Brilho eterno de uma mente COM lembranças/Eternal Sunshine
"O cinema é um modo divino de contar a vida"
Federico Fellini
"Cinema is a divine way of telling life"
Federico Fellini
Foi a sua pergunta que me fez voltar ao passado. Foi ouvir o nome de Jim Carrey. Embora esse nome em si não me faria voltar ao passado, foi depois que vi o filme: “Eternal Sunshine of the Spotless Mind”, 2004, filme em que ele foi o personagem principal, então sim, eu volto sempre ao passado com carinho, e hoje acompanho as noticias de sua existência, mas não sou plateia para seus filmes, exceto um outro que gostei muito, principalmente por ter a trilha sonora de Phillip Glass: "O show de Truman". Eu também não tinha visto o filme Titanic, nunca gostei de acompanhar a multidão, e tinha ouvido falar de Kate Winslet, somente ouvido falar. Havia abandonado, os cineclubes, as sessões da madrugada, os lançamentos, os clássicos, os cults, as estrelas de Hollwood e tudo o mais. Vivia uma diáspora cinematográfica silenciosa desde 1993, com meu ultimo filme marcante que foi: "O Piano" deixei de ser cinéfila, rata de cinema. Sim, comecei cedo a viver dentro de livros e filmes assim que aprendi a ler. Culpa da minha mãe, que nas horas vagas sentava em frente a televisão em preto e branco e assistia uma série de nome "Father Knows Best", depois vieram todos os filmes de bangue bangue e quando eu cresci comecei a escolher minhas series como os Waltons e outros. Mergulhei nos filmes mudos como Sunrise de de F.W. Murnau, Metropolis de Fritz Lang e tantos outros que encherão essa pagina. Quantos sabem quem são os inventores da sétima arte? Hoje não suporto séries, porque elas te prendem de maneira inútil dias e noites seguidas. Recentemente resolvi ver e vi duas séries, somente para me arrepender e tentar tirar elas da minha mente como se fossem pragas. São elas Cassandra e Adolescence. Cassandra nem preciso comentar, e adolescence mais uma ficção que dizem ser baseado em fatos reais, tão real que a historia verdadeira foi virada de ponta cabeça, visando sempre polemicas e dinheiros para produtores multi milionarios como Brad Pitt. Sinto ranço. Eu poderia ser breve em meus finalmentes sobre os fatos, mas eu não quero, minha mente esta povoada de vidas e palavras e não desejo ir até elas em vagos segundos. Como se fossem nadas. O filme foi lançado em 2004, e eu não imagino o que fazia em 2004, talvez tenha escrito em minhas inúmeras agendas, que hoje estão guardadas na minha antiga casa em São Paulo. Talvez. Sei que na época eu pouco sabia o que acontecia na sétima arte, pois havia abandonado esse meu amor de infância e adolescência. Embora ainda vasculhava os filmes de Ingmar Bergman, o único que carregava comigo, pois vivia no processo de conhecer a minha alma. Foi por volta do inicio do século XXI que fui chamada para cuidar de uma senhora de 80 anos que estava em fase terminal vitima de um insidioso e mortal câncer vaginal. Na casa vivia um senhor, um italiano de quase 90 anos de nome Giuseppe. Depois da morte da senhora eu fiquei a cuidar do senhor Giuseppe. Em finais de semana ele recebia visitas. E nessas visitas apareciam suas duas netas. Lara e Patricia. Elas depois de conversaram com seu avó, sentavam no sofá da enorme sala e ficavam a conversar por horas seguidas, muito animadas e sorridentes. Quando passava por elas conseguia ouvir alguma coisa e me surpreendia com o que ouvia, pois eram muito cultas, não usavam gírias em suas palavras e nem tampouco palavras de baixo calão, falavam como se fossem senhoras a contar fatos muito interessantes, e em minha mente soavam como as historias de Camus, Hemingway, Proust ou algo assim, me deixando surpresa e ao mesmo tempo intrigada, pois precisava perguntar algo a elas que me fizesse ter certeza daquela primeira impressão. Não poderia perder a oportunidade de saber quem eram elas. Só precisava saber o que perguntar a elas. E então surgiu a pergunta em minha mente. Quando me vi frente a frente a uma delas perguntei: Lara, qual foi o filme de sua vida? Ela não pensou duas vezes e respondeu: Eternal Sunshine of the Spotless Mind. E falou mais alguma coisa sobre o filme que eu não recordo mais, pois não precisaria, bastaria ver o filme. Coisa que não fiz, não naquela década. Eu nunca esqueci da casa e de seus habitantes. E espero que isso não aconteça. Fui obrigada agora a ir no facebook e procurar em nomes e fotos as pessoas que agora bate uma saudade intensa e ao mesmo tempo dolorosa pois existe uma nevoa de tempo, saudades e mortes. Eu sempre pensei que viemos a esse mundo para sentir saudades, até o ano de 2023 quando ouvi do personagem principal do filme Interestellar dizendo: Viemos a esse mundo para sermos fantasmas de nossos filhos, palavras que concordei plenamente com ele. Interestellar foi o segundo filme que me fez a voltar a vasculhar, como a procurar uma agulha em um palheiro, bons filmes atuais, embora não mais com a mesma intensidade e paixão alucinante de anos atrás.
