se a do lado direito ou a do lado esquerdo, pois a impressão que tive era de tanto faz elas estavam ali para isso. Apresentei-me a moda francesa. Bonjour Mademoiselle! Pardon... E assim comecei a contar meu problema e minha tentativa para embarcar no voo 58. Elas ouviram como uma história conhecida de longos anos e pelas orientações ou conselhos finais senti que era algo mentiroso e decorado. Tão decorado que para ser mais real só faltaram olhar para o alto enquanto falavam e pelas mãos senti que estavam lixando as unhas, ou estavam pouco se lixando? E eu olhando para uma, olhando para a outra, ouvindo a conversa pra boi dormir... Dizendo para uma, dizendo para outra: Escusez-moi, je n’ai pas compris... Comment? Não tive dúvidas. Terminei com um gentil: Merci beaucoup que traduzido para o português do Brasil era um sonoro beaucoup no seu c.!



Estava Infeliz? Não! Estava satisfeita? Não! Estava frustrada? Não! Mas afinal como estava? Ah, sei lá! Estava como todo mundo está: Anestesiada! E depois quando continuei dando voltas e mais voltas comecei a pensar: Voo 58, 5 mais 8 = 13, hoje dia 12, amanhã, chegada dia 13. E assim, ouvi uma voz interior que dizia: Fica na sua. Não se mete a besta em jogos de azar.



Tudo bem que me tirem as asas, mas uma coisa ainda não tinham me tirado, o direito de pensar. E assim para desviar meu coração e mente da torre, dos jardins, do rio, dos museus e das bibliotecas (Nas horas vagas, depois de trabalhar pelo pão que o Diabo amassou. Ouviram turma do deixa disso? Brasileiros em Paris!) minha mente voltou para aquela mulher de blusa azul Royal, da mesma cor da minha que continuava falando no seu microfone, e depois, mais tarde pela tela da TV,  em repetição o mesmo assunto e agora ela direcionava minha visão para os países africanos em vermelhos todos contaminados.

O assunto refletia uma crescente preocupação internacional com a disseminação de micróbios letais — parasitos, bactérias e vírus — que, depois de detonar uma epidemia num ponto na Terra, podem espalhar-se rapidamente para outros pontos como fogo no matagal. Diferente de mim e os companheiros de viagem, os micróbios não carregam passaportes nem respeitam fronteiras nacionais. Com incrível facilidade, eles viajam despercebidos dentro da pessoa infectada.

Estava pensando nisso, quando descobri (Descobri? Não! Ele já vive ali há um bom tempo) aquele homem sentado no sofá ao lado do seu computador de nome Claude: Pardon, monsieur, pourriez vous expliquer encore une fois? Pedia que me explicasse toda a história e qual era a posição do povo francês. A história eu já sabia desde o inicio. Mas precisava ouvir na sua língua original, na língua dos mercis beaucoup.

Virus assassino:

Kikiwit, no Zaire, é uma cidade em crescimento às margens de uma floresta tropical. Gaspard Menga Kitambala, carvoeiro de 42 anos, que morava fora da cidade. Menga preparava o carvão nas profundezas da floresta, punha-o num saco e o carregava na cabeça até Kikwit.
Em 6 de janeiro de 1995, ele ficou doente. Caiu duas vezes a caminho de casa enquanto voltava da floresta. Quando chegou em casa, disse que estava com dor de cabeça e febre.
Em poucos dias, sua saúde piorou. Em 12 de janeiro, a família o levou para o Hospital Geral de Kikwit.  Infelizmente, seu quadro clínico foi piorando. Ele começou a vomitar sangue. O sangue escorria de seu nariz e dos ouvidos e não havia o que o estancasse. Em 15 de janeiro, ele morreu.
Logo outros da família de Menga que haviam tocado no corpo dele ficaram doentes. Até o início de março, 12 pessoas do círculo de entes queridos de Menga já haviam morrido, inclusive sua esposa e dois de seus seis filhos.
Em meados de abril, membros da equipe do hospital e outros começaram a ficar doentes e morreram de modo parecido a Menga e sua família. A doença se alastrou rápido para duas outras cidades da região. Era clara a necessidade de ajuda de fora.
O professor Muyembe, o mais conceituado virologista do Zaire, foi a Kikwit em 1.° de maio. Mais tarde ele disse: “Chegamos à conclusão de que Kikwit sofria de duas epidemias: uma era diarréia de origem bacteriana, e a outra era uma grave febre hemorrágica provocada por um vírus. Naturalmente, precisávamos confirmar esse diagnóstico. Por isso, colhemos sangue dos pacientes e mandamos para ser testado no Centro de Controle de Doenças (CDC), em Atlanta, EUA.”
O CDC confirmou o que Muyembe e outros médicos do Zaire já suspeitavam: a doença era causada pelo Ebola.



