Camões inspirando - Fragmentos de Ode





                              Odes - canto na Grécia antiga






Ode para uma irmã

E então
você viu sua irmã passando na rua
dentro do carro em que o motorista
o marido um italiano narigudo dirigia
indo para a casa da Celi
e quando te viu,
sentada no banco de passageiro, fingiu que dormia
Tão normal
a mesma ação que fez dentro de um avião
quando viajava com seu pai
em uma época que era tão difícil alguém viajar de avião
e isso era na época o ó do borogodó
tão importante quanto uma bolsa Louis Vitton (credo!)
e sendo assim sentou longe dele (o cafona) desprezando-o
o pobre com seu boné vermelho

E então
um dia sua irmã quis fazer de ti uma pessoa menor,
porque não tinha assim como o exemplo irmanal
tomado o famoso banho de abo e feito o pacto com o demo

 e dado tão certo na vida e logo mais ser aplaudida de pé 
pela honorável família Ramos e Mesquita de interesseiros (xô urubus)
E então
um dia tão perto... tão... ontem
recentemente

E então
sua irmã em seu carro último tipo,
cheio de baus da Lola jacuzis, subiu a rua em direção
a casa de sua tia Tutomé
honorável tia Tutomé
antes parou o carro em frente a casa 178
porque viu "sua" sobrinha, a mesma
que um dia negou para a pequena que ela
se banhasse em sua piscina
Piscina olímpica como gostas de dizer de boca cheia e de muito orgulho terreno e animalesco

E então
perguntou a pequena
se ela se lembrava de ti
e a pequena disse: NÃO, um sonoro e categórico NÃO!!! 

Uma pena não ter sido treinada ao vômito

E então
a pequena perguntou
para a mãe quem era aquela mulher cheia de pose
de quem ela se lembrava vagamente

E então
foi lhe dito
o que é visto a olho nú
uma mulher com uma cruz no pescoço andando na escuridão
e que em suas noites caminha em direção ao corredor da morte

e então
a pequena recebeu um abraço bem apertado
e foi lhe tirado todo o calafrio da maldição recebida
e foi lhe dito que a sua família eram seus avós maternos e paternos
e que não tinha tia e nem primos e primas
e que não era ninguém
era apenas um espectro de gente
uma imagem que felizmente
se decompõe e se decompôs
com sua cruz
na subida da Avenida Acrísio Cruz

Lailin




O tempo acaba o ano, o mês e a hora,
A força, a arte, a manha, a fortaleza;
O tempo acaba a fama e a riqueza,
O tempo o mesmo tempo de si chora;

O tempo busca e acaba o onde mora
Qualquer ingratidão, qualquer dureza;
Mas não pode acabar minha tristeza,
Enquanto não quiserdes vós, Senhora.

O tempo o claro dia torna escuro
E o mais ledo prazer em choro triste;
O tempo, a tempestade em grão bonança.

Mas de abrandar o tempo estou seguro
O peito de diamante, onde consiste
A pena e o prazer desta esperança.

Luís de Camões





Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Palhaço vassourinha, Damião, Blá blá blá

Resumo do filme - "Bicho de sete cabeças"

Vera Loyola - e o insustentável peso da futilidade