JUQUERI

Juqueri

(Situava-se em Juqueri um dos mais célebres hospitais psiquiátricos do Brasil, o Hospital Psiquiátrico do Juqueri. Esta "fama" fez com que a palavra "juqueri", que em tupi-guarani refere-se a uma planta leguminosa, se tornasse sinônimo de "loucura" ou de doença mental de forma geral)




O Juqueri era o lugar onde as pessoas entravam para tomar jeito
Tomavam choques e saiam babando. Os médicos, se referem a ele pelo nome que soa mais brando: Eletroconvulsoterapia, ou ECT. A ECT era “um dos modos mais eficazes de tratar a depressão”.




 Eu tive uma vizinha assim. Uma loira linda. Que do nada, começou a ficar longo tempo sem fazer nada. Tipo aquele ditado: oficina vazia oficina do diabo. Longamente olhando para o nada
Acabaram levando ela pra esse lugar. Ela foi ficando cinza descabelada
Perdendo os dentes, perdendo o viço, andando a esmo pela rua, falando com ninguém, magra... barriguda...
Estranha...



Eu ficava longo tempo olhando
Não levava nenhum chacoalhão por isso e o grito: “Quer ir pro Juqueri?! Acorda!”
Eu sempre fiquei olhando os pairos das nuvens acompanhando o andar das formiguinhas na parede, fascinada ao ver elas pararem e se beijarem
depois continuavam sua caminhada. Minha mae me acordava com um cocorote na cabeça
e o grito:
"Quer ir pro Juqueri?!"


Ficar sonhando por muito tempo, pode ser perigoso



Nunca levei uma advertência por ficar
 longas horas observando o terror, isso não 
é motivo para loucura, segundo constam nas diretrizes  
Horas e horas terrorismos de todos os lados do mundo 


Muda-se somente os nomes e as origens



De onde menos se espera vem...


De pessoas que deveriam estar do lado da lei e da ordem
Tanto horror perante os céus! Como disse Olavo Bilac
Não, ninguém em sã consciência quer  ir pro Juqueri. Queremos somente entender. Quem somos? De onde viemos? Para onde vamos?



Aquela minha vizinha, uns dez anos depois morreu não em virtude da “loucura”. Foi o coração. Ele não aguentou tanta descarga elétrica
Ainda bem que eu era criança, criança só observa sem saber o que de fato ocorre 



Conheci outra geração. Essa de hoje. Tomamos choques todos os dias
Sentados na cadeira. Em frente de uma tela de computador doses excessivas de ECT, ligados em uma tomada
Como minha vizinha as vezes choramos em outros momentos damos sonoras gargalhadas assim, do nada, embora nada acontece do nada parecendo algo 
À toa
Sem importância 




(Por motivo de começar a existir muitas denuncias de maus tratos
o nome do município
foi modificado por lei estadual.
Entre os novos nomes sugeridos foi adotado "Mairiporã",
que na mesma língua tupi-guarani significa "localidade bonita",
"mairi" (localidade) e "porã" (bonita). Mas eu não sei mais se estou correta ou estou misturando as bolas

Marcia Mesquita em 2012

Comentários

Luciano Zorzi disse…
Fiquei a olhar este quadro, quadrado e vazio e talvez deixá-lo vazio fossem a melhor opção. Quantas Juqueri, Barbacena-MG, existiram ou ainda existem nestes Brasis afora. Mas por outro lado, analisando a mensagem completa, percebo que estamos é num Brasil Juqueri/Barbacena. E estamos a precisar de choques, choques de mais alta voltagem, para ver se acordamos.Mas voltando a Juqueri/Barbacena, vimos que sua vizinha morreu. Será que podemos ainda ter esperança?
Unknown disse…
Comovente texto, linda música final. Parabéns
conceição cavalinhos disse…
Adorei a sua coragem e o seu bom gosto nas postagens,tudo em sintonia...maravilha...
marcia mesquita disse…
obrigada Conceição, Sophia e vc ai em Barbacena/MG e todos os outros que leram
é triste, mas é isso
é tudo muito triste

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