O Ebola é um vírus cruel. Mata em pouquíssimo tempo. Não existe vacina contra ele e não há tratamento conhecido para as vítimas.
O Ebola foi identificado pela primeira vez em 1976 e recebeu o nome de um rio do Zaire. A doença assolou o sul do Sudão e, pouco tempo depois, o norte do Zaire. Um surto de menores proporções ocorreu de novo em 1979 no Sudão. Depois, com exceção de alguns casos isolados de pessoas que morreram com sintomas parecidos aos causados pelo vírus Ebola, a doença andou sumida por anos.
O vírus Ebola é tão letal que os cientistas que o estudam em Atlanta usam um laboratório de segurança máxima, construído com um sistema de ventilação que impede qualquer micróbio de escapar, levado pelo ar. Antes de entrar no laboratório, os cientistas vestem “trajes espaciais” de proteção. Ao saírem, passam por um chuveiro químico com produtos esterilizadores. As equipes médicas que foram a Kikwit levaram junto roupa protetora — luvas e gorros, óculos de proteção e macacões especiais que impedem a penetração do vírus.
A maioria dos moradores de Kikwit não possuía nem o conhecimento nem o equipamento necessários para se proteger. Outros, mesmo cientes do perigo, arriscaram ou mesmo perderam a vida ao cuidar de entes queridos doentes. Amigos e parentes carregaram os doentes e os mortos nas costas ou nos ombros, sem nenhuma proteção. A conseqüência foi muitas vidas perdidas; o vírus devastou famílias inteiras.


Luta Para conter o surto

A comunidade internacional respondeu ao grito de socorro de Kikwit com doações em dinheiro e equipamento médico. Equipes de pesquisadores voaram da África do Sul, dos Estados Unidos e da Europa, com objetivo duplo: primeiro, ajudar a conter o surto; e, segundo, descobrir onde o vírus vivia entre uma epidemia e outra.
Para ajudar a parar a epidemia, profissionais da área de saúde vasculharam cada rua para encontrar pessoas que manifestavam os sintomas da doença. Os doentes eram levados para o hospital, onde ficavam de quarentena e recebiam tratamento num ambiente mais seguro. Os que morriam eram embrulhados em lençóis de plástico e enterrados imediatamente.
Uma campanha maciça foi lançada para dar informações exatas aos profissionais da área de saúde e ao público em geral. Parte da mensagem consistia num forte alerta contra as práticas fúnebres tradicionais, em que a família manuseia e lava cerimonialmente o morto.


Em busca da origem
 Os cientistas queriam descobrir a origem do vírus. Sabe-se o seguinte: os vírus não são organismos com vida própria, à parte de outros seres; não são capazes de comer, beber e se reproduzir sozinhos. Para sobreviver e se reproduzir, precisam invadir e explorar a complexa estrutura das células.
Quando um vírus infecta um animal, em geral o relacionamento é de coexistência: nem o animal mata o vírus nem o vírus mata o animal. Mas quando o homem entra em contato com o animal infectado e o vírus de algum modo consegue entrar no homem, o vírus pode se tornar letal.
Como o Ebola mata pessoas e macacos muito depressa, os cientistas presumem que o vírus deve se hospedar em outro organismo. Se as autoridades sanitárias descobrirem qual é o tipo de organismo portador do vírus, podem encontrar um meio eficaz de controlar e prevenir surtos futuros. No caso do Ebola, a pergunta que continua sem resposta é: onde o vírus reside quando não está provocando epidemias nos seres humanos?
Para responder a essa pergunta, os pesquisadores precisam achar a origem do vírus. Os esforços de localizar o animal que hospeda o vírus, após os surtos anteriores, não lograram êxito. Mas, com a epidemia de Kikwit, surgiu uma nova oportunidade.
Os cientistas presumiram que a primeira vítima da epidemia de Kikwit foi Gaspard Menga. Mas como ele foi infectado? Se foi através de algum animal, que espécie de animal? Logicamente, a resposta pode estar na floresta em que Menga trabalhava. Equipes de coleta armaram 350 armadilhas em locais onde Menga preparava o carvão e capturaram roedores, musaranhos, sapos, lagartos, cobras, mosquitos, mosquitos-pólvora, carrapatos, percevejos, piolhos, ácaros-terrestres e pulgas — um total de 2.200 animais pequenos e 15.000 insetos. Usando vestes protetoras, os cientistas mataram os animais com um gás anestésico e mandaram as amostras de tecido para os Estados Unidos, onde seriam examinadas para ver se tinham o vírus.



 Por que?