It was your question that made me go back in time. It was hearing the name Jim Carrey. Although that name in itself wouldn't make me go back in time, after I saw the movie: “Eternal Sunshine of the Spotless Mind”, 2004, a movie in which he was the main character, then yes, I always go back to the past with affection, and today I follow the news about his existence, but I'm not an audience for his movies, except for one that I really liked, mainly because it had a soundtrack by Phillip Glass: “The Truman Show”. I hadn't seen the movie Titanic either, I never liked to follow the crowd, and I had heard of Kate Winslet, only heard about her. I had abandoned film clubs, late-night sessions, new releases, classics, cult films, Hollywood stars and everything else. I have been living a silent cinematic diaspora since 1993, and with my last remarkable film, "The Piano", I stopped being a cinephile, a movie geek. Yes, I started living in books and movies early on, as soon as I learned to read. It's my mother's fault, who in her spare time would sit in front of the black and white television and watch a series called "Father Knows Best". Then came all the western films and when I grew up I started choosing my own series like The Waltons and others. I immersed myself in silent films like Sunrise by F.W. Murnau, Metropolis by Fritz Lang and so many others that will fill this page. How many people know who the inventors of the seventh art are? I can't stand series these days because they keep you glued to the screen for days and nights. I recently decided to watch two series, only to regret it and try to get them out of my mind like plagues. They are Cassandra and Adolescence. Cassandra is not even worth mentioning, and Adolescence is another fiction that is said to be based on real events, so real that the true story was turned upside down, always aiming for controversy and money for multi-millionaire producers like Brad Pitt. I feel bitter. I could be brief in my conclusions about the facts, but I don't want to, my mind is full of lives and words and I don't want to go through them in vague seconds. As if they were nothing. The film was released in 2004, and I can't imagine what I was doing in 2004. Maybe I wrote it down in my countless diaries, which are now kept in my old house in São Paulo. Maybe. I know that at the time I knew little about what was happening in the seventh art, because I had abandoned my childhood and teenage love. Although I still pored over Ingmar Bergman's films, the only one I carried with me, because I was in the process of getting to know my soul. It was around the beginning of the 21st century that I was called to take care of an 80-year-old woman who was in the terminal stage of an insidious and deadly vaginal cancer. There lived a man in the house, an Italian man named Giuseppe, almost 90 years old. After the woman's death, I took care of Mr. Giuseppe. On weekends he would receive visitors. And during these visits his two granddaughters would show up: Lara and Patricia. After talking to their grandfather, they would sit on the sofa in the huge living room and talk for hours on end, very excited and smiling. When I passed by them, I could hear something and I was surprised by what I heard, because they were very cultured, they didn't use slang or bad words in their words, they spoke as if they were ladies telling very interesting facts, and in my mind they sounded like stories by Camus, Hemingway, Proust or something like that, leaving me surprised and at the same time intrigued, because I needed to ask them something that would make me confirm that first impression. I couldn't miss the opportunity to find out who they were. I just needed to know what to ask them. And then the question popped into my mind. When I found myself face to face with one of them, I asked: Lara, what was the movie of your life? She didn't think twice and answered: Eternal Sunshine of the Spotless Mind. And she said something else about the movie that I don't remember anymore, because I wouldn't need to, I would just have to watch the movie. Which I didn't do, not in that decade. I never forgot the house and its inhabitants. And I hope that doesn't happen. I was forced to go on Facebook and search through names and photos of people who I now miss intensely and at the same time painfully, because there is a fog of time, longing and deaths. I always thought that we came to this world to miss them, until the year 2023 when I heard the main character of the movie Interstellar say: We came to this world to be ghosts of our children, words that I completely agreed with him. Interstellar was the second movie that made me go back to searching, like looking for a needle in a haystack, for good current movies, although no longer with the same intensity and mind-blowing passion of years ago.
Foi somente por volta de 2020, não lembro ao certo, sei que me encontrava no meio, ou seria no fim de 2022. Não sei porque motivo eu resolvi ver o filme, quase vinte anos depois. Resolvi porque nunca esqueci a casa, a família, os empregados e as garotas. Sim, foi por causa dela, aquela senhora idosa de nome saudade que dói tanto, uma dor funda que faz sentir a intensidade do que é um punhal no coração. Não, não tenho fotos que possa detalhar esses momentos. Naqueles dias eu não vivia com um telefone nas mãos, e muito menos imaginava que aqueles momentos seriam importantes no futuro em minha vida. Embora tudo esteja aqui no sótão empoeirado de minha mente e ao mesmo tempo tão novo, tão real, cheio de cheiros e sentimentos.
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Voltei a assistir o filme no final de 2024, isso porque a família da Rua Cincinato Braga situada no centro de São Paulo ainda habita dentro de mim. E foi em uma dessas lembranças que novamente o filme voltou e agora não mais por curiosidade, mas eu precisava ver o que estava por trás da historia do casal que poderia me fazer entender melhor a necessidade que a garota tinha para procurar um ato tão radical e tão abominável no meu entendimento, pois nunca gostei da palavra esquecimento, algo que lembra Alzheimer ou o pior, a lobotomia, cujo criador foi o medico neurologista português Antônio Egas Moniz. Na primeira vez só existia em mim o sentimento de: Meu Deus isso é um horror! Em 2024, sentada nessa cadeira de senhora, com a mente um pouco mais amadurecida, como uma cirurgiã fria fazendo novamente a viagem para os interiores da mente humana. Fui e naveguei em um barco no mar sereno, e fiquei feliz em saber que minha mente continuava a ter o mesmo brilho eterno com lembranças e rever o sr. Giuseppe em fotos e saber que o mesmo ultrapassou os 100 anos de idade, e pelo fim das fotos em seu aniversario creio que se findaram aos 102 anos. Algo parecido com o filme de Carlos Saura: "Mamá cumple cien años".
A dor da perda é o que move “Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças”
Luana, Paula, Olinda, Luciana, Giuseppe e Sueli Aduan minha adorável editora.
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