Pablo Neruda, John Keats, Cecilia, Lailin e uma canção na noite....
É de noite: medito triste e só
à luz de uma candeia bruxuleante
e penso na algeria e nos enganos,
na velhice cansada,
na juventude audaz e petulante.
Penso no mar, talvez porque no ouvido
ouço o tropel feroz de suas ondas:
estou bem longe desse mar temido
do pescador que luta pela vida,
da pobre mãe que tão sozinha o espera.
Não penso apenas nisso, penso em tudo:
no pequenino inseto que caminha
no lamacento açude
e no arroio também que, serpenteando,
deixa correr a águas cristalinas...
E quando a noite chega, e tão escura
como boca-de-lobo, então me perco
em pensamentos cheios de amargura,
sombreando a minha mente
na ilimitada idade das lembranças.
Extingue-se a candeia: seus fulgores
semelham os espamos de agonia
de um morimbundo.Amarelentas cores
novo dia anunciam , e com elas
se esvaem minhas aladas utopias.
Pablo Neruda
Tivesse eu tua imóvel cintilância,
Estrela, não sozinho na infinita
Noite, a mirar, em longa vigilância –
Da natureza insone, ermo Eremita –
As águas móveis em seu mister santo,
Puro, de abluir humanos litorais,
Ou vendo o suave, recém-caído manto
Da neve sobre outeiros e aguaçais –
Não! mas ainda firme, ainda imutável
Sobre o peito da amada em floração,
Para sempre sentir seu pulso amável,
Desperto, sempre, em doce inquietação –
E o meigo, meigo sopro surpreender
E sempre assim viver – ou perecer.
John Keats
Alta noite, lua quieta,
muros frios, praia rasa.
Andar, andar, que um poeta
não necessita de casa.
Acaba-se a última porta.
O resto é o chão do abandono.
Um poeta, na noite morta,
não necessita de sono.
Andar... Perder o seu passo
na noite, também perdida.
Um poeta, à mercê do espaço,
nem necessita de vida.
Andar... — enquanto consente
Deus que a noite seja andada.
Porque o poeta, indiferente,
anda por andar — somente.
Não necessita de nada.
Cecília Meireles
Comentários
Sua sensibilidade me contagia, adoru maninha.
bjão.
vc é 10 ou seria 1000?
te AMO!!!!!!!!!!!!!