Com todo conhecimento e aparato da medicina moderna, por que é tão difícil derrotar os micróbios assassinos? Uma razão é a maior mobilidade da sociedade de hoje. Meios de transporte modernos podem rapidamente tornar global uma epidemia local. Aviões a jato facilitam a locomoção de uma doença letal, abrigada dentro de uma pessoa infectada, de uma parte do mundo para qualquer outra parte, em questão de horas.
Um segundo fator favorável aos micróbios é o crescimento explosivo da população mundial — especialmente nas cidades. As cidades, obviamente, produzem lixo. Neste há recipientes de plástico e pneus velhos cheios de água de chuva. Nos trópicos isso resulta na proliferação de mosquitos vetores de doenças assassinas como a malária, a febre amarela e a dengue. Além disso, assim como um matagal fechado pode alastrar um incêndio, a alta densidade populacional facilita bastante a disseminação rápida da tuberculose, da gripe e de outras doenças transmitidas pelo ar.
Uma terceira razão da volta dos micróbios diz respeito a mudanças no comportamento humano. Os micróbios sexualmente transmissíveis vicejaram e se espalharam em resultado da escala sem precedentes de relações sexuais com múltiplos parceiros, que têm caracterizado essa última parte do século 20. A disseminação da Aids é apenas um exemplo.
Uma quarta razão da dificuldade de derrotar os micróbios assassinos é que o homem tem invadido as florestas tropicais. O autor Richard Preston diz em seu livro The Hot Zone (A Zona Quente): “A emergência do vírus da Aids, do Ebola e de muitos outros agentes infecciosos da floresta tropical parece ser conseqüência natural da degradação da biosfera tropical. Os vírus emergentes surgem de regiões da Terra ecologicamente prejudicadas. Muitos vêm de pontos periféricos de florestas tropicais devastadas . . . As florestas tropicais constituem os mais abundantes reservatórios de vida no planeta, contendo a maior parte das espécies vegetais e animais do mundo. As florestas tropicais são também seu maior reservatório de vírus, visto que todas as coisas vivas hospedam vírus.”
Assim, os humanos entraram em contato mais direto com insetos e animais de sangue quente, nos quais os vírus se hospedam, se reproduzem e morrem sem causar dano. Mas, quando um vírus “pula” do animal para o homem, pode tornar-se letal.




Outra razão do retorno das doenças infecciosas diz respeito à própria medicina. Muitas bactérias agora desafiam os antibióticos que antes as matavam. Ironicamente, os próprios antibióticos ajudam a criar essa situação. Por exemplo, se um antibiótico mata apenas 99% das bactérias prejudiciais numa pessoa infectada, o restante 1% que resistiu ao antibiótico pode agora crescer e se multiplicar, como uma resistente erva daninha numa terra recém-arada.
Os pacientes agravam o problema quando não terminam o tratamento com antibióticos prescrito pelo médico. Talvez parem de tomar os comprimidos assim que se sentem melhor. Embora os micróbios mais fracos possam ter sido eliminados, os mais fortes sobrevivem e se multiplicam sorrateiramente. Em algumas semanas a doença volta, sendo dessa vez mais difícil, ou impossível, curá-la com drogas. Quando essas cepas de micróbios resistentes a drogas invadem outras pessoas, o resultado é um grave problema de saúde pública.
Especialistas da OMS disseram: “A resistência [a antibióticos e outros agentes antimicrobianos] é epidêmica em muitos países e a resistência a multimedicamentos deixa os médicos virtualmente sem campo de manobra no tratamento de um crescente número de doenças. Só nos hospitais, calculadamente um milhão de infecções bacterianas ocorrem diariamente no mundo, e a maioria destas resiste a drogas.”



A situação hoje

Embora houvesse uma explosão de conhecimento médico neste século, muitos mistérios persistem. C. J. Peters estuda micróbios perigosos no Centro de Controle de Doenças, o principal laboratório de saúde pública dos Estados Unidos. Numa entrevista em maio de 1995 ele disse a respeito do Ebola: “Não sabemos por que ele é tão virulento com o homem, e não sabemos o que esse vírus faz, [nem] onde se encontra, quando não está causando essas epidemias. Não conseguimos encontrá-lo. Não existe outra família de vírus . . . sobre a qual tenhamos tamanha ignorância.”
Mesmo havendo conhecimento médico, drogas e vacinas eficazes para combater uma doença, seu uso em favor dos necessitados exige dinheiro. Milhões vivem em pobreza. No seu relatório anual de saúde, para 1995, a OMS diz: “A pobreza é a maior razão de os bebês não serem vacinados, da falta de água limpa e saneamento básico, da não disponibilidade de drogas curativas e de outros tratamentos . . . Todos os anos no mundo em desenvolvimento 12,2 milhões de crianças com menos de 5 anos morrem, a maioria de causas que seriam evitáveis por apenas alguns centavos de dólar por criança. Elas morrem em grande parte devido à indiferença do mundo, mas, acima de tudo, morrem porque são pobres.”






 Foi ai que parei com toda a informação obtida além dos anos, me virei para aquele francês sentado no sofá com seu computador e perguntei: Pardon monsieur, qu'est-ce que ça veut dire?

Continua....


P/Mlailin




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